N.143 | 26 de Maio de 2015
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A professora Joseania Miranda Freitas (JF) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Rodrigo Baeta (RB) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA
(JF) Na semana passada, comemorou-se o dia internacional dos museus, tendo a cidade de Salvador vivido uma intensa semana de atividades. O tema escolhido pelo o secretário de Cultura, profº Jorge Portugal, para a abertura no Museu de Arte da Bahia, foi exatamente o Barroco, que é o seu campo de especialidade, por isso pergunto como você percebe as permanências da chamada “alma barroca” na cidade de Salvador?
(RB) Como arquiteto, historiador e crítico da arquitetura, é um pouco difícil discorrer sobre o Barroco para além do domínio das artes visuais, da própria arquitetura e da configuração da paisagem urbana. Neste sentido, esta resposta se torna um pouco complicada, porque creio que a noção muito tratada da “alma barroca” de Salvador, da chamada “Roma negra”, se refere especialmente às permanências vinculadas à cultura imaterial, ao patrimônio intangível, às diversas manifestações do “jeito” baiano que ainda resistem em pleno século XXI – um universo de conhecimento e possibilidades de investigação que passa longe de minha habilidade de avaliação (para além de simples opiniões pessoais, visões descompromissadas de um mineiro de Belo Horizonte residente em Salvador há bastante tempo).
Por outro lado, como já disse em outra entrevista para EDUFBA (http://www.edufba.ufba.br/2012/12/rodrigo-espinha-baeta/), prefiro não distender o Barroco para os dias de hoje, como muitos críticos o fazem – principalmente aqueles que consideram o fenômeno como um inquietante, inebriante, irracional estado de espírito que teria se manifestado durante toda a história da humanidade, em contraposição a períodos clássicos, onde a harmonia, o equilíbrio, a serenidade e a simplicidade imperariam. Não compreendo nossa controversa conjuntura cultural e artística como uma idade neobarroca, como outros teóricos afirmam. Prefiro entender o Barroco como um momento datado e concluído da história das artes, fechado entre finais do século XVI e início do XIX – mesmo reconhecendo que algumas manifestações vinculadas ao mundo contemporâneo (particularmente no caso baiano) se assemelham à cultura do espetáculo professada pelo espírito barroco há mais de 300 anos.
Pelo contrário, penso que alguns atributos essenciais de nosso mundo têm origem na sociedade barroca – mas nem por isso são barrocos. É o caso do intenso desenvolvimento de uma ideia de cultura de massa, um conceito tão arraigado e tão importante para a atualidade, e que teria nascido no século XVII nos domínios da poética barroca – como diria o historiador espanhol, José Antonio Maravall. A diferença é que, em minha opinião, nos séculos XVII e XVIII aquelas manifestações das artes plásticas, da arquitetura, da cenografia urbana, do teatro, da música, que tinham um real apelo popular – alcançando, ao mesmo tempo, os indivíduos mais doutos e os mais rasos grupos sociais – quase sempre detinham de alto padrão de concepção, execução e expressão. Ou seja, para ser acessível ao público menos favorecido a arte não estaria definitivamente vinculada a um sentido de banalização e simplificação – como acontece frequentemente no mundo moderno. Ela era idealizada através de um alto nível de erudição, de uma qualidade plástica e compositiva incondicional, mas conseguia comover aos mais ricos e aos mais pobres.
É claro que é possível achar exemplos de cultura de massa de alto padrão em nossa realidade contemporânea. Mas, acredito que sejam situações de exceção. Por outro lado, consideremos o interior ultrabarroco da Igreja de São Francisco de Assis de nossa cidade: poderemos verificar a absoluta simbiose entre altíssima qualidade artística e escandaloso apelo popular – só para citar um exemplo bem próximo.
Assim, fugindo de uma improvável busca por interfaces entre o espírito barroco e a cultura baiana atual, para mim a era barroca coincidiria com a época em que teria se produzido o legado arquitetônico de maior qualidade e originalidade em nossa história artística – apesar do aparente paradoxo do Brasil ser, nos séculos XVI, XVII, XVIII, um braço de Portugal; uma colônia além mar. Falando especificamente da conformação do espaço urbano luso-brasileiro, desconheço cidades no mundo que consigam constituir um cenário fundado em uma relação tão dramática e espetacular entre a topografia e a arquitetura religiosa – em sua conexão com a massa edificada ordinária e o ambiente natural – como a Salvador colonial, ou, especialmente, a antiga Vila Rica, atual Ouro Preto.
Consequentemente, em minha opinião as reais permanências barrocas que a cidade de Salvador guarda estão atreladas incondicionalmente à arte, à arquitetura e ao cenário urbano produzidos de meados do século XVII ao início do XIX e que ainda hoje – apesar de toda a mutilação, toda a barbárie contra o patrimônio arquitetônico e urbano – insistem em se manter. Pensemos na parte do centro histórico que coincide com as áreas do Pelourinho, Carmo, Santo Antônio, entre outros trechos da cidade.
(JF) Como poderia relacionar suas experiências de formação acadêmica com as políticas e práticas de salvaguarda e de patrimonialização dos sítios históricos e monumentos na Bahia?
(RB) Eu me formei como arquiteto em 1994, pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Já em 1995, vim para Salvador fazer mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA, concluído em 2003, e depois fiz o doutorado na mesma Instituição, finalizando em 2011. Mesmo estando vinculado à Área de Concentração em Conservação e Restauro, tanto minha dissertação de mestrado como minha tese de doutorado estão inseridas no campo de conhecimento da história e crítica da arquitetura e do urbanismo – não guardando relação direta com a salvaguarda do patrimônio material.
Não obstante, tive uma sólida formação no campo da conservação e restauração do patrimônio edificado e urbano de interesse cultural atrelada a outro curso sediado na UFBA: em 1996 frequentei e concluí o IX CECRE UFBA (Curso de Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios Históricos), hoje um mestrado profissional (MP-CECRE) que, com muito orgulho, coordeno.
Acho que seria interessante falar um pouco deste curso já que, em seus mais de quarenta anos de história, formou cerca de 280 profissionais (arquitetos e engenheiros) que, com poucas exceções, atuam massivamente na proteção do patrimônio cultural em Salvador, na Bahia, em todo o Brasil, na América Latina, África de língua portuguesa e Portugal. Como coordenador do curso, acho que é a melhor maneira de responder à pergunta.
O Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos foi aprovado pela CAPES no final de 2009, tendo sua primeira edição se iniciado em 2010. Mesmo sendo relativamente recente, é um curso que aproveita toda a experiência precedente do Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios Históricos, que foi promovido bienalmente pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia por cerca de 30 anos.
Na verdade, o CECRE foi criado na década de 1970, por convênios celebrados entre a Secretaria de Cultura do MEC / Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Fundação Pró-Memória e diversas universidades brasileiras. A partir de sua quarta versão realizada em Salvador em 1981/82, tornou-se um curso de alcance internacional, passando a contar também com a participação de alunos e consultores estrangeiros e apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Tendo em vista o sucesso desta versão – as primeiras aconteceram em São Paulo (1974), Recife (1976) e Belo Horizonte (1978) – e atendendo a recomendações das demais instituições conveniadas, passa a ter sede fixa na Universidade Federal da Bahia, através da sua Faculdade de Arquitetura e do Centro de Estudos da Arquitetura da Bahia (CEAB) – núcleo de pesquisa e extensão cuja sede passaria a acolher institucionalmente, fisicamente e academicamente o curso.
A partir de 1990, o CECRE passou a ser considerado pela UNESCO um dos mais importantes programas mundiais para a capacitação de técnicos da área de preservação de bens culturais, ápice de uma trajetória de crescimento e de reconhecimento no âmbito nacional e internacional. A sua inserção em Salvador – e a sua acolhida pela Universidade Federal da Bahia – foi de tal sucesso e envergadura que já em 1983 daria origem ao Mestrado Acadêmico em Arquitetura e Urbanismo (MAU UFBA), embrião do atual PPGAU UFBA. Em 2009 o caminho se inverteu e o PPGAU desenvolveria o projeto para a transformação do CECRE em mestrado profissional, seguindo um caminho praticamente inevitável face ao formato que o curso absorvia desde que veio para a Bahia.
Isto porque, o CECRE – em suas 15 edições como curso de especialização – foi o mais completo programa de qualificação de especialistas em conservação e restauração de monumentos e conjuntos de interesse cultural existente na América Latina, tendo formado profissionais capacitados na área e que hoje atuam em diversas partes do continente.
O contingente de alunos brasileiros abrange os mais diversos estados: Alagoas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins. Também os alunos estrangeiros formados pelo CECRE (bolsistas da UNESCO), e agora pelo MP-CECRE (bolsistas do IPHAN), configuram uma parcela cada vez maior de profissionais atuantes em países latino-americanos, africanos de língua portuguesa, além de Portugal e Itália. Já participaram do curso, arquitetos e engenheiros de Angola, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Colômbia, Cuba, Costa do Marfim, Costa Rica, El Salvador, Equador, França, Itália, Haiti, Paraguai, México, Moçambique, Nicarágua, Portugal, Peru, República Dominicana, São Tomé e Príncipe, Uruguai, Venezuela.
Os pós-graduados retornam ao mercado de trabalho com perfil para a análise e solução de problemas reais e globais. Especificamente para a área de conservação e restauro, existe a necessidade de formação adequada de recursos humanos para a proteção de bens culturais, o que tem sido aceito mundialmente como condição indispensável para a implantação de políticas de preservação eficazes e capazes de, em curto espaço de tempo, estender esta proteção a um número cada vez maior de monumentos.
Neste sentido, o Mestrado Profissional em Conservação e Restauro está provendo a crescente demanda de pessoal qualificado para atuar nas secretarias de município, de estado e órgãos federais, instituições oficiais de preservação de bens culturais. Também tem como resultado a inserção no mercado de trabalho desses profissionais em empresas privadas, que passam a intervir na área, ou que foram criadas em função do desdobramento das políticas públicas que tem resultado na contratação e terceirização das atividades previstas para a execução de obras de intervenção em áreas protegidas.
Portanto, o MP-CECRE – ao estimular a formação de qualidade na área da conservação e restauração do patrimônio edificado e urbano através do intercâmbio de professores e alunos de outros estados e países, bem como por meio do fomento a atividades de visitas de campo – está contribuindo para ajudar no atendimento a demandas originadas de carências do Estado da Bahia e de outros estados brasileiros, assim como demais países latino-americanos e africanos de língua portuguesa e Portugal, na área pertinente ao curso.
É claro que, neste contexto, o MP-CECRE tem um papel essencial para a salvaguarda do patrimônio arquitetônico e urbano da cidade de Salvador: ao formar profissionais que atuarão como técnicos de alto nível na área da conservação e restauração do patrimônio edificado e urbano; ao promover a reflexão crítica sobre os dados da preservação, como as “políticas e práticas de salvaguarda e de patrimonialização dos sítios históricos e monumentos na Bahia”; ao desenvolver projetos que possam apoiar a recuperação do patrimônio soteropolitano e baiano.
(JF) Quais os desafios e as perspectivas para o curso de Arquitetura, e em que medida o curso noturno se diferencia do diurno?
(RB) No ano passado, a Faculdade de Arquitetura conseguiu a aprovação e a implantação de um novo regimento interno – que foi discutido por pelo menos dois anos. Seu principal efeito foi a abolição do sistema departamental, dando uma grande reviravolta na gestão acadêmica do curso e trazendo consequências muito interessantes.
Antes, a Faculdade contava com cinco departamentos bastante independentes, o que não estimulava minimamente – pelo contrário, dificultava imensamente – o trânsito de professores pelas diversas áreas pertinentes à formação da arquitetura e do urbanismo.
A eliminação dos departamentos e a criação de três núcleos acadêmicos que conectam o ensino de projeto em arquitetura e urbanismo com outras áreas (desenho; tecnologia; teoria e história) está proporcionando uma maior aproximação entre os diversos campos do saber. Especialmente promove a tão desejada interdisciplinaridade, especialmente no que afeta o vinculo direto do desenho, da tecnologia e da teoria da arquitetura com aquele ofício que se configura como a função principal do arquiteto-urbanista: o desenvolvimento de projetos de edifícios, de espaços urbanos, de cidades, o planejamento urbano e regional.
Neste sentido, o curso noturno foi de primordial importância. Com colegiado próprio, teve sua primeira turma aberta no primeiro semestre de 2009. Eu fui um dos quatro professores que ingressaram no quadro docente no início, através de concurso aberto ao final de 2008 – para além do primeiro coordenador que veio do diurno para montar o curso. Já na seleção, era apontado um novo caminho para a Faculdade de Arquitetura da UFBA: ao invés do concurso prever vagas para áreas determinadas vinculadas aos departamentos então existentes (desenho; projeto de arquitetura; planejamento urbano; tecnologia; teoria e história da arquitetura e do urbanismo), a seleção previa que o futuro professor atuasse em áreas atreladas ao conteúdo de pelo menos dois departamentos – projeto de arquitetura e urbanismo, para além de mais um campo de conhecimento: tecnologia; desenho; história da arquitetura.
Esta prática foi seguida nos outros concursos e até hoje praticamente todos os professores do noturno dão aulas nos ateliês de projeto e em mais uma área do saber, promovendo inevitavelmente, a experiência da interdisciplinaridade – o que foi o embrião do novo regimento da FAUFBA.
ACERVO
ETNOMUSICOLOGIA
Ciência que objetiva o estudo da música em seu contexto cultural. Surgiu no final do século XIX e início do século XX, sob o nome de musicologia comparativa. A criação do termo em si é atribuída a Jaap Kunst, um pesquisador holandês que usou-o como subtítulo de um livro publicado em 1950. Pela sua abrangência, a etnomusicologia tem uma abordagem interdisciplinar da produção musical, pois utiliza teoria e análise musical, musicologia comparada, acústica, antropologia, sociologia, lingüística, história, psicologia, e outras disciplinas. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Aspectos simbólicos do uso acordeão na música fandangueira do Rio Grande do Sul
Caminhos da música instrumental em Salvador
O cordão de pássaro corrupião: uma prática musical bragantina
O Grupo da Baixa de Quintas: uma visão do samba urbano de Salvador
CIBERCULTURA
Conjunto de aspectos e padrões culturais relacionados com a internet e a comunicação em redes de computadores. Seu termo provém da junção das palavras “cibernética” e “cultura”. Surgiu na década de 70, por conta da convergência das telecomunicações com a informática. A cibercultura é utilizada na definição de agenciamentos sociais das comunidades no espaço eletrônico virtual e é considerada uma cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. Redes sociais, jogos eletrônicos e blogs são exemplos de cibercultura. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos eletrônicos sobre este tema, entre os quais:
Cibercultura e educação física: o virtual na formação de professores
Da cultura de massa às interfaces na era digita
Internet, participação política e organizações da sociedade civil
O professor e a autoria no contexto da cibercultura: redes da criação no cotidiano da escola
Veloso, Maristela Midlej Silva de Araujo
DESNUTRIÇÃO
É uma doença causada pela dieta inapropriada com falta de nutrientes essenciais. A causa mais frequente da desnutrição é a má alimentação, porém, outras patologias podem desencadeá-la, demandando um gasto energético maior do corpo ou impedindo a pessoa de absorver os nutrientes e se alimentar corretamente. Alguns exemplos são presença de verminoses, câncer, anorexia, alergia ou intolerância alimentar, digestão e absorção deficiente de nutrientes. Os nutrientes com o maior índice de deficiência são: ferro, zinco, cálcio, vitamina A, E, C e D, e ácidos graxos essenciais. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos eletrônicos sobre este tema, entre os quais:
O papel da saúde mental materna na desnutrição infantil: um estudo de caso controle
Prevalência de deficiência nutricional em pacientes com tuberculose pulmonar
Costa, Maria da Conceição Nascimento
Barreto, Florisneide Rodrigues
Rezende, Ionar Figueredo Bonfim
Oliveira, Verusca Silva de
Kuwano, Emília Alves
Leite, Ana Paula Barreto
Rios, Izana
Dórea, Yany Sandréa Santana
Chaves, Viviane Lisboa
Influência da violência familiar na associação entre desnutrição e baixo desenvolvimento cognitivo
Silva, Rita de C. R.
Assis, Ana M. O.
Hasselmann, Maria H.
Santos, Letícia M. dos
Pinto, Elizabete de J.
Rodrigues, Laura C.