N. 101 | 15 de Julho de 2014

 

Nova seção no Alerta

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

O professor Marcos Palacios (MP), da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Olival Freire (OF), do Instituto de Física da UFBA.

MP - Você é um Físico, com Licenciatura e Bacharelado em Física pela UFBA, Mestrado em Ensino de Física e Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo, além de pós-doutorados e estágios sênior em várias das mais prestigiosas universidades do mundo em seu campo de estudo. Tem um Prêmio Jabuti por seu livro sobre Teoria Quântica e suas implicações culturais. O que o levou a abraçar essa vertente da História, Filosofia e Pedagogia da Física como sua área de trabalho, a partir de sua formação inicial? Que influências estiveram presentes em tal escolha?

 

OF - Marcos, eu lhe agradeço a questão porque ela me permite um acerto de contas comigo mesmo. A minha opção por esta área resultou de uma combinação de circunstâncias, como quase tudo em nossas vidas. Eu nasci em Jequié e vim para Salvador com 15 anos cursar o secundário no Colégio Maristas. Ali eu compreendi que eu gostava muito de ciências, matemática em particular, mas também física, biologia e um pouco de química. Por isto optei por Engenharia Elétrica, na UFBa, porque era a engenharia que me parecia com mais carga de matemática e de física. Na universidade eu me desencantei com a Engenharia, muito por influência da falta de contato com os professores da Engenharia no primeiro ano do curso, e fui seduzido para a Física pelas aulas do Professor Benedito Pepe, que incluíam noções de física moderna, relatividade e estrutura da matéria, além de atividades de iniciação à pesquisa em laboratório dirigido por este professor. Um dia, eu já estava no segundo ano de Engenharia, ele me perguntou por que eu não mudava para a Física. Em menos de 24 horas eu me decidi, para desalento da minha mãe que não compreendeu a minha decisão. Eu espero que hoje a Politécnica cuide mais de seus alunos no primeiro ano porque só na minha geração foram quatro que abandonaram Engenharia para a Física. Então aqui está o primeiro elemento, o gosto pela física e pela matemática. O segundo elemento é que eu fiz uma carreira acadêmica tardia, comecei a me encaminhar seriamente para um mestrado quando eu já tinha 33 anos. A razão para tal atraso é que desde a graduação e até pouco depois do final do regime militar eu me dediquei intensamente à militância política, a ponto de descuidar da minha formação posterior à graduação. Não me arrependo, fiz parte de uma geração que contribuiu para a democratização do país. Quando eu me decidi a fazer um mestrado, em 1987, percebi que a minha paixão pela física tinha sido temperada com outros interesses e que eu me inclinava muito por temas ligados à história e filosofia das ciências e aos fundamentos da física. Estas inclinações tinham relação com a minha experiência de militante político, algo que só compreendi mais tarde, porque a participação política abria estes caminhos da reflexão histórica e filosófica. Contudo, ao buscar uma melhor definição dos temas de interesse eu fui muito influenciado por um curso de Mecânica Quântica ministrado pelo Professor Aurino Ribeiro, colega do IF-UFBa. Ali eu compreendi de maneira sistemática algo que eu antes compreendia muito vagamente. Tratava-se da existência de uma controvérsia científica, ainda atual, nos fundamentos da teoria física mais fundamental, a teoria quântica. Uma controvérsia que envolvia física, teoria e experimento, filosofia, história, ideologia e política. Eu me apaixonei pelo tema. Foi a minha segunda paixão intelectual, já que a primeira havia sido com a física. O bom desta paixão tardia é que eu não precisei abandonar a anterior.  Daí para a frente tudo dependeu de mais circunstâncias, relacionadas a onde e como fazer um mestrado com este tema. Eu fui muito feliz de ter sido acolhido pela Profa. Amélia Hamburger (1932-2011), no Instituto de Física da USP, uma sugestão que me veio da minha colega Cristina Penido. Feliz porque Amélia aceitou orientar uma dissertação que era basicamente em história e epistemologia dentro de um mestrado em ensino de física. Ainda sobre influências, na minha saída da UFBA para a USP eu contei com o apoio decisivo de dois colegas, Judite e Paulo Miranda.

 

“A pesquisa em ensino de física surgiu como decorrência do meu retorno à UFBa, motivado pela relevância social da melhoria do ensino de física”

 

 Ao trabalhar com Amélia comecei uma segunda etapa na minha formação. Em São Paulo eu ainda me envolvi fortemente com a militância política, participando da campanha que elegeu Luiza Erundina Prefeita de São Paulo e da primeira campanha presidencial de Lula. No fim do mestrado eu compreendi que um doutorado bem feito ia requerer um redirecionamento na minha vida, reduzindo a militância política ainda que sem mudar as minhas convicções. Eu tive como um dos orientadores no doutorado o Professor Michel Paty, Pesquisador do CNRS francês e visitante na USP, o qual, junto com Amélia, foram os responsáveis pelos valores cognitivos e éticos que incorporei na minha vida de pesquisador. Com Amélia aprendi, por exemplo, a não misturar a atividade acadêmica com proselitismo político. Ela dizia que havia aprendido isto com Mario Schenberg. Com Michel aprendi que poderia combinar a sensibilidade para as questões conceituais e filosóficas com as questões históricas e sociais. Esta combinação não era trivial face às clivagens que tomavam conta da história da ciência como disciplina acadêmica. Michel Paty ainda me ajudou de outra maneira. Como Professor Visitante na UFBa, em 1995, ele nos ajudou a nuclear o grupo que depois criaria o Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências.

Uma última flexão na minha vida acadêmica ocorreu na última década, quando eu iniciei uma relação de interação mais forte com colegas norte-americanos, sem prejuízo das relações que mantenho com os colegas franceses. Aqui também teve um pouco de circunstância. O projeto de pesquisa ao qual eu me dediquei, entender as transformações ocorridas na controvérsia sobre os fundamentos da teoria quântica, dependia de consulta a arquivos que estavam nos EUA. Além disto, eu fui sensível a uma recomendação do João Reis, nosso colega da História da UFBa. Ele havia me dito que com os temas que eu havia trabalhado no doutorado, vida e obra do físico David Bohm, eu precisava publicar em inglês para ter uma audiência mais diversificada capaz de ler e criticar o que eu escrevia. Até aquele momento eu privilegiava publicações em português e francês. A experiência com os colegas norte-americanos tem sido muito frutífera. Aprendi muito com colegas como Paul Forman, David Kaiser, Sam Schweber, e Joan Bromberg, que veio ao Brasil duas vezes e é co-organizadora do livro que você fez referência. A propósito deste livro, ele foi co-organizado também por Osvaldo Pessoa Junior. Conheci Osvaldo em São Paulo, ele ensinou na Bahia por dois anos e depois fez concurso na USP. Tenho uma colaboração com ele em muitos projetos. Para a formação dos meus alunos esta relação com os europeus e norte-americanos tem sido decisiva. Em conferência dedicada a jovens acadêmicos em história da física este ano em Washington, no American Institute of Physics, cinco participantes tinham sido, ou ainda eram, meus alunos, isto em um total de uns 30 participantes.

Por fim, a pesquisa em ensino de física surgiu como decorrência do meu retorno à UFBa, motivado pela relevância social da melhoria do ensino de física. Esta pesquisa guarda relação com a anterior porque tenho trabalhado sobre o ensino de mecânica quântica e sobre os usos da história e da filosofia no ensino de ciências. Meus colaboradores neste tema têm sido Ileana Greca, hoje em Burgos, Marco Antonio Moreira e Elder Teixeira, que foi meu aluno de doutorado.

 

 

MP - Sua área de pesquisa e atuação colocam-no indiscutivelmente no que poderíamos denominar um “lugar transdisciplinar" da investigação acadêmica. A inter e a transdisciplinaridade tornaram-se palavras-chaves obrigatórias no vocabulário universitário, nas últimas décadas. Por outro lado, ocorreu também o que para mim parece ser uma vulgarização das aproximações trans-epistêmicas, com reiteradas (e superficiais) referências à Teoria do Caos e aos Quanta, no âmbito das Ciências Humanas. Você concorda que tem havido muita simplificação e até fraudes, nessas tentativas simplificadoras de aproximação de sistemas epistemológicos distintos? Até que ponto podemos falar de operacionalização conjunta ou paralela de sistemas epistêmicos distintos, em nossos esforços de compreensão do mundo que nos cerca?

 

OF - Certamente. Você tem toda razão. O caso Alan Sokal teve este ponto de partida, uma paródia e um embuste com o uso da terminologia das ciências físicas nos estudos culturais, embora depois tenha degenerado para uma guerra entre ciências da natureza e humanidades, sem saldos positivos. Particularmente, eu sou bastante cauteloso e acho que o que pode ser feito corretamente é a exploração de analogias e metáforas - inspiradas em conceitos de dada ciência – em um outro campo científico. Contudo, como toda analogia, ela só se revela eficácia se o seu uso no novo contexto aumenta o nosso entendimento dos fenômenos em questão. Caso contrário fica um palavreado vazio e que pode chegar a fraudes intelectuais. Um bom exemplo do uso adequado destas analogias e metáforas é o livro “Paisagens da História”, do historiador John Gaddis. Este tópico foi objeto de comentário mais estendido em um livro – “Ciências na transição do século” – que sairá pela EDUFBa ainda este ano. Por outro lado, muitos acadêmicos nas ciências da natureza e nas humanidades, têm hoje uma elevada expectativa sobre os estudos da complexidade. Eu sou, de novo, mais cauteloso. Os estudos da complexidade têm trazido resultados importantes em áreas específicas, particularmente em ciências da natureza e da informação, mas não podem ser apresentados como um novo paradigma da ciência. Não que a ciência tal qual existe hoje não possa sofrer uma mudança paradigmática, mas os estudos da complexidade ainda não mostraram muita força na compreensão de fenômenos sociais ou das humanidades, por exemplo.

 

“Os estudos da complexidade têm trazido resultados importantes em áreas específicas, (...) mas não podem ser apresentados como um novo paradigma da ciência.”

 

 

MP - O curso de Física registra um dos maiores índices de evasão dentre os cursos universitários. Costuma-se dizer que é muito fácil ingressar em um curso de Física, dada a baixa relação candidato/vaga, mas dificílimo sair dali com um diploma. A que você atribui esse alto índice de evasão e que conselhos você daria a um(a)  jovem vestibulando(a)  que se sentisse inclinado(a) a buscar o Instituto de Física, ao invés de um curso de Engenharia, dilema que parece ser recorrente dentre os que se defrontam com a escolha de um curso universitário e a perspectiva de uma carreira nas áreas das Ciências Físicas e Matemáticas?

 

 

OF - O problema essencial da evasão do curso de Física, e também das Licenciaturas em geral, é o baixo salário do professor da escola pública secundária e a inexistência de uma carreira que pelos salários e pela perspectiva de progressão, atraia jovens talentosos. O curso de Física é exigente, mas o estudante não percebe que este esforço vai lhe levar a uma colocação profissional, e por isto desiste. No Instituto de Física da UFBA nós conseguimos reduzir a evasão na última década, mas dos licenciados que saem poucos ficam na escola pública. Nós temos e devemos continuar lutando para melhorar a formação dos licenciados já formados. Eu integro, por exemplo, um esforço da Sociedade Brasileira de Física para a oferta de um Mestrado Profissional Nacional em Ensino de Física cuja primeira turma já está em funcionamento. Acho o programa PIBID da CAPES e suas bolsas um programa altamente meritório. Mas sem a mudança na carreira e nos salários isto deixará poucos resultados. Minhas esperanças hoje estão no novo Plano Nacional de Educação que tem como uma de suas metas assegurar ao licenciado salário inicial equivalente ao de profissional com o mesmo tempo de formação universitária. Mas, implantar o PNE é uma luta, que vai durar anos, e poderá ter retrocessos.

 

“O curso de Física é exigente, mas o estudante não percebe que este esforço vai lhe levar a uma colocação profissional, e por isto desiste.”

 

Quanto ao jovem que goste de Física, o meu conselho é mais simples e direto. Não pensem duas vezes, façam Física. Pode parecer contraditório com o que acabei de dizer mas não é. Primeiro porque profissão boa é aquela que você faz bem e com gosto, se possível com paixão. Segundo porque o número de físicos, bacharelado e licenciatura, formados no país é tão pequeno comparado com as necessidades e mesmo as oportunidades, que posso afirmar que um físico bem formado não ficará desempregado. Todos os meus colegas de graduação terminaram se colocando adequadamente em termos profissionais.

 

ACERVO

 

Engenheiro Sanitarista

Profissional responsável pelo diagnóstico, elaboração e coordenação de projetos de saneamento básico e obras sanitárias. Fiscalizam, ampliam e fazem manutenção de projetos que melhorem a qualidade de vida da população. A principal função do engenheiro sanitarista é preservar a qualidade da água, ar e solo. Avalia o impacto de grandes obras sobre o meio ambiente para prevenir a poluição de mananciais, rios e represas. O engenheiro sanitarista pode ainda monitorar o ambiente marinho e costeiro, atuando na prevenção e controle de erosões em praias. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

Por menos lixo: a minimização dos resíduos sólidos urbanos na cidade do Salvador/Bahia

Azevedo, Gardênia Oliveira David de

 

Padrão quali-quantitativo do descarte de águas residuárias em áreas carentes: um estudo no Alto do Bom Viver em Salvador

Assunção, Dilma Maria Santos

 

Gestão comunitária de resíduos sólidos domiciliares com ênfase na fração orgânica e os impactos gerados na comunidade:o exemplo de Plataforma em Salvador, Bahia

Correia, Sandro dos Santos

 

Contribuições para a integração dos sistemas de gestão ambiental, de segurança e saúde no trabalho, e da qualidade, em pequenas e médias empresas de construção civil

Carneiro, Sérgio Quixadá

 

Influência da topografia e do sistema viário na coleta domiciliar dos resíduos sólidos urbanos em áreas com diferentes padrões de renda: estudo na cidade de Salvador, Bahia

Guermandi, Karine Fernanda

 

Comércio

Baseado na troca de produtos. Antigamente, as trocas eram feitas por produtos de valor desconhecido. Com a invenção do dinheiro, o comércio passou a se desenvolver. Independente do dinheiro, é a oferta e procura por mercadorias ou serviços que permite a existência do comércio. Está relacionado com a economia formal, que é a firma registrada dentro da lei, ou à informal, que são firmas sem registros que não pagam impostos. O comércio pode ser realizado entre países, chamado de comércio exterior. Nesse caso, o país se organiza para importar e exportar. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre aos quais:

A liberalização do comércio agrícola na Rodada Doha e suas conseqüências sobre o desenvolvimento econômico brasileiro

Oliveira, Ivan Tiago Machado

 

A ocupação da mão-de-obra em Feira de Santana: o caso do comércio varejista de alimentos na rede G. Barbosa

Souza, Manoel Carlos Dos Santos

 

O comércio varejista no Brasil e suas estratégias de financeirização

Ledo, Tetsmara Junqueira

 

O comércio de laranja de beira de estrada realizado na BR 101 – Trecho Cruz das Almas – Sapeaçu

Lima, Marcela Souza

 

A atividade comercial nos espaços de Salvador: uma análise sobre o comportamento do comércio no bairro da Calçada e adjacências na década de noventa

Rocha, Rogério de Oliveira Costa da

 

Rock

Também com a grafia “roque”, é um termo abrangente que define um gênero musical bastante popular, desenvolvido durante e após a década de 1950. Tem raízes no rock and roll e no rockabilly que surgiram nos Estados Unidos, no final dos anos 1940, resultado da evolução do blues, do country e do rhythm and blues. O som do rock costuma girar em torno da guitarra elétrica ou violão, utilizando um forte contratempo estabelecido pelo ritmo do baixo elétrico, da bateria e do teclado. Alguns dos subgêneros mais conhecidos do rock são: folk rock, blues rock, hard rock, rock progressivo, punk rock, heavy metal, punk, grunge e o indie rock. No dia 13 de julho é comemorado o Dia do Rock. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre aos quais:

Práticas da escuta do Rock: experiência estética, mediações e materialidades da comunicação

Cardoso Filho, Jorge L. C.

 

Guia Produção do Rock em Salvador: Aplicativo para iPhone

Vitorino, Carla Matos

 

A prateleira do Rock Brasileiro: uma análise das estratégias midiáticas utilizadas nos discos de Rock Brasileiro nas últimas cinco décadas

Dantas, Danilo Fraga

 

A música faz o seu gênero: uma análise sobre a importância das rotulações para a compreensão do indie rock como gênero

Gumes, Nadja Vladi Cardoso

 

Alerta circula semanalmente, às terças-feiras, sob a coordenação de Flavia Garcia Rosa (Edufba) e Rodrigo Meirelles (RI/PROPCI). A execução está a cargo de Bernardo Machado, Évila Santana Mota (estagiários do Repositório Institucional). A revisão é de Tainá Amado (estagiária do Repositório Institucional). O design gráfico é de Gabriela Nascimento e Laryne Nascimento (Edufba). A divulgação está a cargo de Camila Fiuza (estagiária da Edufba).