N. 125 | 13 de janeiro de 2015
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
Paola Berenstein Jacques (PB) professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com Ligia Maria Vieira da Silva (LV) professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA
PB – Como se deu sua entrada no campo de saberes e práticas da saúde pública com foco na avaliação de programas e políticas públicas de saúde no Brasil? Poderia nos falar um pouco desse campo da saúde pública, sabidamente multidisciplinar, e de seus desdobramentos com relação às políticas públicas de saúde no país?
LV – Obrigada pelas perguntas, Paola. Esta é sempre uma opção que requer explicação. Durante o curso de medicina meu interesse principal estava relacionado com a anatomia patológica onde desenvolvi meu primeiro projeto de pesquisa sobre o diagnostico histológico da hemácia falciforme, como bolsista de iniciação científica do CNPq. Também o internato e a residência médica foram nesta área – eu iria tornar-me patologista. A minha decisão em cursar o Mestrado em Saúde Comunitária, em 1979, decorreu de um envolvimento crescente com a militância política relacionada com o fim da ditadura militar e com a democratização do país. Minha participação nas lutas estudantis dos anos 70 bem como na segunda diretoria do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) em 1978, aproximou-me do movimento sanitarista que operou uma ruptura com a Saúde Publica institucionalizada, com a Medicina Preventiva criando a Saúde Coletiva como novo espaço de saberes e práticas. A ruptura foi tanto teórica quanto técnico-política. No plano teórico apoiou-se em diversos estudos sobre as relações entre a medicina e a sociedade bem como sobre os determinantes sociais da saúde e da doença. Mas também foi uma ruptura que resultou na construção de um projeto de reorganização do sistema de saúde brasileiro decorrente de importante movimento que articulou a luta por uma Reforma Sanitária Brasileira ao movimento de democratização do país. Esse movimento influiu na redação do capitulo Saúde da Constituição de 1988, na concepção e posterior operacionalização do Sistema Único de Saúde. Embora o projeto original tenha sido parcialmente abandonado, importantes mudanças nas políticas de saúde no país foram sobremodo influenciadas pela constituição e desenvolvimento da Saúde Coletiva brasileira. Essa minha trajetória não foi peculiar, foi similar a de outros médicos que converteram suas carreiras de diversas especialidades para a Medicina Preventiva e posteriormente criaram a Saúde Coletiva.
PB – No seu trabalho de pesquisa mais recente há também uma dimensão histórica, em particular na pesquisa sobre a medicina social francesa, qual a importância deste trabalho para a compreensão da circulação dessas ideias no Brasil e, em particular, na Bahia? Os estudos históricos de Michel Foucault (muito discutido no campo do urbanismo) sobre políticas de saúde na França e, em particular, a importante discussão sobre a questão da biopolítica (e do controle), são também utilizados na pesquisa?
LV – O interesse nos estudos sócio-históricos relaciona-se a minha aproximação com trabalhos do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que considera a análise histórica imprescindível para o conhecimento do mundo social, inclusive dos fenômenos contemporâneos como no caso das políticas de saúde. A Medicina Social Francesa do século XIX é uma referência central da gênese da Saúde Coletiva brasileira no que diz respeito à incorporação dos determinantes sociais da doença e na sua articulação com movimentos sociais reformistas ou mesmo revolucionários. São muitas as interpretações sobre a Medicina Social Francesa daquele período histórico e essas controvérsias é que estão sendo investigadas nesse meu projeto de pesquisa. A interpretação dada por Foucault é uma delas. Na verdade a célebre conferencia de Foucault sobre a Medicina Social foi proferida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1974, a convite do grupo fundador do Instituto de Medicina Social daquela Universidade. Naquela conferência Foucault considerava que a medicina urbana havia sido a segunda direção histórica assumida pela medicina social que passou a intervir nas cidades por razões econômicas e políticas. Embora o conceito de biopoder e biopolítica auxiliem a interpretar diversos aspectos das políticas de saúde outros referenciais teóricos têm que ser buscados para analisar a complexidade desse fenômeno.
PB – Na história do urbanismo, discursos higienistas tiveram um papel determinante na legitimação de uma série de planos de modernização de cidades europeias e, também, brasileiras. Como se sabe, o higienismo usa questões sanitárias para justificar decisões urbanísticas, algumas vezes com remoções de populações desfavorecidas de áreas centrais, como no caso dos cortiços, por exemplo, considerados insalubres. Esta relação bem próxima entre questões de saúde e questões urbanas também é relevante nos estudos históricos no campo da saúde pública?
LV – Sem dúvida, o discurso higienista historicamente foi usado como justificativa para a segregação espacial dos pobres e dos segmentos marginalizados tendo orientado diversas intervenções urbanas. Contudo há variadas interpretações sobre o caráter do movimento higienista que oscilaria entre o revolucionário, o reformista e o essencialmente moral. Na primeira vertente a higiene e a medicina social articulavam-se com os movimentos revolucionários europeus de 1848 e propunham a mudança social como solução para os problemas de saúde. Já para outros historiadores, como Faure, as causas das doenças eram atribuídas, pelos higienistas do início do século XIX, à imprevidência, à dissipação e à libertinagem sendo que o retorno à saúde passava pela reconversão às virtudes da ordem. A relação estabelecida entre pobreza e doença não suscitava somente sentimentos humanitários por parte dos higienistas, conduzia também à preocupação com o risco que essa situação trazia para as elites.
ACERVO
Dieta
Conjunto de substâncias alimentares que constitui o comportamento nutricional dos seres vivos. O conceito provém do grego díaita, que significa modo de viver. Por vezes, o termo dieta é utilizado como referência aos regimes alimentares para perder ou ganhar peso, ou combater determinadas doenças. É qualificada em diversas formas: carnívora, omnívora, dentre outras. As dietas podem ser modificadas e adaptadas de acordo com as necessidades nutricionais ou restrições alimentares de cada indivíduo. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Dieta cetogênica: como o uso de uma dieta pode interferir em mecanismos neuropatológicos
Alves, Marion
Sacramento, Thaiana
Rocha, Vera Lúcia
Crenças em saúde sobre a dieta: uma perspectiva de pessoas negras hipertensas
Pires, Cláudia Geovana da Silva
Amônia
Composto químico constituído por um átomo de nitrogênio e três átomos de hidrogênio. É muito utilizada em refrigeração, devido ao seu elevado calor de vaporização. A amônia é um componente bastante utilizado em produtos de limpeza, como nos alvejantes removedores de mofo, e quando é utilizada com seus derivados (ureia, nitrato de amônio) são usadas na agricultura, como fertilizante. É facilmente biodegradável e as plantas absorvem com muita facilidade. A amônia é considerada um nutriente importante de fornecedor de nitrogênio para produção de compostos orgânicos azotados e oxigênio. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos para este tema, entre os quais:
Desenvolvimento de amostrador passivo para amônia na atmosfera
Transformações de SO2 e NO2 na atmosfera da área de influência do Pólo Industrial de Camaçari
Chemical treatment of roughage
Carvalho, Gleidson Giordano Pinto de
Ribeiro, Leandro Sampaio Oliveira
Biological nitrogen removal over nitritation/denitritation using phenol as carbon source
Guerra de Canudos
Também conhecida como Campanha de Canudos, foi o confronto entre o Exército Brasileiro e os integrantes de um movimento popular de fundo socioreligioso liderado por Antônio Conselheiro, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior da Bahia. A região passava por uma grave crise econômica e social. Milhares de sertanejos e ex-escravos partiram para Canudos, cidadela liderada pelo peregrino Antônio Conselheiro. Os grandes fazendeiros da região, unindo-se à Igreja, iniciaram um forte grupo de pressão junto à República recém-instaurada, pedindo que fossem tomadas providências contra Antônio Conselheiro. Três expedições militares contra Canudos saíram derrotadas, apavorando a opinião pública, que acabou exigindo a destruição do arraial, dando legitimidade ao massacre de até vinte mil sertanejos. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos para este tema, entre os quais:
A arte e a arquitetura religiosa popular do Antônio Vicente Mendes Maciel, o Bom Jesus Conselheiro.
Uma experiência do front: a guerra de Canudos e a Faculdade de Medicina da Bahia
Pinheiro, Alexander Magnus Silva
Imagens do intelectual Euclides da Cunha: permanência e deslocamentos
Curiosidades em torno de Canudos: canudos o povo da terra