N.107 | 26 de Agosto de 2016
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
O professor Daniel Tourinho Peres (DP), da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), dialoga com o professor André Luiz Martins Lemos (AL), da Faculdade de Comunicação da UFBA.
DP - Sua formação de origem é Engenharia. Mas desde o mestrado você vem trabalhando com temas mais próximos da Filosofia, ou seja, vem refletindo sobre o problema da técnica. Chama a atenção seu primeiro mestrado, cujo título (Tempos e movimentos. sobre a modernidade vivida e resistência) indica uma temática que hoje seria impensável de ser desenvolvida em uma Pós-Graduação de Engenharia de Produção. Quase ao mesmo tempo você apresenta um DEA em Sociologia, sob orientação de Maffesoli. Conte um pouco como foi essa experiência de cruzar áreas, de apresentar uma reflexão conceitual em um programa sobretudo técnico.
André Lemos (AL) - Meu percurso é mesmo tortuoso, embora tendo como linha mestra a questão da técnica e da tecnologia. Na engenharia, comecei a me interessar pelos problemas históricos e filosóficos da minha prática. Mas nenhuma destas questões eram discutidas na escola de engenharia. Estávamos nos anos 1980. Fui me distanciando do engenheiro prático e me aproximando do engenheiro sociólogo ou filósofo, querendo pensar a técnica (o que me aproximaria do sentido perdido de tecnologia como "tecné + logos", como uma filosofia da técnica). No entanto, não tinha nenhuma formação neste campo. Comecei a ler de forma autodidata sobre história, sociologia e filosofia da ciência e da tecnologia. Descobri, por meio de professores da engenharia, este curso da COPPE que visa (ainda hoje) dar uma formação humanista aos engenheiros e preparar futuros gestores de C e T. Achei que seria uma saída. Me interessei pela história e a filosofia da técnica e estudei muito para suprir o vazio que a minha formação técnica tinha deixado. Comecei o mestrado em 1986. Minha dissertação foi sobre a razão científica e tecnológica e uma análise de culturas que "viviam" sob um outro regime. Por sugestão do meu orientador, estudei as formas de vida da cultura negra baiana (daí a ideia de "modernidade vivida e resistências" do título).
Minha formação no mestrado (que me deu as bases para preparar uma formação melhor no futuro) foi de cunho crítico, Frankfurtiana, influenciada pelo meu orientador (Roberto Bartholo Jr., doutor em filosofia da técnica na Alemanha). Ainda no mestrado conheci a obra de Maffesoli (principalmente “O tempo das Tribos”). Quase no mesmo momento, começávamos a tomar conhecimento da revolução da microinformática nos EUA. Esta conjunção de rebelião da informática e cultura "pós-moderna" me encantou já que pareceria haver vida querendo se infiltrar na "razão tecnológica". Senti um choque entre a visão crítica (da minha formação frankfurtiana) e o vitalismo social que se apropriava dos computadores, criando a microinformática e expandido a internet para fora do círculo militar.
Terminei o mestrado e decidi que iria estudar esta incipiente cultura que emergia de uma nova sinergia entre a técnica e a vida social. Fui aceito em 1991 para o doutorado pleno na França com Michel Maffesoli. Defendi minha tese em 1995 e, segundo Pierre Lévy, que fez parte da banca e depois se tornou meu amigo, esta teria sido a primeira tese sobre a cibercultura na Europa. Duvido, mas realmente tinha um pioneirismo. É que ela tenha sido feito por um brasileiro, era ainda mais interessante. A tese virou (depois de ser atualizada e traduzida para o português) o meu livro "Cibercultura", que hoje está na sexta edição pela editora Sulina de Porto Alegre.
Na volta da França foi muito bem acolhido pela área de comunicação de maneira geral e pela FACOM/UFBA em particular (embora colegas brincassem com a minha “racionalidade” dizendo que eu era engenheiro). Nunca foi questionada a minha formação cruzada, nem me foi exigido diploma em uma área específica. Muito pelo contrário, acho que fui bem acolhido justamente por esta formação e pelo pioneirismo do tema da minha pesquisa (havia poucos estudiosos no Brasil dedicados à cultura digital na época - 1996). Hoje, há retrocessos em algumas escolas, cujos concursos exigem que se tenha doutorado em Comunicação, por exemplo.
DP - Boa parte de sua reflexão é dedicada à Internet. Eu diria que pelo menos desde 1991 ela está em seu radar. Mas não creio que fosse possível ver, então, a dimensão que ela ocupa hoje. Agora, sempre nos referimos à Internet, quase sempre apontamos para alterações quantitativas, ou seja, encurtamento dos espaços, aproximação das distâncias, tempos mais velozes, e por aí vai. Mas que alterações qualitativas se podem observar?
AL - Sim, para muitos a internet e a revolução da microinformática eram apenas uma moda, uma nova utopia criada por “viagens” dos jovens da contracultura, que não iria adiante por ser lúdica, pouco séria e sem muita consistência. Estavam enganados! Quando comecei a estudar este fenômeno, a internet ainda era para poucos. Sempre vislumbrei a sua potência como forma de comunicação ampliada, global. Criei em 1993 na Sorbonne (Paris V) um grupo de pesquisa (GRETECH que existe até hoje) para estudar este fenômeno emergente. Hoje ela está presente de forma irreversível nas nossas vidas. Mesmo pessoas que não utilizam diretamente as novas tecnologias de comunicação e informação em rede, têm as suas vidas marcadas por uma forte influência delas.
No entanto, uma das lições a aprender quando falamos de redes, tecnologia e vida social é saber que elas se formam, desde sempre, de maneira híbrida. De fato, não há domínios separados (cultura, sociedade, política, tecnologia, economia...). Em que campo devemos colocar a internet? Ora, só uma visão bastante simplificadora poderia pensar que estamos falando apenas de tecnologia, ou de informação... Assim como ocorreu com todos os sistemas midiáticos anteriores, desde a escrita e antes dela, a internet forma uma vasta rede sociotécnica. Hoje ela toma o planeta (e além) e cria novas formas de trabalho, lazer, educação, relações interpessoais, consumo, produção e distribuição de informação, governo, negócios.... Para se ter uma ideia, retire a internet das coisas que te afetam no dia a dia e veja se ele (o seu dia a dia) ainda faz sentido. Há desníveis (de acesso, de controle, de vigilância, de consumo) mas o fenômeno é global, em crescimento e irreversível. As mudanças são sempre qualitativas pelas dimensões materiais e simbólicas mobilizadas. Estas redes sociotécnicas estão em um fundo, o fundo da cultura global contemporânea, e conformam qualitativamente tudo o que fazemos, assim como as conformamos com nossas ações.
DP - Além de seu trabalho como docente e como pesquisador, você também tem uma grande militância em sua área, a Comunicação. Trata-se de uma área marcada por grande interdisciplinaridade, quer dizer, você tem um grande número de pesquisadores oriundos das mais diversas áreas. Isso é natural, até porque se trata de uma área nova. Mas se ela é nova, é, por outro lado, extremamente consolidada. Hoje, há um número importante de programas de pós-graduação em comunicação que são de excelência - a UFBA possui um deles. Agora, isso significa que um grande número de quadras são agora formas nesses cursos. Você consegue perceber algum impacto na área, quanto à interdisciplinaridade que até então domina a área?
AL - Não diria que tenho grande militância na área. Sou pouco afeto ao engajamento político direto, mas nunca me retirei de responsabilidades neste sentido. Fui coordenador do programa de pós-graduação da FACOM/UFBA por três anos, presidente da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação por dois anos, membro do comitê assessor do CNPq (por dois anos), membro fundador da ABCIBER - Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura e faço parte hoje do CAPEX, conselho superior da UFBA que trata de questões de pesquisa e extensão. Este trabalho é muito importante e me permite ter uma grande visibilidade sobre a área no Estado e no País.
Na minha opinião, acho que a área está mais madura e consolidada e há um crescimento dos programas de pós-graduação e aumento de áreas de concentração e linhas de pesquisa. Acho, pessoalmente, muito positiva a diversidade e o crescimento. Precisamos evoluir também em relação aos sistema de avaliação da CAPES (formada por nós mesmos, pesquisadores da área escolhido pelos pares) que fez muito pelo amadurecimento do campo, mas precisamos ir além em termos de análise de indicadores e do sistema de alocação de notas (que acho sempre desnecessário - as notas, não a avaliação, mas isto é outro assunto). A melhoria da revistas, dos eventos acadêmicos e das teses e dissertações mostram que há de fato um crescimento qualitativo na área. Há maior diversidade regional, embora ainda muito longe da ideal (equilíbrio maior na distribuição de cursos e recursos).
A interdisciplinaridade é inerente e não poderíamos pensar a área de comunicação sem ela. Afinal, estudamos processos de mediação que abarcam toda a vida social. Há cursos históricos nucleadores importantes e novos que surgem se firmando na área. Embora tenhamos os processos comunicacionais como objeto, a forma de abordá-los deve ser ampla. A interdisciplinaridade, a meu ver, é uma palavra que normalmente perde sentido: há uma boa intenção, mas nada se realiza de fato. Há muitas disciplinas, mas pouca interrelação. Acho que é este o desafio. Ampliar a mediação e não as normatizações e domínios. Hoje vemos algumas áreas buscarem justamente a separação, visando constituir um (seu) domínio próprio. Isto me parece um retrocesso. Devemos buscar valorizar e concretizar esta intenção de cruzamento de campos, teorias e práticas contida na palavra interdisciplinaridade. Sem ela nossa área seria pouco criativa e perderia competências intelectuais instaladas para pensar problemas importantes da contemporaneidade. Este é o desafio do fazer ciência em todas as áreas, não? E os novos pesquisadores que emergem deste contexto de formação precisam trilhar seus caminhos de forma autônoma para não repetirem os vícios de seus lugares de origem.
ACERVO
MANGUEZAL
É um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho; uma zona úmida característica de regiões tropicais e subtropicais. Os manguezais estão associados às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou quando estão diretamente expostos à linha da costa. Estão sujeitos aos regimes das marés, sendo dominados por espécies vegetais típicas, com plantas e árvores de longas raízes aéreas, que se associam a outros componentes vegetais e animais. É importante distinguir o termo “manguezal” de “mangue”, este último é comumente dado às espécies arbóreas características desse habitat. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Geoquímica dos sedimentos de manguezais do estuário do rio Sauípe, litoral norte da Bahia, Brasil
Queiroz, Antônio Fernando de Souza
Comportamento Geoquímico de Metais em Sedimentos de Manguezal da Baía de Camamu-Bahia
PSICOLOGIA
Do grego psykhé – psique, alma, mente – e lógos – palavra, razão ou estudo –, é o estudo do comportamento e dos processos mentais (experiências subjetivas, inferidas através do comportamento). O principal foco da Psicologia se encontra no indivíduo, em geral humano, mas há, também, o estudo do comportamento animal, com fins de pesquisa e correlação, na área da Psicologia comparada, desempenhando um importante papel. A Psicologia científica não deve ser confundida com a Psicologia popular, que é o conjunto de ideias, crenças e convicções transmitidas culturalmente e que cada indivíduo possui a respeito de como as pessoas funcionam, se comportam, sentem e pensam. A Psicologia usa, em parte, o mesmo vocabulário, que adquire, assim, significados diversos de acordo com o contexto em que é usado. No dia 27 de agosto é comemorado o Dia do Psicólogo. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Construção de identidades em psicologia
Correia, Maria Rosalia de Azevedo
Psicologia: formação e exercício profissional em Angola
Francisco, João Manuel Saveia Daniel
A psicologia escolar e a educação inclusiva: uma leitura crítica
Dazzani, Maria Virgínia Machado
Silva, Marcus Vinicius de Oliveira
FLÚOR
Elemento químico representado pela letra F na tabela periódica. É o mais eletronegativo e reativo de todos os elementos. Em sua forma ionizada, é extremamente perigoso, podendo ocasionar graves queimaduras químicas. O flúor é um gás corrosivo de coloração amarelo-pálido, fortemente oxidante. Está presente em mamíferos na forma de fluoretos. Não é considerado um elemento mineral essencial para o ser humano e suas pequenas quantidades podem beneficiar o fortalecimento ósseo. Ele é acrescentado em forma de fluoretos nos cremes dentais, que não devem ser engolidos, para evitar uma intoxicação. No R/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
O flúor tópico na redução da cárie dental em adolescentes de Salvador - BA, 1996
Cangussu, Maria Cristina Teixeira
Costa, Maria da Conceição Nascimento
As práticas preventivas no controle da cárie dental: uma síntese de pesquisas
Ribeiro, Jorge Luís de Oliveira
A fluorose dentária no Brasil: uma revisão crítica
Cangussu, Maria Cristina Teixeira
Fernandez, Roberto Castellanos
A efetividade do dentifrício fluoretado no controle da cárie dental: uma meta-análise
Alerta circula semanalmente, às terças-feiras, sob a coordenação de Flavia Garcia Rosa (Edufba) e Rodrigo Meirelles (RI/PROPCI). A execução está a cargo de Bernardo Machado, Évila Santana Mota (estagiários do Repositório Institucional). A revisão é de Tainá Amado (estagiária do Repositório Institucional). O design gráfico é de Gabriela Nascimento e Laryne Nascimento (Edufba). A divulgação está a cargo de Camila Fiuza (estagiária da Edufba).