N.116 | 27 de Outubro de 2014

Nova seção no Alerta

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

 

O professor Olival Freire (OF), do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Maurício Barreto do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, a quem o ALERTA  homenageia pela posse na Academia Mundial de Ciências.

 

(OF) Depois de um formação inicial em Medicina, pela UFBA, você dirigiu-se para a área de saúde coletiva e consolidou seu perfil de pesquisador em epidemiologia. Nesta área você mobiliza habilidades intelectuais que ultrapassam em muito sua formação inicial. Você também trabalha com equipes com formações diversificadas. Interdisciplinaridade portanto tornou-se para você uma segunda natureza. Ademais você tem experiência em lidar com a construção de novas instituições, falo particularmente do ISC. Gostaria que você nos apresentasse um balanço de sua experiência pessoal no que diz respeito a esta mobilização de saberes diversos, bem como nos falasse dos apoios e obstáculos que pesquisas desta natureza têm encontrado nas instituições brasileiras.

 

 

(MB)A minha opção pela epidemiologia e saúde coletiva foi bem precoce na minha formação. Teve início no 3º. ano do curso de Medicina ao decidir aplicar para a seleção de monitor do Departamento de Medicina Preventiva. Como epidemiologista, sempre fui reticente em aceitar esta disciplina apenas como um conjunto de métodos e técnicas (como o mainstream da epidemiologia o faz), mas sim como uma disciplina científica que busca entender uma parte importante da vida e da trajetória das populações humanas – a sua saúde. Isto entendido como as formas de sofrimento, adoecimento e morte e, em última instância, ao quanto sobrevivemos, dado um conjunto complexo de circunstancias – os determinantes. Estes últimos incluem os macro-determinantes econômicos e sociais, passando por determinantes ambientais e comportamentais, por fim penetrando nas entranhas da biologia que nos constitui. A interpretação mais à “esquerda” deste fenômeno sempre enfatizou a relevância destes macro-determinantes sociais. Enquanto ache interessante e importante esta interpretação, me afilio aqueles que o acha incompleta. Nos meus projetos de pesquisa busquei, com as limitações possíveis das abordagens teóricas disponíveis, da investigação empírica e dos financiamentos obtidos, introduzir uma renovada perspectiva através da investigação interdisciplinar. Depois de algumas experiências acredito que estes esforços têm sido frutíferos, não somente na produção de novos conhecimentos e novos fundamentos teóricos, mas também por influenciar na formação de novas gerações de investigadores, expostos ao diálogo entre as disciplinas. Estes projetos têm gerado um grande número de publicações, muitas delas com a participação de colegas de diversas outras disciplinas (economia, sociologia, antropologia, geografia, psicologia, engenharia, física, estatística, matemática, parasitologia, virologia, imunologia, genética etc.). No seu conjunto, isto tem sido uma experiência única e enriquecedora de pensar, em múltiplas perspectivas, questões relacionadas à saúde das populações humanas.

 

 

(OF) O seu trabalho com epidemiologia de doenças infecciosas tem relação com uma tradição na medicina baiana – estudo de doenças tropicais – que remonta ao final doséculo XIX. Como tem sido sua experiência de inserção em um ambiente com tal força e tradição. O que deste ambiente intelectual e institucional tem funcionado como vantagens ou como desvantagens?

 

 

(MB)Você está correto. Se pensarmos na perspectiva de programa de pesquisa, a investigação no campo das chamadas doenças tropicais é um dos mais antigos entre nós, aqui na Bahia e na UFBA. Isto remonta ao final do século XIX com os trabalhos de Wucherer, Pirajá da Silva, entre outros e que passa por expoentes como Aluisio Prata e Zilton Andrade, e chega a grandes pesquisadores atuais, entre os quais destaco Edgar Carvalho, Manoel Barral-Netto, Aldina Barral, Mitermayer Reis etc. Esta história, criou o ambiente intelectualmente rico que ao se propagar através de gerações, transmitiu o rigor metodológico que de forma marcante ‘impregnou o ambiente’ em que eu e muitos outros desenvolveram as suas investigações, mesmo que divergências tenham ocorrido. Na década de 1960, o Prof. Guilherme Rodrigues da Silva (Prof. da UFBA que se tornará Prof. Titular na FMUSP) lidera estudos que se descolocam da perspectiva mais tradicional da medicina tropical, ao colocar maior ênfase nas dimensões sociais do processo de adoecimento. Com a ida de Guilherme para USP, esta linhagem de investigação tem sequência com os trabalhos de Sebastião Loureiro, Ines Lessa, entre outros, que são os precursores da epidemiologia acadêmica na UFBA e aonde acredito localiza-se a origem da linhagem de investigação que eu e outros colegas se inserem e que, mais tarde, terá contatos com a denominada epidemiologia social Latino-Americana. Na década de 1970, vale ainda destacar a exposição (eu como bolsista de IC) ao programa colaborativo entre UFBA e a Universidade de Harvard para estudos populacionais em esquistossomose e Doença de Chagas no município de Castro Alves. Para se ter idéia, com este projeto se iniciará os primeiros estudos populacionais de coorte(longitudinais) do país e será importante para introduzir elementos metodológicos da investigação epidemiológica. No ponto de vista institucional, estes esforços levarão a criação do Instituto de Saúde Coletiva, em 1995, por um grupo originado no Departamento de Medicina Preventiva da FM.

 

 

 

 

 

 

(OF) Em seus estudos sobre a asma você tem abordado o papel das mudanças ambientais, a exemplo de urbanização, como fator relevante. Isto introduz na sua pesquisa um recurso a disciplinas históricas. Você poderia elaborar mais sobre este ponto.

 

 

(MB)A história, a meu ver, é uma disciplina fundamental e marcante para pensar e conceber o presente. Por exemplo, como pesquisador em epidemiologia tem sido essencial para mim entender uma das maiores revoluções do pensamento humano, o período, na 2ª metade do século XIX, em que a explicação miasmática da origem das doenças é substituída pela explicação bacteriológica. É importante aqui enfatizar que o próprio urbanismo do século XIX e inicio do século XX é fortemente influenciado pelas teorias da doença então prevalentes e os planos urbanos das hoje cidades modernas europeias, mas também brasileiras - como o Rio de Janeiro, tiveram forte influência do que se pensava sobre a difusão e a prevenção das doenças. A minha investigação da asma (e alergias) a que você se refere iniciou-se em torno da denominada "hipótese da higiene", surgida na década de 1980, e até hoje centro de fortes disputas acadêmicas. Esta, de maneira simplificada estabelece que o aumento da prevalência de doenças alérgicas observada em diferentes partes do mundo deveu-se a melhoria da higiene e a consequente redução na ocorrência das doenças infecciosas, que se inicia no final do século XIX (nos países desenvolvidos) e que continua nos países em desenvolvimento.Nossa pesquisa, tenta entender como esta hipótese opera no contexto Latino-Americano, com estudos de campo em Salvador e no Ecuador (em colaboração com pesquisadores locais). É importante chamar a atenção de que a ‘hipótese da higiene’ além de sua dimensão histórica ela exige para o seu debate uma trama de disciplinas que inclui, entre outras, as ciências sociais, a epidemiologia, a genética evolutiva e a imunologia.

 

 

(OF) A sua experiência nacional e internacional em universidades, agências e instituições propicia-lhe uma perspectiva privilegiada para uma avaliação dos desafios hoje presentes na ciência e na universidade no Brasil. O que precisa ser feito, que não está sendo feito? O que está sendo feito e deve continuar a ser feito?

 

 

(MB)Não há dúvida (apesar de alguns quererem negar) do intenso crescimento da investigação científica no Brasil. Isto tem sido estimulado pelo número de pesquisadores formados no exterior e no país, no aumento do financiamento (a despeito de que ainda insuficiente) e da produção científica, além de ações como a dedicação exclusiva, prevalente nas nossas universidades. Ao compararmos nossa situação com o que ocorre nos nossos vizinhos latino-americanos, temos uma ideia melhor sobre o quanto avançamos. Porém, ao mesmo tempo, é importante pensarmos as dificuldades que evitam que avancemos ainda mais e principalmente, que façam o conhecimento gerado reverta-se no benefício do nosso desenvolvimento econômico e social. Enquanto estas questões venham sendo temas de longos e inconclusos debates, minhas sugestões focam-se em alguns pontos: 1- aumento do financiamento da pesquisa científica – enquanto os orçamentos tenham aumentado, não existe políticas claras para dar estabilidade ao patamar alcançado e dar continuidade de forma sustentada ao crescimento; 2- redefinição do conceito de mérito – as nossas agências financiadoras tem se centrado no índices bibliométricos que são importantes, mas reconhecidamente mensuram dimensões quantitativas da produção acadêmica e deixam de lado a sua qualidade e, em especial, os impactos não bibliométricos do conhecimento produzido; 3- a burocratização excessiva e burra experimentada por qualquer um de nós que teve o prazer (ou desprazer) de gerenciar o financiamento de um projeto de pesquisa; o controle centra-se nos aspectos administrativos e financeiros (somos todos ladrões até provar ao contrário!) em lugar dos aspectos substantivos do conhecimento produzido como resultado da investigação pela pesquisa; 4- avançar na autonomia universitária, como etapa fundamental para que as universidades possam elaborara e gerir suas próprias políticas, adequando-as ao seu contexto e as vocações dos seus quadros; 5- relacionada com a anterior, as universidades definirem políticas científicas claras e da mesma maneira que estimula, acompanha e dá suporte a programas de ensino, possa estimular, acompanhar e dar suporte à programas de investigação, em especial programas interdisciplinares e transdisciplinares.

 

 

 

ACERVO

 

UNIVERSIDADE

Instituição pluridisciplinar de formação dos quadros de profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano. Provê educação tanto terciária (graduação) quanto quaternária (pós-graduação). Dotadas de autonomia para criar cursos, sem autorização do MEC, possui as modalidades de ensino: presencial, semipresencial e à distância (EAD). A Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), órgão do Ministério da Educação, é a unidade responsável por garantir que a legislação educacional seja cumprida para garantir a qualidade dos cursos superiores do País. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais

 

Os Estudos Culturais e a crise da universidade moderna

Lima, Rachel Esteves

 

 

História da Universidade no Brasil: Uma análise dos Bacharelados Interdisciplinares na UFBA

Macedo, Brian

 

Tecnologia & novas educações

Pretto, Nelson de Luca

 

Bacharelado interdisciplinar: uma proposta inovadora na educação superior em saúde no Brasil

Teixeira, Carmen Fontes de Souza

Coelho, Maria Thereza Ávila Dantas

Rocha, Marcelo Nunes Dourado

 

 

Uma experiência de mudança da gestão universitária: o percurso ambivalente entre proposições e realizações

Sampaio, Rosely Moraes

Laniado, Ruthy Nadia

 

 

 

FLORÍSTICA

Termo derivado de “flora”, a Florística consiste em ramo da botânica que tem como objetivo inventariar as espécies que constituem a flora em diversas áreas geográficas, estudando a sua distribuição e as relações que estabelecem entre si. Visando avaliar os fragmentos arbóreos existentes em uma determinada área, para subsidiar tomadas de decisão quanto aos eventuais cortes de árvores para implantação de um determinado empreendimento é comumente realizado um levantamento florístico. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

Orchidaceane no município de Jacobina, Bahia, Brasil

Silva, Tiago

 

 

Análise da degradação da caatinga no núcleo de desertificação do Seridó (RN/PB)

Costa, Thomaz C. e C. da

Oliveira, Maria A. J. de

Accioly, Luciano José de Oliveira

Silva, Flávio H. B. B. da

 

 

 

Fissidentaceae (Bryophyta) da Chapada da Ibiapaba, Ceará, Brasil

Oliveira, Hermeson Cassiano de

Bastos, Cid José Passos

 

 

 

Pteridófitas do parque estadual do mirador, Maranhão, Brasil

Conceição, G. M.

Rodrigues, M. dos S.

 

 

 

Lejeuneaceae holostipas (Marchantiophyta) no Estado da Bahia, Brasil

Bastos, Cid José Passos

Yano, Olga

 

 

 

CONTROLADORIA

Conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos das ciências de Administração, Economia, Psicologia, Estatística e principalmente da Contabilidade, que se ocupam da gestão econômica das empresas. Tem por finalidade garantir informações adequadas ao processo decisório dos gestores, colaborando assim para a busca pela eficácia da empresa e de suas subdivisões, levando-se em conta o aspecto econômico. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

As instituições brasileiras de controladoria pública - teoria versus prática

Marcelino, Carolina Venturini

Suzart, Janilson Antonio da Silva

Rocha, Joseilton Silveira da

 

 

 

Controladoria no Brasil: Um Estudo a Partir da Perspectiva dos Pesquisadores Brasileiros

Rocha, Joseilton Silveira da

Carvalho Júnior, César Valentim de Oliveira

 

 

 

O aprendizado formal de controladoria minimiza o excesso de confiança em decisões gerenciais? Um estudo experimental

Carvalho Júnior, César Valentim de Oliveira

Rocha, Joseilton Silveira da

Bruni, Adriano Leal

 

 

 

Ênfases da controladoria em empresas localizadas na Bahia

Barreto, João Marcelo Pitiá

 

 

 

Controladoria empresarial: conceitos, ferramentas e desafios

Bruni, Adriano Leal

Gomes, Sônia Maria da Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

Alerta circula semanalmente, às terças-feiras, sob a coordenação de Flavia Garcia Rosa (Edufba) e Rodrigo Meirelles (RI/PROPCI). A execução está a cargo de Bernardo Machado, Évila Santana Mota (estagiários do Repositório Institucional). A revisão é de Tainá Amado (estagiária do Repositório Institucional). O design gráfico é de Gabriela Nascimento e Laryne Nascimento (Edufba). A divulgação está a cargo de Camila Fiuza (estagiária da Edufba).