N. 128 | 3 de fevereiro de 2015

Nova seção no Alerta

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A professora Blandina Felipe Viana (BN) do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professora Sonia Sampaio (SS) professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC/UFBA).

 

(BN) Você atuou na gestão universitária durante vários anos, como Coordenadora de Ações Afirmativas, Educação e Diversidade, na Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, tendo, portanto, acompanhado a implantação do sistema de cotas nas IES públicas federais no País, que ampliou o acesso de negros, indígenas e estudantes de baixa renda no ensino superior, modificando significativamente a composição do corpo discentes dessas Instituições. Em sua opinião, a mudança do público que tem entrado nas universidades deve também ser acompanhada de uma mudança no modo como se pensa o ensino, a pesquisa e a extensão universitária? Como?

 

(SS) Acho que a universidade deve sim, mobilizar-se para mudar suas práticas. Mas não porque agora temos nela os segmentos antes excluídos, mesmo que em pequeno contingente ainda. Não podemos esquecer que o Brasil, tem apenas 14,7% de jovens de 18 a 24 anos na educação superior, incluindo os que estão no ensino privado, a maioria, infelizmente.

A universidade deve modificar suas práticas, especialmente aquelas relativas ao ensino e à avaliação. O que fazemos é inadequado e obsoleto para todos os estudantes. Acreditamos ainda que o professor é a figura central da aprendizagem o que nega ao estudante a movimentação autônoma, sua busca ativa pelo saber. Compreendemos ainda a universidade como um espaço de distribuição de diplomas profissionais e não como lugar potencial de desenvolvimento pessoal e da nação. Precisamos tutelar menos, abrir possibilidades para que as histórias de vida, a cultura desses novos públicos encontrem lugares de diálogo e justiça cognitiva. Essa a perspectiva com a qual estou atualmente trabalhando. Como? Difícil a resposta, mas arrisco dizer, que precisamos ser menos arrogantes, mais dispostos à escuta, menos convencidos que nossos títulos e currículos nos conduzem, diretamente, à competência pedagógica. A tarefa de um educador é construída de forma coletiva e necessita de uma compreensão de nossas dificuldades relativas a como se aprende e para quê se aprende.

 

(BN) Quais os desafios que ainda precisam ser superados para consolidar a política de ações afirmativas na UFBA?

 

(SS) A política de ações afirmativas não pode ser considerada apenas como uma espécie de caixa automático de distribuição de benefícios. Tampouco, como escutei recentemente, como um novo formato de “ajuda aos carentes”. Acho inclusive, que os profissionais desse campo, psicólogos (sou psicóloga) assistentes sociais e pedagogos, precisam abandonar o uso dessa palavra, pela carga histórica comprometida que ela comporta. Pobres, excluídos, são pessoas. Dignas em seus percursos, talentos e promessas de vir a ser. Não são “menos”, “pessoas a quem falta algo”, portanto “carentes”... Sou insurgida contra essa ausência de autocrítica de técnicos e autoridades que atuam nesse campo. Há que renovar a linguagem para ajudar um outro modo de compreensão surgir.

Hoje, enquanto participava de uma reunião de trabalho (sábado à tarde, porque existe uma UFBA que trabalha também, no final de semana) recebi uma mensagem em que um ex-bolsista dava a notícia de ter sido aprovado para o PPG em Ciências Sociais da UFBA (Doutorado). Esse rapaz foi da primeira turma do Programa Permanecer da então recém-criada PROAEE. O que fazemos a favor da igualdade de chances no ensino superior, dá frutos rapidamente e isso é algo extraordinário! O que teria sido desse estudante, morador do bairro da Paz e cujos amigos, em 2009, tinham sido quase todos assassinados (sic) sem a vida e a experiência estudantil? A universidade foi a possibilidade de uma mudança radical em sua vida e a sociedade brasileira saiu ganhando, para não ficarmos presos apenas às estatísticas dos homicídios e desastres que atingem nossa juventude. Mas ainda necessitamos de uma política mais ajustada e humana, menos economicista, de permanência e disposição para trabalhar na elaboração de propostas de pós-permanência dignas, ousadas e a favor de um Brasil muito menos desigual.

 

(BN) Atualmente você tem se dedicado ao estudo da trajetória do Movimento Estudantil (ME), desde o golpe militar. Nos anos 60, 70 e no inicio 80 o ME ocupou um papel importante nas lutas sociais, mobilizando milhares de pessoas no mundo inteiro. No Brasil, as ações do ME, nesse período, repercutiram positivamente em vários campos, dentre os quais se destacam as Artes, a Cultura e o Meio Ambiente. Contudo, nas últimas décadas a impressão que temos, como simples observadores, é que o ME vive um apagão. Os estudantes, de modo geral, não se sentem motivados a se engajarem no movimento. Assim, eu gostaria de saber a sua opinião sobre o que mudou na trajetória do ME? E quais as repercussões dessas mudanças no futuro do movimento? 

 

(SS) Bom, sobre a participação dos estudantes na política, penso que devemos olhar o que acontece, sem o filtro do que seria a “participação política” das gerações de jovens sob a ditadura. Percebo que a participação tem se diversificado em “participações”, “coletivos” cujas bandeiras são “não políticas” o que é, em si, um preconceito. Participar de um coletivo de gênero ou relacionado a um tipo de exercício especifico da sexualidade, ou ainda voltado a questões ambientais, são formas de fazer outra política, aquela que pode ser chamada de política do cotidiano. A política estudantil, tal qual conheceu a minha e, talvez, a sua geração, faz parte hoje das grandes narrativas, parte da história. Os indignados do mundo têm outros motes, outras reivindicações e não temos nada a lamentar sobre os temas que eles focam. Ao contrário! Quando eu estive envolvida como jovem estudante nas lutas contra a ditadura e por uma universidade mais aberta, mais inclusiva (nem usávamos esse adjetivo ainda) fui convencida que lutar pela igualdade de gêneros, racial ou de escolha sexual, era uma bobagem que enfraquecia o movimento, a “luta de classes”, essa que morreu com as “classes”, categoria que precisa de uma veemente reciclagem ou, quem sabe, abandono...

Então os temas e questões que os jovens elegem como centrais no presente são de outra natureza, mas tão políticas e importantes como as de outrora.

 

ACERVO

 

Alerta 128

 

Orixá

Na mitologia iorubá, orixás são ancestrais divinizados africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. Cada orixá tem características que o aproxima dos seres humanos, manifestadas através de emoções, como nós, humanos: ciúme, raiva, orgulho, vaidade. Os orixás ainda têm seus próprios simbolismos, compostas de cores, comidas, cantigas, rezas, dentre outros. Como resultado do sincretismo ocorrido no período de escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

O desvendar do vento: manifestações artísticas da dança de orixás

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11967

Corvalán, María

 

Maria Bethânia: os mitos de um orixá nos ritos de uma estrela

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/8709

Passos, Marlon Marcos Vieira

 

Laróyè: uma poética de Exu em Mario Cravo Neto

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9851

Sodré, Euriclésio Barreto

 

Epahei Iansã! música e resistência na nação Xambá: uma história de mulheres

http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9113

Rosa, Laila Andresa Cavalcante

 

Candomblé

Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil.

Cada nação africana tem, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, agrupados nas senzalas nomeavam um zelador de santo também conhecido como babalorixá no caso dos homens eiyalorixá no caso das mulheres. O candomblé não deve ser confundido com umbanda, omoloko ou outras religiões afro-brasileiras com similar origem, No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

A Linguagem dos tambores

Cardoso, Ângelo Nonato Natale

 

O Espaço Imaterial do Candomblé na Bahia: o quê e como proteger

zambuzzi, Mabel

 

L’efficacité des passions: sensibilité et identité chez l’initié au Candomblé

Bassi, Francesca

 

Um estudo sobre os sonhos no candomblé

Leite, Luiz Felipe de Queiroga Aguiar

 

Roda de samba

Manifestação bastante comum nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, as rodas de samba são semelhantes às jam sessions, do jazz: não exigem grandes desprendimentos financeiros e costumam reunir um grande número de pessoas que cantam e dançam em torno de uma mesa, onde  músicos tocam  instrumentos e cantam, muitas vezes de improviso. A roda de samba tem uma característica própria: ela não exige microfones e nem um número certo de pessoas para tocar ­− é livre de qualquer responsabilidade de um “jeito certo”. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

Viola nos sambas do recôncavo baiano

Lima, Cassio Leonardo Nobre de Souza

 

Roda de Samba: espaço de experiências, lugares de aprendizagem

Souza, Maíra Valente de

 

O Grupo da Baixa de Quintas: uma visão do samba urbano de Salvador

Clark, Haley Helena

 

O samba chula de cor e salteado em São Francisco do Conde/Ba: cultura populá e educação não-escolá para além da(o) capitá

Lordelo, Petry Rocha