N. 127 | 27 de janeiro de 2015

Nova seção no Alerta

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A professora Ligia Maria Vieira da Silva (LMVS) do Instituto de Saúde Coletiva da  Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com a professora Ana Fernandes (AF) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA.

 

(LMVS) Ana, você formou-se em Arquitetura e orientou seus estudos para o planejamento urbano tendo desenvolvido diversos trabalhos que ultrapassam a especificidade da arquitetura e dialogam com diversas outras disciplinas tanto das ciências sociais como das ciências exatas. Quais as razões para essas opções e como você analisa os problemas e possibilidades da interdisciplinaridade tanto na prática de investigação como no ensino universitário?

 
(AF) Minha formação na graduação em Arquitetura e Urbanismo (1974-1978), na USP-SP, se deu em conjuntura altamente politizada, onde o cotidiano do ensino era contínua e abertamente questionado por diversas formas de rebeldia, dos movimentos estudantis à ação disruptiva de professores em sala de aula e a uma produção cultural ativada por um turbilhão de maneiras de explorar novas possibilidades de expressão. Nesse contexto, o papel social da arquitetura era questionado de forma contundente, com visões mais ou menos radicais entre os vários segmentos do próprio movimento estudantil. As discussões acerca do papel do projeto e do espaço arquitetônico na transformação social e da liberdade da arte eram recorrentes e perpassavam tanto a elaboração de trabalhos acadêmicos regulares quanto discussões de reformulação curricular ou grupos de estudos animados pelo grêmio estudantil, numa formação mais propriamente política.
A cidade e o urbanismo se configuraram, então, na minha experiência, como um campo ampliado de atuação que sugeria possibilidades mais abrangentes e mais efetivas de compreensão de processos sociais mais gerais e de perspectivas de atuação mais claramente marcadas pelo interesse coletivo. A existência de núcleos de professores-pesquisadores que problematizavam conceitualmente a questão da produção e reprodução da cidade capitalista e suas mazelas – com grande proximidade da economia e da sociologia – aproximava formação intelectual, crítica do estabelecido e horizontes de transformação.
A evidência de que o campo do urbanismo e a questão urbana repousam sobre uma necessária interdisciplinaridade só fez se reforçar desde então. A realização de um doutoramento precoce na França não apenas deu relevo aos campos da geografia e da história, como explicitou os limites de uma formação em urbanismo que foi construída, no Brasil, restrita aos limites do ensino de arquitetura. As razões para isso são diversas e não cabe discuti-las aqui, mas parece evidente que, para além de monopólios de mercado de trabalho e de relações de poder construídas historicamente, a cidade e os modos de atuação sobre ela são crescentemente tributários de um conjunto complexo de conhecimentos, interconectados e interativos. Nesse sentido, a interdisciplinaridade – com a agregação ampla dos diferentes campos de conhecimento – é  uma exigência da prática do urbanismo e do planejamento urbano, mesmo se as fronteiras profissionais e acadêmicas ainda carreguem delimitações inerciais e políticas significativas. 
 
(LMVS) Você tem uma trajetória importante  como  pesquisadora voltada para a temática do espaço urbano. Ao mesmo tempo você tem desenvolvido trabalhos pedagógicos articulados à participação popular. Como você vê as relações entre ciência, tecnologia, inovação e mudança social? Qual a sua avaliação dos produtos dessa experiência tanto no que diz respeito ao aprendizado quanto no que concerne a sua influencia na formulação de políticas públicas?
 
(AF) Essas são questões bastante amplas e complexas e tensionam o próprio modo de produzir conhecimento, sobretudo por introduzir agentes sociais não-acadêmicos enquanto protagonistas do processo. Primeiro, colocam-se os desafios de compreensão mútua, vinculados ao universo cultural propriamente dito, como linguagem, conceitos e valores. Nesse diapasão, é ilustrativo o ensaio de Mia Couto sobre situações-limite de tradução: numa visita de experts das Nações Unidas à Ilha de Inhaca, em Moçambique, a navegação entre o inglês, o português e o chidindinhe transformou a palavra cientista em feiticeiro e meio ambiente em momento da criação humana.  Ainda que numa mesma língua, nem sempre as mesmas palavras significam as mesmas coisas...
Segundo, construir pontes entre esses universos, buscando fazer interagir permanentemente as chamadas leitura técnica e leitura comunitária do contexto onde se trabalha, construindo um complexo sistema de avaliação da realidade, que deve aliar dados quantitativos abstratos, dados qualitativos, experiência do lugar e projetos para sua transformação. Deriva daí o fato de que questões em princípio tão simples como, por exemplo, a de definir o número de habitantes do bairro, trazem à tona dificuldades, valores e embates presentes nos processos de reprodução de bairros populares na cidade: a ilegibilidade empírica e conceitual do significado da organização do Estado brasileiro e seus organismos de gestão; o descrédito dos dados do IBGE e dos censos demográficos; o reconhecimento dos agentes comunitários de saúde como os detentores legítimos de informações verdadeiras sobre o bairro; a compreensão de que o tamanho da população é trunfo no jogo político que define diretrizes para a cidade. Em sentido inverso, a invisibilidade desses coletivos territoriais frente ao poder público em seus vários níveis se desdobra na permanente inexistência de dados com um mínimo de qualidade sobre os quais trabalhar. A produção de informações no Brasil ainda não permite, em sua grande maioria, que as delicadezas próprias ao cotidiano e à escala da proximidade sejam tratados de forma consistente e adequada, sobretudo em bairros predominantemente de baixa renda.
Trata-se, portanto, de desenvolver o urbanismo enquanto tecnologia social, a partir de convergência (pacto?) de conhecimentos, experiências e proposições, e de buscar consolidar, para sua efetivação, formas democráticas e dialógicas de definição de alternativas de desenvolvimento para a cidade, particularmente para aquelas áreas que se defrontam seja com o abandono, seja com a voracidade de grandes investimentos empresariais ou públicos. A inovação residiria justamente no que pode advir daquilo que há de comum, de específico e de transição entre saberes, práticas e horizontes sociais, fazendo com que coletivos territoriais, e não simplesmente indivíduos, possam ganhar relevância na formulação da política pública urbana.
 
(LMVS) Você também tem recorrido a estudos históricos que revelam a importância da arquitetura para a construção de espaços educacionais melhores bem como o uso da cidade como um espaço educacional que permitiria o aprendizado no espaço público. Como você vê as utopias das "cidades educacionais" e por analogia as "cidades saudáveis", voltadas para a promoção da saúde por meio de políticas intersetoriais entre as quais está o planejamento urbano, hoje?
 
(AF) A cidade, como dizia Milton Santos, é um lugar e um conjunto de lugares. Nesse sentido, por sua complexidade, nela cabem todas as utopias, territorializadas seja espacial seja conceitualmente. O seu caráter de espaço coletivo marca a convergência de expectativas as mais diversas sobre seus sentidos e possibilidades. 
Cidades das artes, cidades do lazer, cidades do trabalho, cidades do patrimônio, cidades estratégicas são tantas outras formulações que se acoplam às por você mencionadas, cidades educadoras e cidades saudáveis. Frutos de ênfases e ações específicas, em disputa permanente sobre o seu sentido social, essas são formas de fazer convergir atenções, recursos e políticas públicas, com maior ou menor substrato de interesse público e comum, a depender da conjugação de forças que as propõe e opera.
Assim, considero importante que a multiplicidade de cidades na cidade seja preservada, estimulada e renovada, recriando assim as possibilidades de existência da própria cidade, impedindo-a de se tornar um espaço monopolizado por qualquer que seja a ênfase.
E essa multiplicidade, do ponto de vista da política pública, só pode ser conquistada operando intersetorialmente, como você mesma sugere. Esse é um dos grandes desafios que a cidade brasileira nos coloca atualmente.
 
 
ACERVO
 
Acarajé

Especialidade gastronômica da culinária afro-brasileira. Acarajé é uma palavra composta da língua iorubá: acará (bola de fogo) e (comer), ou seja, comer bola de fogo. É feito com massa de feijão fradinho, cebola e sal e frito em azeite de dendê. Pesquisas apontam que o acarajé surgiu no Brasil no estado do Maranhão, no século XVIII, e só no século XX que a Bahia começou a fazer esse prato típico. É vendido no tabuleiro da baiana juntamente com o abará e outras iguarias. O acarajé pode ser servido com pimenta, camarão, vatapá, caruru e salada. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

O sincretismo na culinária afro-baiana: o acarajé das filhas de Iansã e das filhas de Jesus

Santos, Vagner

 

Uma imersão no tabuleiro da baiana: o acarajé

Rogério, Walison Fábio

 

Uma imersão no tabuleiro da baiana: o estudo do óleo de palma

Curvelo, Fabiana Martins

 

Composição química e valor nutritivo de acarajé e abará: comercializados em Salvador

Santos, Maria Auxiliadora Ferreira

 

Ética

Nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra vem do grego ethikos, e significa aquilo que pertence ao ethos (bom costume). É utilizada como conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética pode ser confundida com lei, embora, com certa frequência a lei tenha princípios éticos. Abrange uma vasta área, podendo ser aplicada à vertente profissional. Possuem subdivisões que são: metaética, normativa, aplicada, descritiva e moral. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

A abordagem da ética nos cursos de graduação em administração de Salvador

Soares, Bárbara Maria Correia

 

Avaliação do ensino de ética médica nas escolas médicas de Salvador-Bahia-Brasil: elementos contributivos para a humanização da medicina

Neves, Nedy Maria Branco Cerqueira

 

Reflexão ética do discurso jurídico da laicidade: limites e perspectiva

Batista Neto, Dilson Cavalcanti

 

Ética do sujeito de pesquisa: um estudo sobre normas e práticas relativas à utilização de animais em pesquisas desenvolvidas pela fiocruz-Bahia

Reis, Rosane Aparecida Archanjo dos

 

A transversalidade da ética

Costa, Lília Ferreira de Moura

 

Agronegócio

É toda relação comercial e industrial envolvendo a cadeia produtiva agrícola ou pecuária. No Brasil, o termo “agropecuária” é utilizado para definir o uso econômico do solo para o cultivo da terra associado com a criação de animais. O agronegócio costuma ser dividido em três partes: a primeira, “pré-porteira”, é representada pelo fornecimento de insumo para a produção, como fertilizantes e equipamentos. A segunda, “dentro da porteira”, é representada pelos produtores rurais, pequenos, médios e grandes. A terceira e última, “pós-porteira”, é representada pela compra, transporte, beneficiamento e venda dos produtos ao consumidor final. Todo esse processo é conhecido como “ciclo do agronegócio”. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

Potencial exportador de atividades relacionadas ao agronegócio: Bahia e oeste baiano

Freitas, Ana Elisia Souza de

 

A aplicação da metodologia bsc (balanced scorecard) como sistema gerencial estratégico no agronegócio o caso da agrogavião ltda

Borges Junior, Wilson

 

Evolução do uso do solo e agronegócio na região oeste do estado da Bahia

Passos, A.L.O.

Rocha, S.S.
Hadlich, G.M.

 

Atividades relacionadas com agronegócios: Identificação de aglomerações e especializações no Eixo São Francisco do Estado da Bahia.

Freitas, Ana Elísia Souza de

 

Planejamento governamental na Bahia e seus desdobramentos na atividade agropecuária - uma análise a partir das principais mudanças ocorridas na década de 80

Costa, Laurência Fernanda de Oliveira Gama