N.137 | 15 de Abril de 2015

Nova seção no Alerta

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

O professor Amilcar Baiardi (AB) do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História da Ciência da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professora Tânia Lobo (TL) do Instituto de Letras da (UFBA).

 

(AB) Certamente é do seu conhecimento que a Accademia della Crusca de Firenze jogou um papel essencial na transformação do Volgare, o latim popular, na língua italiana. Que instituições congêneres fizeram o mesmo com relação a outras línguas neolatinas, como o Provençal, o Romeno, o Catalão, o Castelhano etc., até o Português, a última flor do Lácio? Havia um intercâmbio que explique semelhanças gramaticais?

 

(TL) A Accademia della Crusca é de final do século XVI e, desde então, a fundação de instituições cujo fim é o estabelecimento e monitoramento de línguas oficiais tem sido uma constante, não só na Europa, mas fora dela; não só relativamente às línguas românicas, mas também no que diz respeito a outras línguas europeias. Uma visita, por exemplo, ao site da European Federation of National Institutions for Language, fundada em 2003, nos permite ter uma visão geral da história dessas instituições no espaço dos estados-membros da União Europeia. A despeito da indiscutível importância do seu legado, uma das características mais marcantes das instituições mais tradicionais foi quase sempre a de traçar políticas linguísticas que visassem à homogeneização linguística (“uma nação – um governo – uma língua”), o que colaborou para muitas histórias de glotocídios; além disso, no âmbito ainda das instituições mais tradicionais, sempre imperou uma visão um tanto purista de língua, segundo a qual se deveria manter uma suposta “pureza” original. Algumas instituições congêneres desempenharam e desempenham um papel semelhante em relação a outras línguas românicas, como é, por exemplo, o caso da Real Academia Española, fundada em 1713, cuja missão principal é “velar por que los cambios que experimente la lengua española en su constante adaptación a las necesidades de sus hablantes no quiebren la esencial unidad que mantiene en todo el ámbito hispánico.(http://www.rae.es/la-institucion)Não há, para o chamado mundo lusófono, uma instituição comparável à Accademia della Crusca nem à Real Academia Española, contudo vale a pena dizer que, no campo das políticas linguísticas, nós, falantes do português, temos assistido recentemente a mudanças muito importantes. Ao mesmo tempo em que temos o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que, sobretudo a partir da direção inovadora do linguista brasileiro Gilvan Müller de Oliveira, promove a língua portuguesa no plano internacional sem desconsiderar o fato de que se trata de uma língua pluricêntrica, temos também, no plano nacional, o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL), que não só afirma a condição plurilíngue do Brasil, mas tem sido, inclusive, uma das instituições responsáveis pela política de cooficialização de línguas indígenas e de imigração em vários municípios brasileiros. Na Linguística Românica, fazemos uma distinção entre “latim vulgar” e “vulgar”. “Vulgar” simplesmente é um termo utilizado para designar cada uma das línguas românicas vernáculas. A Accademia della Crusca exerceu um papel fundamental na afirmação do “vulgar” italiano, mas podemos remontar a origem da chamada “questione della lingua” na Itália ao tratado de retórica De vulgari eloquentia (1303-4), de Dante. Apesar de ser um texto escrito em latim, defende a expressão artística em “vulgar”, o italiano, no caso, por oposição ao latim, que naquela altura já não era língua materna de nenhuma comunidade de fala. Muitas outras “questões” se sucederam a partir do Renascimento e mesmo nós, já no Brasil da pós-Independência do século XIX, tivemos a nossa “questão da língua”, com autores como José de Alencar, por exemplo, fazendo a defesa da “língua brasileira”... A questão das semelhanças, tanto gramaticais, quanto lexicais, entre as línguas românicas deve ser considerada primeiramente em função da sua origem comum, o chamado “latim vulgar”. Compreendemos a expressão “latim vulgar” como sinônimo de “latim falado”, o que quer dizer latim anterior, contemporâneo e posterior ao “latim clássico” (uma das variedades escritas do latim, localizada, aproximadamente, no período que medeia entre o séc. I a.C. e o séc. I d.C.), e que, como qualquer língua falada, apresentava variação e estava em constante processo de mudança.

 

(AB) Dada a importância da literatura na cultura em geral e também no aprendizado da escrita, por que a leitura de obras clássicas é pouco estimulada no nosso meio acadêmico?

 

(TL) A História da Leitura é um dos campos de pesquisa mais interessantes da História Cultural. O que se lia, onde se lia, como se lia, quem lia e por que se lia são questões que poderão ter respostas muito diferenciadas, a depender de um conjunto de variáveis que consideremos. A difusão da leitura silenciosa e na intimidade, por exemplo, é uma das marcas da Era Moderna. Diferentemente do que muitos dizem, não penso que no Brasil de hoje se leia menos do que no passado; basta pensarmos que, segundo o censo de 1872, não só 99.9% dos escravos eram analfabetos, mas também que as taxas de alfabetização entre os livres não eram expressivamente maiores: 88% das mulheres e 80% dos homens livres eram analfabetos. No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, o Brasil era, como já afirmou Celso Cunha, “um vasto país rural de analfabetos”. Mas voltando ao cerne da sua questão – “por que a leitura de obras clássicas é pouco estimulada no nosso meio acadêmico?” –, confesso que não tenho dados mais seguros para responder. Não conheço estudos sobre o tema e, por isso, não sei sequer se, de fato, haveria tão pouco estímulo. Convivo, no Departamento de Letras Vernáculas da UFBA, com colegas que são professores de Literatura Brasileira, Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa. Sei que meus colegas de Departamento têm discutido abundantemente o tema da própria constituição do(s) cânone(s) literário(s) e, portanto, daquilo que comumente se tem chamado de “clássico”. Impressionisticamente, eu não diria que a leitura de obras clássicas é pouco estimulada, mas, sim, que não se estimula apenas a leitura dos clássicos. Poderíamos fazer um paralelo com o que se passa conosco, professores de Língua Portuguesa. Não tratamos apenas da norma-padrão escrita da língua portuguesa, mas da língua portuguesa em sua pluralidade de normas, o que, inclusive, abrange a descrição e a análise das normas linguísticas socialmente estigmatizadas.

 

(AB) Como julgaria minha atitude de, em cursos de pós-graduação na área de ciência sociais, introduzir leitura obrigatória de obras clássicas, como o Inferno de Dante, o Mercador de Veneza de Shakespeare e o Paraíso Perdido de John Milton? Consideraria isso uma impropriedade como pensam alguns alunos?

 

(TL) Não considero, de forma alguma, que seja uma impropriedade. A sua pergunta me fez lembrar de um texto de Edgar Morin, intitulado Os sete saberes necessários à educação do futuro. Os sete saberes seriam “o conhecimento”, “o conhecimento pertinente”, “a identidade humana”, “a compreensão humana”, “a incerteza”, “a condição planetária” e “a antropo-ética”. Ao tratar da “identidade humana”, ele nos diz:

"Chegamos, então, ao ensino da literatura e da poesia. Elas não devem ser consideradas como secundárias e não essenciais. A literatura é para os adolescentes uma escola de vida e um meio para se adquirir conhecimentos. As ciências sociais vêem categorias e não indivíduos sujeitos a emoções, paixões e desejos. A literatura, ao contrário, como nos grandes romances de Tolstoi, aborda o meio social, o familiar, o histórico e o concreto das relações humanas com uma força extraordinária. Podemos dizer que as telenovelas também nos falam sobre problemas fundamentais do homem; o amor, a morte, a doença, o ciúme, a ambição, o dinheiro. Temos que entender que todos esses elementos são necessários para entender que a vida não é aprendida somente nas ciências formais. E a literatura tem a vantagem de refletir sobre a complexidade do ser humano e sobre a quantidade incrível de seus sonhos. Como James Joyce, por exemplo, que, ao criar um personagem, mostrava que uma pessoa pode ter sentimentos totalmente diversos. Ou como o herói de Dostoievski, em O Idiota, que não sabe se a jovem está apaixonada por ele e ao fim da trama, depois de ter sofrido muito, encontra um amigo que lhe diz: “mas que imbecil você é, não entendeu que ela o ama.”

Na passagem que destaquei, ele não se refere apenas à literatura e à poesia, mas também às telenovelas...

 

 

ACERVO

 

 

DESENHO 

Composição bidimensional constituída por linhas, pontos e formas. É considerado como uma forma de manifestação da arte, em que o artista transfere para o papel imagens e criações da sua imaginação. O desenho é utilizado nos mais diversos segmentos profissionais, tornando a arte diversificada em variados contextos. É diferente da pintura e da gravura em relação à técnica e ao objetivo para o qual é criado. As ferramentas mais utilizadas no desenho são: lápis, carvão, pastéis, crayrons, pena e tinta. Possui várias modalidades, e as que mais se destacam são: desenho geométrico, projetivo, arquitetônico, ilustração, esboço e modelo vivo. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

Desenho de luz: um estudo sobre o uso da iluminação no palco

Benevides, Pedro Dultra

 

O rio São Francisco e a Chapada Diamantina nos desenhos de Teodoro Sampaio

Costa, Ivoneide de França

 

Constâncias e impermanências: recodificação do corpo, da imagem e da palavra

Souza Filho, Adalberto Alves de

 

Um porto vazio no centro da capital gaúcha - vazios urbanos na cidade contemporânea: situação atual e propostas para sua utilização

Trevisan, Tais

 

Relatos de viagens: um imaginário desenhante em cadernos de anotações

Guimarães, Rossana Glovatski Cordeiro

 

 

VOZ

Som produzido pela passagem do ar através das pregas vocais e modificado nas cavidades de ressonância e estruturas articulatórias. De modo geral, o mecanismo para gerar a voz pode ser subdividido em três partes: pulmões, pregas vocais dentro da laringe e os articuladores (lábios, língua, dentes, palato duro, véu palatar e mandíbula). Possui uma frequência variada entre 50 a 3400 Hz. A voz está associada à fala na realização da comunicação verbal e pode variar quanto à intensidade, altura, inflexão, ressonância, articulação e muitas outras características. No dia 16 de abril comemora-se o Dia da Voz. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

Dando voz ao trabalhador: os significados da disfonia para os operadores de telemarketing

Guena, Renata Mallet

 

Canção do mar de Salema: um processo de criação de ambiência sonora articulado pela voz do ator

Pereira, Juliana Rangel de Freitas

 

Consciência corporal e preparação vocal: apontamentos para o trabalho de voz com alunos de artes cênicas

Silva, Elvira Fazzini da

 

Distúrbio vocal em professores da educação básica da cidade do Salvador-BA

Souza, Carla Lima de

 

Avaliação perceptivo-auditiva e fatores associados à alteração vocal em professores

Reis, Eduardo José Farias Borges dos
Carvalho, Fernando Martins
Ceballos, Albanita Gomes da Costa de
Araújo, Tânia Maria de

 

 

COGNIÇÃO

Faculdade de aquisição do conhecimento, que ocorre através da percepção, atenção, associação, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. Sumariamente, a cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através do processo de conhecimento, que tem como material a informação do meio em que vivemos e o que já está registrado na nossa memória. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

A fala para si no adulto em atividades de construção do conhecimento

Pinho, Lidia Maria de Menezes

 

Cognição em ambientes com mediação telemática: uma proposta metodológica para análise cognitiva e da difusão social do conhecimento

Sales, Kathia Marise Borges

 

O conhecimento enquanto campo: o ente cognitivo e a emergência de conceitos

Pinheiro, Marcus Túlio de Freitas

 

Análise comparativa da capacidade funcional e cognitiva de idosos em uma unidade de referência geriátrica na cidade de Salvador – Bahia

Pinheiro, Igor de Matos

Vale, Ana Luiza Azevedo do

Jesus, Fábio Santos de

Alves, Crésio de Aragão Dantas