N. 102 | 22 de Julho de 2014

 

Nova seção no Alerta

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

O professor  Maurício Barreto (MB), do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Marcos Palacios (MP), da Faculdade de Comunicação da UFBA.

 

MB - Sua graduação foi em sociologia na Universidade de Liverpool (Reino Unido), tendo você obtido na formatura o almejado “First Class Honours”. Você poderia comentar sobre este sistema de ranking prevalente nas universidades britânicas?

 

MP - O sistema de Honours é um modelo de classificação de mérito dos diplomas de graduação, que teve origem em Cambridge, no século XVI, e gradativamente estendeu-se para todo o sistema britânico. Trata-se, basicamente, de uma distinção de mérito acadêmico, que separa um Ordinary Degree de um Honours Degree, numa avaliação que é feita levando-se em conta o conjunto das disciplinas cumpridas.

Quando completei minha graduação, em 1975, obter um First Class Honours era considerado uma grande honraria, pois menos de 5% dos graduados chegavam a esse patamar. Como fiz todos os meus estudos universitários e iniciei minha carreira docente no Reino Unido, tive a oportunidade de verificar que, em muitas ocasiões, o peso do First Class Honours, em meu CV, excedia o do Ph.D. Afinal, o Ph.D.  era o título que todos os candidatos a um concurso ou edital tinham em comum e o First Class  Honours acabava por ser um fator diferenciador e até mesmo determinante. No meu caso, o First chamava ainda mais atenção pelo fato de eu não ser britânico, tendo cursado a Universidade e obtido a distinção em uma língua estrangeira.

 "Obter um First Class Honours era considerado uma grande honraria, pois menos de 5% dos graduados chegavam a esse patamar".

 

Atualmente detecta-se uma tendência a uma certa “inflação” de Firsts, com cerca de 15% dos graduados chegando a esse patamar, segundo dados da Higher Education Statistics Agency da Grã-Bretanha.

 

MB - O seu doutorado (concluído em 1979, também na Universidade de Liverpool) foi em Sociologia do Desenvolvimento  com a tese “Social Property in Peru: an Interpretation and Assessment of an Alternative Model of Development”. Quando e em que circunstâncias ocorre a mudança para sua atual área de pesquisa: Webjornalismo, Jornalismo Comparado e Novas Tecnologias de Comunicação.

 

MP - Minha carreira acadêmica começou na Inglaterra, em 1972, mas antes disso, em Salvador, eu já havia exercido atividades jornalísticas, tenho participado da equipe fundadora do jornal Tribuna da Bahia, no qual trabalhei entre 1969 e 1972, tendo como mestre o jornalista Quintino de Carvalho, que naquela época comandou uma verdadeira revolução na comunicação jornalística na Bahia.

Durante meu curso de Sociologia, na University of Liverpool, mantive um interesse paralelo pelos processos midiáticos, que se refletiu posteriormente em um dos capítulos de minha tese doutoral que, apesar de tratar de aspectos de transformações em sistemas de propriedade social no Peru, continha uma discussão sobre a forma pela qual a imprensa peruana havia acompanhado e reportado as medidas do chamado Governo Militar Revolucionário do General Velasco Alvarado, nos inícios dos anos 70.

Quando retornei ao Brasil, em 1982, e fui trabalhar como docente e pesquisador no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará estabeleci também uma área de interesse em Sociologia da Comunicação, através de cursos ministrados no Departamento de Sociologia daquela Universidade.

Ao me transferir para a Faculdade de Comunicação (FACOM) da Universidade Federal da Bahia, em 1986, abracei definitivamente a linha de pesquisa em Jornalismo, buscando uma junção entre Jornalismo e Novas Tecnologias de Comunicação. Juntamente com o Prof. André Lemos, criamos na UFBA o primeiro grupo de pesquisa em Cibercultura no Brasil e posteriormente, com o Prof. Elias Machado, criamos o GJOL, um grupo pioneiro no estudo do Ciberjornalismo. A FACOM teve um jornal laboratório online – o Lugar Incomum - antes que os jornais comerciais da Bahia lançassem suas edições na Internet.

 

MB - Sendo um estudioso do campo do Webjornalismo e de Novas Tecnologias de Comunicação, como você resumiria o impacto que a web e outras novas mídias estão tendo nos meios de comunicação e, em especial, na democratização do acesso e do  conteúdo?.

 

MP - Creio que o impacto mais importante esteja na possibilidade que se abriu para que o cidadão comum produza conteúdos. Trata-se daquilo que em Cibercultura é conhecido como “a liberação do polo emissor”, quando a Comunicação é pensada como formada por polos de emissão e recepção. É importante frisar que, diferentemente de mídias anteriores de caráter “democratizantes” ou de “empoderamento”, como o gravador cassete, o Super 8 e o vídeo, a Internet trouxe consigo também o canal para a circulação (ou mais rigorosamente para a disponibilização) do material produzido pelo usuário. Esse fenômeno de produção de conteúdos e de auto-expressão ampliada pode ser observado, em seu percurso histórico, nas “página pessoais” da web (alguém se lembra do Geocities?), nas Listas de Discussão, nos blogs e mais recentemente nas chamadas Redes Sociais, como o falecido Orkut, o Twitter e o Facebook.

No entanto, a despeito de todas as possibilidades abertas pelo “jornalismo cidadão”, uma visão mais realista do fenômeno vai mostrar-nos que ele tem mais peso em termos de produção de um jornalismo hiperlocal ou com foco em grupos bem localizados. Para nossa informação geral - local, nacional e internacional - continuamos a depender do jornalismo que se faz profissionalmente, na chamada “grande imprensa”. Há uma questão de amplitude de cobertura e centralização da informação em um só espaço, que não pode deixar de ser considerada. Ainda que haja muita informação de qualidade na Internet, fora dos grandes circuitos de mídia, ela se encontra espalhada, dispersa. Uma consulta aos sites da grande imprensa, a cada manhã, continua sendo a forma mais prática e eficaz de se ter uma “ideia geral” do que ocorre no mundo. Depois disso, podemos é claro passear por todos os sites “alternativos” e especializados de nossa preferência.  Como disse o pesquisador francês Dominique Wolton, dificilmente alguém pode ser,a cada manhã, seu próprio editor-chefe. Os profissionais do jornalismo, a despeito do que se prognosticava, tem um lugar de importância crescente em um mundo cada vez mais saturado de informação. Aliás, têm importância crescente todas as profissões que de uma forma ou de outra estejam associadas à filtragem, agregação e preservação de informação.

Por outro lado, está colocada a questão da credibilidade associada às logomarcas de grandes jornais do mundo. Independentemente de sua ideologia política, os grandes jornais, ao transformarem informação em mercadoria, sabem que estão lidando com tipo muito especial de mercadoria e a veracidade da informação é um elemento essencial para a preservação de sua clientela de consumidores. Um jornal pode posicionar-se à esquerda, ao centro ou à direita do espectro político, mas não pode inventar notícias, sob risco de perder sua credibilidade e portanto seu público.

Isso tudo não exclui o fato de que os consumidores de notícia tiveram sua participação em produção de informação enormemente acrescida com o advento das tecnologias digitais, como não exclui o fato de que tais consumidores ganharam um enorme poder em termos de monitoramento do que é produzido e circulado pela grande imprensa.

 

MB - No mundo acadêmico temos visto acalorados debates sobre  o acesso aberto (open access) e a revisão de pares (peer review) das publicações científicas, gostaria que comentasse sobre estes temas polêmicos.

 

MP - Não sou especialista em tais questões, mas por razões ideológicas defendo  sempre a ideia de que  “a informação tem que ser livre”. Ainda mais premente se faz tal consigna quando o conhecimento é gerado com alto aporte de recursos públicos, como no caso do Brasil e de grande número de países em todos os continentes.

 A Ciência se faz - e sempre se fez – de maneira coletiva, por incrementos graduais, a partir do acúmulo de conhecimentos e de percepção do “estado da arte” em cada área. Apesar do mito do gênio que revoluciona a Ciência e das imagens cinematográficas do “cientista louco” isolado em seu laboratório - hoje substituídas pela ficção do nerd - grandes rupturas não são a regra.  O avanço científico se faz fundamentalmente através do “trabalho de formiga” para o qual concorrem todos os pesquisadores na construção do arcabouço dos conhecimentos  de uma determinada época.

 Há empresas ganhando muito dinheiro  com a circulação restrita e paga da informação científica, impedindo que pesquisadores menos aquinhoados financeiramente tenham acesso a investigações  de ponta, que poderiam em muito contribuir para a excelência  de seus próprios trabalhos.

Obviamente, o acesso pago e restrito afeta muito mais diretamente os pesquisadores de países menos ricos. Iniciativas como o Portal de Periódicos da CAPES são importantíssimas, mas apenas um paliativo, já que o governo – e portanto todos os cidadãos -  tem que arcar com custos altíssimos e o número de periódicos incluídos na base de dados é sempre necessariamente limitado. Jornais acadêmicos de comprovada qualidade e em livre acesso, como encontramos no Scielo, por exemplo, deveriam ser o padrão e não a exceção.

Evidentemente produzir jornais acadêmicos de qualidade implica em custos e em custos nada desprezíveis.  Em última instância, deveriam ser os custos de produção e não os custos de acesso que deveriam ser socialmente rateados.

Quanto ao peer review, apesar de todas as críticas a esse sistema, ainda não vislumbro forma mais eficiente de julgar a qualidade de material acadêmico produzido. A prestigiosa Editora Sage acaba de informar que está “despublicando” 60 artigos em seu  Journal of Vibration and Control, revista na qual saíram, nos últimos quatro anos, artigos de Chen-Yuan Chen , um pesquisador de Taiwan que criou uma rede de cientistas com nomes falsos e verdadeiros--cujas identidades ele assumia. Em pelo menos um caso, Chen, que também usa como primeiro nome Peter, revisou um artigo próprio utilizando um de seus pseudônimos. O sistema é certamente vulnerável, mas o próprio fato de que as fraudes sejam identificadas, reforça sua validade. Encontraremos algo melhor?  O futuro dirá.

 

ACERVO

 

Escritor

Pessoa que produz textos escritos, de qualquer gênero literário. Suas obras podem ter diversos destinos, tais como a publicação em livros, adaptação ao teatro, cinema e televisão. Para ser considerado profissional, o escritor deve ter obras publicadas; se não as tiver, é denominado escritor amador. Não necessitam de uma formação acadêmica específica para essa profissão. A única condição é a de que saibam escrever de forma coesa e coerente. Podem escrever seus textos tanto em forma de prosa ou poesia. No Brasil, podem-se citar muitos exemplos de escritores considerados célebres, como Machado de Assis, Clarice Lispector e João Ubaldo Ribeiro. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

Vozes femininas nos cadernos negros: representações de insurgência

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/8355

Palmeira, Francineide Santos

 

Máquina de [re]escrever: processos de reciclagem cultural na obra metabiográfica de Ana Miranda

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/8559

Macedo, Anne Greice Soares Ribeiro

 

Singularidades narrativas: uma leitura dos contos de Eça de Queirós

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11453

Fahl, Alana de Oliveira Freitas El

 

Jacinta Passos: coração militante

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/1069

Amado, Janaína

 

Roberval Pereyr em suas faces e interfaces

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/12038

Bastos, Nildecy de Miranda

 

Colonização de exploração

Método onde prevalecem os interesses de um país em explorar recursos naturais do território colonizado. As colônias foram utilizadas para darem lucros ao país colonizador. Um exemplo de colônia de exploração é o Brasil, dado que a Coroa Portuguesa percebeu o potencial de lucro dos recursos naturais brasileiros e a mão de obra indígena. Do ponto de vista econômico, uma colônia visa explorar, de imediato, as regiões mais favorecidas para atividades agrárias rentáveis. Sendo a lucratividade o interesse principal, foram desenvolvidas várias técnicas que caracterizaram esse sistema de colonização, sendo uma dessas técnicas o plantation. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

Colonização e resistência no Paraguaçu – Bahia, 1530 – 1678

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11242

Neves, Juliana Brainer Barroso

 

A influência da igreja católica na educação brasileira: da companhia de Jesus ao ensino superior

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9252

Sá, Bruno Vivas

 

Da catequese à civilização: colonização e povos indígenas na Bahia (1750-1800)

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11613

Santos, Fabricio Lyrio

 

De projeto a processo colonial: índios, colonos e autoridades régias na colonização reformista da antiga capitania de Porto Seguro (1763-1808)

http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/13311

Cancela, Francisco Eduardo Torres

 

O humano, o selvagem, o civilizado: discurso sobre a natureza em Moçambique colonial, 1876-1918

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/8839

Coelho, Marcos Vinícius Santos Dias

 

Agricultura

Conjunto de técnicas utilizadas no cultivo de plantas, com o objetivo de obter alimentos, energia, fibras, matéria-prima para roupas, construções, medicamentos, ferramentas e também para a contemplação estética. A agricultura é uma atividade antiga, com seu início separando o período neolítico do imediatamente anterior, o período da idade da pedra lascada. A palavra agricultura vem do latim agricultura, comporsto por ager (campo, território) e cultūra (cultivo), no sentido estrito de cultivo do solo. No dia 28 de julho é comemorado o Dia do Agricultor. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

A agricultura familiar e o caso Coopera no Litoral Norte da Bahia

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11434

Otterbach, Salete Margarida de M

 

O impacto da agricultura no crescimento do comércio na cidade de Irecê: análise da década de oitenta aos dias atuais

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/12377

Moura, Adriana Maria

 

O léxico da agricultura na interação verbal.

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11460

Oliveira, Simone Maria Rocha

 

Agricultura familiar: perfil dos sistemas de produção da localidade Juazeiro, Irará –BA

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9761

 

Souza, Guilherme Cerqueira Martins e

 

Inovação e progresso técnico: a contróversia das plantas transgênicas

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/12251

Maia, Tie Kawabe Perrelli

 

Alerta circula semanalmente, às terças-feiras, sob a coordenação de Flavia Garcia Rosa (Edufba) e Rodrigo Meirelles (RI/PROPCI). A execução está a cargo de Bernardo Machado, Évila Santana Mota (estagiários do Repositório Institucional). A revisão é de Tainá Amado (estagiária do Repositório Institucional). O design gráfico é de Gabriela Nascimento e Laryne Nascimento (Edufba). A divulgação está a cargo de Camila Fiuza (estagiária da Edufba).