N.105 | 12 de Agosto de 2014
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
O professor Ronaldo Lopes Oliveira (RO),da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Edward MacRae (EM) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
(RO) - Prof. Edward, sua tese de doutorado, construída na primeira metade da década de 1980, trata de um tema instigante, especialmente pela de transição política que o país passava, associada ao surgimento do HIV no mundo, tendo os homossexuais como “grupo-vítima preferencial”. Como foi pesquisar esse assunto naquele contexto e o que mudou para os dias de hoje?
(EM) - No final da década de 1970, quando iniciei minha pesquisa sobre o incipiente movimento gay de São Paulo, ainda fazendo um curso de mestrado em antropologia na Unicamp, tive como orientador Peter Fry, na época uma das poucas referências nas ciências sociais brasileiras para o tema “homossexualidade”. Além de dois artigos seus sobre a construção social da homossexualidade e sobre a homossexualidade e os cultos afro-brasileiros, era difícil encontrar material bibliográfico brasileiro discutindo o tema. Além da estigmatização pessoal em que se incorria por demonstrar interesse pelo tema devia-se enfrentar aqueles que declaravam ser esse assunto secundário e pouco relevante. Quando eu dizia que ia estudar o movimento gay, professores e colegas frequentemente diziam que seria mais relevante estudar o sindicalismo ou outros assuntos que fossem mais politicamente relevantes e envolvessem mais gente. Lembro que na época o próprio tema “movimentos sociais” era algo bastante novo. Mas, graças ao prestígio de Peter Fry e de outros pesquisadores e professores da UNICAMP, como Marisa Correa, por exemplo, senti-me respaldado para continuar minha pesquisa. Mais adiante, passei para a USP, onde acabei apresentando minha pesquisa como tese de doutorado em antropologia. Até meados da década de 1980, a AIDS ainda não se apresentava como grande ameaça no Brasil, e continuei tendo que justificar a relevância de minha pesquisa. Contava agora como o apoio de minha nova orientadora, Eunice Durham. Uma vez que a AIDS se manifestou entre nós, o assunto começou a receber mais destaque, já que os homossexuais eram um dos grupos mais atingidos pela doença, e as políticas de prevenção precisavam do apoio dos membros da comunidade gay para difundirem as orientações de prevenção. Eles também se engajaram em ONGs voltadas para o atendimento das necessidades dos doentes de AIDS, fossem eles gays ou não. Nessa época, tive a oportunidade de participar da fundação do Grupo de Apoio e Prevenção à Aids-GAPA/SP.A partir de então, o tema ganhou mais respeitabilidade e surgiram novas fontes de financiamento, oriundas geralmente dos empréstimos feitos pelo Banco Mundial. Hoje o tema agora conhecido como “diversidade sexual” já ganhou respeitabilidade acadêmica e política, causando menos estranheza e rejeição, embora grupos conservadores de natureza eminentemente religiosa continuem a obstaculizar iniciativas parlamentares que visam a maior inclusão da população LGBT.
(RO) - Ao analisar o seu itinerário profissional fica evidente sua preocupação com problemas sociais que afetam profundamente nossa sociedade, principalmente nossos jovens, como é o caso das DST e o uso/abuso das drogas (lícitas ou ilícitas). Também levando em conta sua vasta experiência internacional, que direção você acha que nosso país deve tomar para enfrentar a questão da dependência química e da violência associada ao mundo das drogas, de maneira mais racional e assertiva?
(EM) - Acredito que uma das mais importantes medidas que se possa tomar para enfrentar os problemas de violência e de segurança pública em geral seja a reformulação das políticas proibicionistas sobre drogas do Brasil. Em lugar de priorizar a abstinência total e a perseguição de usuários, produtores e comerciantes de uma série de substâncias declaradas ilícitas, cujo uso é procurado por significativos setores da população, enquanto se promove o uso de outras, de igual potencial para causar danos à saúde, como o álcool ou o tabaco, faríamos melhor em dar mais ênfase à educação para a saúde e às políticas de redução de danos. Em casos como esse, os controles sociais informais, profundamente arraigados na cultura e exercidos muitas vezes por pares, são mais eficazes que os formais, de atuação mais pontual. A atual “guerra às drogas” já dura muitas décadas e não tem resolvido nem de longe a questão. Fica-se com a sensação de que se procura “enxugar gelo”, sem atingir nenhum dos resultados propostos. Vivemos atualmente numa situação de “liberou geral”, em que qualquer jovem, por exemplo, pode facilmente ter acesso a uma vasta gama de substâncias ilícitas, sem nenhum controle de qualidade ou de preço. O mercado paralelo de drogas ilícitas é uma das maiores atividades econômicas do planeta e a riqueza clandestina que gera é capaz de corromper as estruturas policiais, jurídicas e políticas até de democracias consolidadas primeiro mundistas como os Estados Unidos e a Itália, por exemplo. Um dos seus piores resultados entre nós tem sido o inchaço da população carcerária e suas repercussões sociais, com destaque para uma verdadeira guerra genocida travada contra a população negra, cujos jovens são suas vítimas preferenciais. Sempre é bom lembrar que o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, onde rapazes negros aparecem de forma absurdamente desproporcional. Grande parte deles é acusada de delitos relacionados ao uso e tráfico de drogas. Outra mudança que deve ser feita na maneira como se enfrenta a questão das drogas é de se retirar o protagonismo atribuído às substâncias, para procurar enfocar o problema de forma mais ampla levando em conta fatores de natureza psicológica, social e cultural. Afinal, hoje, os estudiosos da questão enfatizam que somente a partir de uma abordagem mais geral é que se pode resolver de maneira eficiente os problemas sociais e pessoais relacionados ao uso de substâncias psicoativas. A exigência de abstinência é deixada em segundo plano, e usuários na “ativa” não devem ser excluídos dos programas públicos. Um exemplo interessante dessa nova abordagem está sendo pesquisado por um doutorando sob minha orientação que estuda o programa desenvolvido pelo Município de São Paulo em relação à sua “cracolandia” e conhecido como “Braços Abertos”. Lá entende-se que, antes de esperar uma mudança na relação do sujeito com as drogas que consome, deve-se reforçar a sua estrutura de vida, proporcionado- lhe uma moradia decente, embora simples, e um emprego. É claramente inviável exigir que um morador de rua usuário de crack, por exemplo, abandone suas práticas mais danosas, antes mesmo de receber algum tipo de tratamento e de auxílio com os problemas de natureza social ou sanitária para os quais o uso abusivo de psicoativos pode se configurar como uma forma de automedicação, para amortecer seu sofrimento perante a vida em geral.
(RO) Dentre os prêmios com os quais você foi agraciado, chama atenção aquele em que você figura como um dos “100 nomes que fizeram a história da luta contra a AIDS no Brasil, Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS”. Por favor, fale-nos um pouco mais sobre esta premiação e a trajetória de seu trabalho que culminou em tal reconhecimento.
(EM) - Esse prêmio, oferecido pelo GAPA/SP, me deixou muito lisonjeado, embora eu reconheça que seja um pouco arbitrário escolher “cem nomes” para premiar. E os outros? A luta de enfrentamento ao HIV congregou milhares de pessoas que dedicaram a ela grande parte de suas vidas dentro e fora do escopo puramente profissional. Todos eles mereceriam algum tipo de atenção. Dito isso, acredito que meu nome recebeu destaque devido a minha militância inicial, buscando evitar que a pandemia de AIDS levasse a um retrocesso nas conquistas políticas da população gay. Posteriormente, dediquei-me à defesa e divulgação de medidas de redução de danos, e não estritamente repressivas em relação à população usuária de drogas injetáveis, que inicialmente se revelou um importante foco de disseminação do HIV para a população em geral. Durante esse tempo, tive ainda a oportunidade de defender a dignidade de homossexuais, usuários de drogas e pessoas vivendo com AIDS. Foi uma situação trágica, em que perdi inúmeros amigos e até um irmão, mas fiquei satisfeito de poder usar minhas habilidades acadêmicas e um certo prestígio que elas me proporcionaram nos meus esforços para lutar por uma sociedade menos preconceituosa e mais justa.
ACERVO
Anemia falciforme
Doença genética e hereditária, caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue, tornando-os parecidos com uma foice, por isso o nome falciforme. Essas células têm sua membrana alterada e rompem-se mais facilmente, causando anemia. Manifesta-se de forma diferente em cada indivíduo. Alguns de seus sintomas são: dores articulares, fadiga intensa, palidez e icterícia. O diagnóstico é feito através da eletroforese de hemoglobina e também pode ser feito com o exame do pezinho, logo após o nascimento da criança. Até o momento não há tratamento específico para anemia falciforme, pois ainda não se conhece a cura. Os portadores precisam de um acompanhamento médico constante para prevenir infecções e controlar as dores. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Con[vivendo] com a anemia falciforme:o olhar da enfermagem para o cotidiano de adolescentes
A importância da triagem neonatal e do aconselhamento genético na doença falciforme
Perfil nutricional de pacientes adultos com anemia falciforme
Experiências reprodutivas de mulheres com anemia falciforme
Economista
É um profissional que busca compreender, modelar o prever o comportamento dos indivíduos, instituições e os fenômenos econômicos. Ele estuda, desenvolve e aplica teorias e conceitos do campo da Economia. O economista é capaz de entender fluxos financeiros, prever tendências mercadológicas e gerir investimentos de maneira precisa. Dentro do campo da Economia há vários subcampos, como: mercados específicos, análise macroeconômica, análise microeconômica e análise financeira. No dia 13 de agosto é comemorado o Dia do Economista. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
O mercado de trabalho dos economistas – uma abordagem a partir da experiência baiana (Ou RMS)
Distorções de percepção e avaliação dos agentes econômicos e suas implicações na economia
Demanda por moeda no Brasil no período de 1996 a 2008: uma estimação em séries temporais
Perfil sócio econômico dos estudantes como fator de influência no vestibular da UFBA de 2001 a 2005
Meirelles, Rafael Seixas Pereira
Advogado
Profissional liberal, bacharel em Direito e autorizado pelas instituições competentes de cada país a exercer o jus postulandi, ou seja, a representação dos legítimos interesses das pessoas físicas ou jurídicas, em juízo ou fora dele, seja entre si ou ante o Estado. O advogado constitui uma peça essencial para a administração da justiça e instrumento básico para assegurar a defesa dos interesses das partes em juízo. A advocacia pode ser decomposta em sete funções jurídicas básicas: assessoria, consultoria, procuradoria, auditoria, controladoria, planejamento e ensino. No dia 11 de agosto é comemorado o Dia do Advogado. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Rocha, Denise Abigail Britto Freitas
Alerta circula semanalmente, às terças-feiras, sob a coordenação de Flavia Garcia Rosa (Edufba) e Rodrigo Meirelles (RI/PROPCI). A execução está a cargo de Bernardo Machado, Évila Santana Mota (estagiários do Repositório Institucional). A revisão é de Tainá Amado (estagiária do Repositório Institucional). O design gráfico é de Gabriela Nascimento e Laryne Nascimento (Edufba). A divulgação está a cargo de Camila Fiuza (estagiária da Edufba).