N. 129 | 10 de fevereiro de 2015

Nova seção no Alerta

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

Roberto Sidnei Alves Macedo (RS) professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) para DIALOGAR com o professor Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva (RR) do Instituto de Ciência da Informação da UFBA.

 

(RS) Como você compreende a relação informação, conhecimento e formação?

 

(RR) A pergunta comporta uma complexidade imensa, considerando o acentuado grau de abstração que envolve o termo ‘conhecimento’ e também o termo ‘informação’, objeto de estudo da ciência da informação, área em que atuo. Podemos pensar, talvez, que a informação seja algo do universo da consciência; o conhecimento, algo do universo da memória; e a formação, como o conjunto de ações que resultariam numa promissora correlação estabelecida, pelo indivíduo, entre sua consciência e a memória...

Creio que, primeiramente, se deva destacar o caráter transepistêmico da relação entre os três conceitos, ou entre as três categorias, se preferirmos. Isso quer dizer que podemos utilizar o termo ‘conceito’ com o sentido de unidade de significação que constitui o discurso científico, ou, complementarmente, pensar nestas três categorias em níveis mais abstratos, ou seja, dando aos termos o caráter das unidades de significação dos discursos epistemológicos. Podemos, assim, assumir a postura científica, a postura epistemológica, ou a dialética entre ambas, e entre os termos, para refletir sobre as relações entre os conceitos/categorias. Entretanto, ainda assim haverá o caráter transepistêmico, o que exige a presença, a ação, a reflexão resultantes de uma dialética ainda mais radical, já que envolveria muitas outras áreas e subáreas do conhecimento científico.

Em seguida, é preciso reconhecer que, atualmente, a ciência da informação é uma área do conhecimento da grande área das Ciências Sociais Aplicadas. Diferentes instituições de ensino e de pesquisa ora adotam a expressão ‘ciências da informação’, no plural, ora ‘ciência da informação’. Na UFBA, temos o Instituto de Ciência da Informação (ICI). Permita-me esclarecer que a ciência da informação (CI) é uma área do conhecimento dedicada, principalmente, à análise, à coleção, ao arquivamento, à classificação, à catalogação, à descrição, ao manuseio, ao acondicionamento, ao armazenamento, à preservação, à salvaguarda, à política, à recuperação e à disseminação de informação, predominando na área da CI o entendimento de que a informação de que se trata é a ‘registrada em um suporte’, qualquer que seja o suporte, agora e no futuro.

Devo esclarecer que minha formação na área da CI se deu após uma graduação em história e um mestrado em artes visuais, na linha da antropologia da arte. Minha análise, portanto, do que seja informação, não se concentra especificamente no produto, no artefato, no registro lavrado em um suporte ao qual possamos ter acesso, abordagem mais adotada por pesquisadores advindos da arquivologia ou da biblioteconomia. Conceituo informação como processo, um processo complexo que pode levar à ampliação de nossa consciência acerca da possibilidade de conhecer e de agir num determinado contexto social. Minha pesquisa de doutoramento teve este enfoque e propõe um corpo conceitual que é a base das pesquisas que venho realizando nos últimos anos.

Um processo é uma concatenação qualquer de eventos, ou de fenômenos — fisiológicos, psicológicos, sociais, físicos — que apresentam alguma unidade ou que se reproduzem com certa regularidade. Tal processo pode gerar representações, “traduções” de eventos ou fenômenos em conteúdos informacionais. Exemplifiquemos: um conteúdo informacional digital qualquer, por exemplo, pode ser entendido como uma dimensão, uma grandeza quantificável e localizável no espaço virtual. Conteúdo, portanto, não é exatamente informação, é representação. Portanto, conteúdo é produto. Isso quer dizer, conforme proponho, que o produto não é a informação (ela é o processo); o produto é a representação.

Compreendo, assim, a relação entre os binômios informação/consciência, conhecimento/memória e formação/dialética como uma complexidade transepistêmica que nos obriga a repensar o que pretendemos da ação pedagógica e de uma educação dialética, ambas em constante transformação, mas especialmente, procurando salvaguardar a memória (no sentido de patrimônio da humanidade) para o acesso remoto que permitirá a ampliação da consciência que chamo de informacional, aquela que nos permite conhecer e agir para atuar em nosso cotidiano.

 

(RS) Levando em conta a configuração e dinâmica contemporâneas da informação, como você percebe a função socioformativa da biblioteca?

Não tenho formação específica em biblioteconomia, portanto só posso falar aqui como cidadão que sempre freqüentou bibliotecas e que atua como docente numa área responsável pela formação de arquivistas e bibliotecários. Ao falar em bibliotecas sou imediatamente remetido ao termo ‘leitura’. Fico perplexo ao indagar nas turmas em que leciono, nas primeiras semanas de aulas, sobre o título do último livro que leram e sobre quando o fizeram: são raros os casos em que alguém se manifesta, e quando isso ocorre dificilmente é lembrado o nome do autor ou do livro... Nesses momentos, confesso, sinto uma lacuna profunda na ação de educar que me move e comove. Pode ser que este comportamento de’escassez de leitura’ esteja em transformação, com o advento do acesso gratuito a títulos da literatura universal, mas não creio nisso. A biblioteca, no Brasil, precisa ser submetida a imensas transformações, deve evoluir, tornar-se, talvez, local de encontro, de reencontro. No Brasil, especialmente, quando temos a oportunidade de elaborar comparações com bibliotecas visitadas em outras partes do mundo mais favorecido economicamente, temos um verdadeiro choque de visões e de culturas... A função socioformativa da biblioteca pode existir, ou não, a depender de como se vê e de como se estrutura a instituição biblioteconômica em um país. E não se trata exclusivamente de ações de governo. Falo, naturalmente da leitura livre, estimulada, das literaturas clássica, moderna, contemporânea, e não das leituras obrigatórias que os estudantes têm que fazer para suas disciplinas. A dinâmica e a configuração informacional contemporâneas não me parecem estimular o conhecimento, a luta pela salvaguarda da memória, a ampliação da consciência informacional do jovem. Ao contrário, vivemos em um mundo de conteúdos informacionais, sim, mas ainda raso de conhecimento, e nem tão global como querem nos fazer crer nas últimas duas ou três décadas. O que se quer, me parece, nas configurações e dinâmicas ideológicas contemporâneas da informação, é vender ilusões de onipresença, de grandes trupes ilusórias constituídas por amigos ilusórios. Ou repensamos e refazemos a biblioteca presencial (professores, pais/mães e governos), ou acabarão por bastar aos jovens as imagens, especialmente para aqueles(as) que ainda não saibam minimamente como ler tais imagens. Benjamin estava certo ao definir o analfabeto do futuro como aquele que não soubesse ler uma imagem...

 

(RS) Como as Ciências da Informação estão lidando com a complexidade do atravessamento da diversidade cultural e seus processos de afirmação na legitimação da informação?

Inicialmente, reitero que, na UFBA, a denominação correta é Instituto de Ciência da Informação, no qual ofertamos os Cursos de Bacharelado em Arquivologia e em Biblioteconomia e Documentação, além dos cursos de mestrado e doutorado oferecidos pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Indago-me sobre qual complexidade de “atravessamento da diversidade cultural e seus processos de afirmação” poderíamos estar falando... Falamos da cultura milenar chinesa? Da cultura religiosa muçulmana? Da sabedoria japonesa? Falamos da diversidade cultural que inclui o alfabeto árabe? Não. Praticamente não falamos disso no Brasil, quando falamos sobre diversidade cultural. Normalmente nos atemos, sem naturalmente nos limitarmos, a questões de gênero, de descendência, de expressão... mas nem de culturas indígenas autóctones temos falado com a devida importância na área da CI...E não se pode afirmar que isso aconteça porque a presença destas culturas esteja ausente do cotidiano brasileiro contemporâneo. Pelo contrário.

Num evento ocorrido em 2009, em Lyon, na França, quando participei de seminário sobre organização do conhecimento, já se podia constatar o grande volume de comunicações que faziam referência àquelas culturas, efetivamente em busca da legitimação da informação. Pode até ser uma lacuna pessoal, mas não me lembro de ter visto algum dia um trabalho em evento brasileiro da área da CI que se ocupasse da informação produzida pela cultura chinesa, japonesa, árabe ou de alguma etnia indígena do país, para falar o mínimo. Não é isso que vem ocorrendo em vários países do mundo, cujos grupos de pesquisa em CI se dedicam a esta temática, especialmente se considerarmos a questão das bases de dados de acesso aberto.

Por outro lado, constata-se grande interesse em definir perfis profissionais da área da CI, em analisar o que se produz em teses e dissertações e mesmo sobre o perfil temático da publicação de periódicos da área, e isso se dá em grande volume de comunicações em eventos e em muitos artigos publicados, tornando o assunto até de certa forma árido, desinteressante, redundante. No esteio dos conceitos que vimos elaborando no grupo de pesquisa que lidero, o Grupo de Estudos sobre Cultura, Representação e Informação Digitais (CRIDI), no âmbito da episteme que vimos construindo no seio da CI, “a complexidade do atravessamento da diversidade cultural e seus processos de afirmação na legitimação da informação” vem sendo abordada, dialeticamente, ainda de forma incipiente, nos estudos sobre a salvaguarda do patrimônio audiovisual. Acreditamos que, com a continuidade da pesquisa, teremos algo a dizer ou mais a pensar sobre o assunto, pelo viés da imagem em movimento existente nos acervos públicos arquivísticos brasileiros.

 

ACERVO

 

Pelourinho

Popularmente chamado também de picota, é uma coluna de pedra colocada num lugar público de uma cidade ou vila, onde eram punidos e expostos os criminosos. Em Salvador, na Bahia, é o nome de um bairro localizado no Centro Histórico. Possui um conjunto arquitetônico colonial barroco português preservado e integrante do Patrimônio Histórico da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. O bairro foi carinhosamente apelidado de "Pelô". O bairro do Pelourinho é uma grande ponto turístico e palco de inúmeras atrações durante todo o ano, principalmente durante o Carnaval. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

Determinantes da difusão de sistemas de informação nas pousadas do Pelourinho em Salvador

Ferreira, Isabel Cristina Nogueira

 

A auto-sustentabilidade do Pelourinho após políticas públicas para revitalização

Bomfim, Manoela Gimima Santos do

 

Lugar e hospedagem: cultura e turismo no Centro Histórico de Salvador

Santos, Pedro Laurentino Pinheiro dos

 

Sinais dos Distúrbios Respiratórios do sono em crianças atendidas no Centro de Integração Universidade Cominidade do Pelourinho em Salvador, Bahia, Brasil

Silva, Larissa Portela Pereira da

 

A participação popular nos projetos públicos de intervenção urbana: o caso da 7ª etapa de Revitalização do Centro Histórico de Salvador

Bittencourt, José Maurício Carneiro Daltro

 

 

Preservativo

Também conhecido como camisa de vênus ou camisinha, é um contraceptivo de barreira que pode ser usado durante a relação sexual com o intuito de reduzir a probabilidade de ocorrência de uma gravidez ou de contrair doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). É colocado no pênis ereto do homem e forma uma barreira física, impedindo o sêmen ejaculado de adentrar o corpo do parceiro sexual. Uma vez que são à prova de água, elásticos e duráveis, são ainda utilizados para diversas finalidades sem propósitos sexuais. Atualmente, a maioria dos preservativos é fabricada em látex, embora alguns sejam fabricados com outros materiais, como poliuretano ou poli-isopreno. Existe também um preservativo feminino, geralmente fabricado com nitrilo. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

HIV/AIDS: comportamento sexual de mulheres e homens soropositivos

Almeida, Lílian Conceição Guimarães de

Rivemales, Maria da Conceição Costa
Parga, Erica Jordane de Souza
Paiva, Mirian Santos

 

Conhecimento de estudantes de ensino médio e universitário acerca da transmissão do HIV e uso de preservativos

Coelho, Maria Thereza Ávila Dantas

Franco, Bruno Adelmo Ferreira Mendes
Campos, Mauricio de Souza
Sá, Milena Araújo Silva
Borges, Nelson Junot
Silva, Tâmila Pires

 

Uso da dupla proteção nas experiências sexuais de mães adolescentes

Silva, Ligia Veloso Marinho da

 

Juventude, sexualidade e reprodução em uma área rural da Bahia: implicações para a enfermagem

Oliva, Talita Andrade

 

Práticas e sentidos do barebacking entre homens que vivem com HIV e fazem sexo com homens

Silva, Luís Augusto Vasconcelos

Iriart, Jorge Alberto Bernstein

 

Teatro

Do grego θέατρον (théatron), é uma forma de arte em que um ator ou conjunto de atores interpreta uma história ou atividade para o público em um determinado lugar. O espetáculo conta com o auxílio de dramaturgo ou situações improvisadas, de diretores e técnicos, e tem como objetivo apresentar uma situação e despertar sentimentos no público. É também chamado de teatro o local apropriado para a realização dos espetáculos. No dia 27 de março é comemorado o Dia do Teatro. No RI/UFBA, você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

Teatro ou terapia? A poética do oprimido e a catarse do espectador

Villa, Sandra Maria Miranda

 

A Trilha Sonora no Teatro de Animação: O Caso do Espetáculo "O Pássaro do Sol" do Grupo A Roda de Teatro de Bonecos

Smetak, Uibitu

 

Jogo-dentro-do-jogo, o trabalho de ator no teatro de cordel de João Augusto

ARAPONGA, Marconi

 

Da dança expressionista alemã ao teatro coreografado na Bahia: aspectos interculturais e pós-dramáticos em dendê e dengo e Merlin

Schaffner, Carmen Paternostro

 

Financiamento do teatro na Bahia: uma análise dos critérios de seleção dos espetáculos pelas empresas

Motta, Aline Pimenta