N.147 | 30 de Junho de 2015
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
O professor Márcio Cajazeira (MC) do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com a professora Marcia Paraquett (MP) do Instituto de Letras da UFBA
(MC) Alguns setores da impressa e alguns especialistas em educação têm insistido na concepção de que os cursos de Pedagogia oferecem um conteúdo demasiadamente teórico e relegam a segundo plano as técnicas e as estratégias de ensino para a sala de aula, os quais seriam instrumentos importantes para melhorar os indicadores de aprendizagem no ensino fundamental e médio. Sendo uma docente de destaque no curso de Letras, qual é sua opinião sobre isso?
(MP) Seria difícil e pouco ético que eu fizesse qualquer tipo de comentário sobre as concepções e práticas dos Cursos de Pedagogia, porque eles constituem um espectro enorme e variadíssimo. Minha experiência em interações com pesquisadores de Cursos de Pedagogia tem sido muito positiva. Eu sou uma grande leitora do que se publica na área de educação no Brasil e tenho aprendido bastante. Acho que há sim uma enorme distância entre o que produzimos nas universidades e a realidade da escola de educação básica, mas isso não é um privilégio dos Cursos de Pedagogia. Em Letras, e quero crer que em outras Licenciaturas, isso ocorre porque nossas pesquisas estão ficando cada vez mais apressadas e não sobra tempo para interagir com os professores da educação básica. Ao contrário da pretensão de ensinar-lhes alguma coisa, os professores universitários de Cursos de Licenciaturas deveríamos estar atentos ao que aqueles professores inventam para sobreviver na selva que vem se constituindo a educação de nível básico, sobretudo, a pública.
Eu sou uma professora e uma pesquisadora da área de Letras, e me alinho com a Linguística Aplicada, que é uma disciplina que se aproxima muito de algumas disciplinas dos Cursos de Pedagogia. No caso particular da UFBA, as disciplinas de Estágio Supervisionado de línguas estrangeiras (Espanhol, Inglês, Francês, Italiano e Alemão) são ofertadas pelo Curso de Letras, diferentemente do Estágio Supervisionado de Português, que é de responsabilidade da Faculdade de Educação. Não tenho tempo aqui de discutir essa diferença de trato, mas veja-se que os professores de línguas estrangeiras da UFBA oferecemos a mesma disciplina que oferece a Faculdade de Educação. Portanto, os limites entre Letras e Educação podem ser bastante tênues. Digo isso para afirmar que todos os professores de Estágio Supervisionado, e de qualquer outra disciplina de Cursos de Licenciatura, somos tão responsáveis pela formação de professores, quanto os que atuam nos Cursos de Pedagogia.
Sobre esta primeira pergunta, ainda gostaria de comentar a alusão que se faz aos cursos de Pedagogia, que estariam relegando a segundo plano as técnicas e as estratégias de ensino para a sala de aula.
Eu não acredito em técnicas para o ensino de disciplinas e nem acredito que nenhum Curso de Licenciatura fosse capaz de ensinar estratégias que funcionassem na sala de aula. A sala de aula é um espaço vivo. Aliás, muito vivo, habitado por pessoas que mudam a cada momento. Essas pessoas são também os professores, e não só os alunos. Por isso, para além da pretensão de ensinar técnicas ou estratégias, entendo que cabe aos professores de Cursos de Licenciatura desenvolver a autonomia nos professores em formação, além de alimentá-los com muita informação, para que saibam escolher aquela que melhor se adéqua às necessidades sociais, culturais e temporais de seus alunos e dele próprio.
(MC) O período entre 1964 e 1985 compreendeu um momento em que o Brasil foi governado por uma ditadura militar. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura e perseguição política. Considerando a sua experiência docente durante a ditadura, que impacto teve o regime militar sobre as universidades públicas, em especial sobre a UFBA?
(MP) Essa pergunta é provocadora e aproveito pra dizer que em breve (agosto de 2015) a nossa EDUFBA estará publicando um livro que organizei com Savio Siqueira e que se refere à última ditadura brasileira. Trata-se, portanto, de um tema muito caro para mim.
É preciso que diga que cheguei à UFBA em 2009, pois entre 1977 e 2007 fui professora na Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, onde também fui aluna de Graduação entre 1967 e 1970, conhecidos como os anos de chumbo da ditadura brasileira. Portanto, eu acompanhei aquele processo, sentada na carteira da estudante e ocupando a mesa da professora. Foram experiências muito diferentes, mas minha juventude e, consequentemente, a pouca maturidade, não me permitiram perceber a situação como a percebo agora. E talvez por isso mesmo tenha sido salva da tortura física, embora não tenha me livrado da tortura psicológica que foi imposta a todos nós naquele momento.
Não posso, portanto, falar da UFBA, mas poderia contar coisas muito interessantes que ocorreram no espaço acadêmico de minha Graduação e do Mestrado, feito também durante a ditadura, assim como poderia falar da experiência na escola católica onde vi de perto a fúria de uma igreja repressora. Ainda posso falar de minha experiência como professora universitária, pois desde 1977 já atuava na UFF, além da fantástica experiência que vivi com a Educação de Jovens e Adultos (Supletivo, naquele momento). Mas como não tenho espaço para tanto, os convido a ler o livro tão logo esteja publicado. Para agora, me sobra destacar alguns aspectos que mostram de que forma a ditadura brasileira afetou algumas gerações.
Não foi preciso tomar choque ou ficar pendurada no pau de arara para ter sido vitima da violência da ditadura. É claro que aquelas dores físicas vencem de longe as minhas, mas nunca é muito dizer que as vitimas da ditadura são em número muitíssimo superior ao que dizem as estatísticas. Num primeiro momento, ela nos ameaçou e nos silenciou, mas não foi capaz de nos desestimular. Ao contrário, ter sido uma aluna universitária e uma jovem professora sob o regime autoritário daqueles generais fez de mim uma cidadã brasileira mais atenta a discursos que me mostravam o que estava acontecendo. Coisa muito simples, como as canções que se ouviam e as peças de teatro que se podiam ver no Rio de Janeiro daquele tempo. Acompanhada de meus colegas, alguns muito mais atentos do que eu, pude ver e ouvir o que Plínio Marcos nos falava em Navalha na Carne (1967), assim como pude aplaudir a Roda Viva (1968), de Chico Buarque.
Também fui a muitos espetáculos onde cantores ainda pouco conhecidos nos falavam da repressão através de seus versos, como foi o caso de Ivan Lins, que não se vendia muito caro naquele momento. Eu mesma participei de um grupo musical e de um grupo de teatro, para ter a sensação de que também falava. E falava. Passava horas com os colegas da UFF, lendo textos de teatro que pouca gente veria, mas que nos ajudavam a entender o que estava acontecendo. Os generais não se deram conta de que nos cursos de Letras e em outros havia uma efervescência saudável que nos ajudou a ser profissionais antenados com questões sociais e políticas. Eles nem imaginam o quanto me levaram a ser uma profissional vigilante, para que aquele quadro nunca mais se repetisse. Eu poderia dizer que, em casos como o meu, o tiro saiu pela culatra.
A universidade pública que eu frequentei durante os vinte e um anos da ditadura era um lugar de fazer gente pensar. Eu tive inúmeros professores que, mesmo com a navalha na carne, nos falavam da repressão que se vivia no Brasil e em outros países. Por ser da área de Espanhol, ainda tive o privilégio de ter sido apresentada a uma produção cultural, sobretudo literária, de países que viviam a mesma situação nossa. Li as obras do espanhol Federico García Lorca, do paraguaio Augusto Roa Bastos e do guatemalteco Miguel Angel Asturias, para citar apenas três das grandes vozes da literatura hispânica. Esses autores, através de suas literaturas, me ajudaram a saber o que faria como professora e como cidadã brasileira.
Pobres generais, além de pagarem no fogo do inferno pelo mal que fizeram a tantas pessoas, ainda têm que aceitar que me levaram a trilhar um caminho muitíssimo diferente do que projetaram para mim. Azar o deles.
(MC) Alguns cursos e livros-texto de inglês não só ensinam a língua, mas também tentam incutir algum aprendizado sobre a cultura, os costumes e o modo de vida americano ou inglês. Qual é sua reflexão sobre isso? Esta estratégia também é adotada pelos cursos e livros que ensinam a língua espanhola?
(MP) Que pergunta maravilhosa. Como já se sabe, sou professora de Espanhol, mas acompanho de perto o ensino de línguas estrangeiras no Brasil desde 1970, quando conclui meu curso na UFF. Portanto, me interesso por materiais didáticos, por políticas de ensino de línguas e um monte de outras questões que foram inquietando minha carreira que, em breve, faz bodas de ouro.
Começo dizendo que na minha concepção de língua está a cultura. Ou seja, não acredito em língua de forma abstrata e não me interesso por pesquisas de língua como sistema. Faz muitos anos que me dedico a pensar na língua como manifestação de culturas. Obviamente, estou entendendo cultura em seu sentido amplo, ou seja, como formas de vida de pessoas.
Tradicionalmente, os livros didáticos trabalharam com uma concepção de língua como estrutura. Num segundo momento (diria que os anos 90), a língua foi entendida como comunicação funcional, mas essa ideia não colou para as línguas estrangeiras, porque na verdade ninguém aprende Inglês ou Espanhol para comprar pão ou pedir uma informação na rua. É evidente que estou falando dessas línguas como disciplinas escolares e não nos cursos livres, que têm outros objetivos. Desde os anos 2000, estamos tentando pensar a língua como meio de interação social. Essa concepção predomina nos documentos que o MEC promoveu depois da Lei de Diretrizes e Bases (LDB/1996), que vai definir a educação brasileira pós-ditadura.
Não é difícil imaginar que os livros didáticos deveriam ter passado por essas etapas, mas não foi o que aconteceu, pois quase sempre chegavam de países estrangeiros (hegemônicos, sempre) e impunham um modelo de aprendizagem que fatalmente eram contrários ao que necessitávamos no Brasil. Ainda não havíamos aprendido a produzir nossos próprios materiais e mantínhamos (e ainda mantemos em alguns casos) uma abominável dependência da Europa e dos Estados Unidos. No caso do Espanhol havia total hegemonia da variante ibérica.
Esse cenário vai começar a mudar, quando as línguas estrangeiras (Inglês e Espanhol) passam a fazer parte do Programa Nacional do Livro Didático (2010). Hoje, com mais frequência, podemos encontrar livros didáticos que atendam, relativamente, aos pressupostos de nossos documentos, que compreendem as línguas estrangeiras como disciplinas que devem cumprir os mesmos papeis das demais que constituem o currículo da educação básica. Se ensina Espanhol ou Inglês nas escolas para que os estudantes brasileiros possam ver-se e compreender nossas idiossincrasias através do contraste que se estabelece com as formas de ser desses outros que falam essas línguas. Ou seja, é o outro que me ensina. Ele é meu espelho. Quanto mais eu sei do outro, mais eu posso saber de mim. Para isso serve aprender línguas estrangeiras nas escolas. Oxalá os livros didáticos deem conta dessa perspectiva algum dia.
ACERVO
ANTIBIÓTICOS
Fármacos utilizados no tratamento de infecções. Possuem a função de destruir ou controlar o crescimento de organismos causadores de infecções no organismo. O primeiro antibiótico desenvolvido foi a penicilina, em 1928, pelo médico escocês Alexander Fleming. Algumas dessas substâncias são totalmente artificiais, porém existem outras produzidas a partir de organismos vivos, tais como fungos e bactérias. O antibiótico deve ser o mais tóxico possível para o micro-organismo infectante e extremamente seguro para as células humanas. São classificados em bactericidas e bacteriostáticos. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Análise do uso de antibióticos em pacientes internados em “home care” em Salvador (Bahia, Brasil)
Prevalência e perfil de susceptibilidade a antibióticos em bactérias de culturas de cateteres
Silva, Ursula Beatriz Teixeira Andrade da
Prevalência e perfil de susceptibilidade aos antibióticos de patógenos em uroculturas de crianças
COMBUSTÍVEIS
Qualquer substância que, ao reagir com o oxigênio, produz calor, gases ou chamas. São usados principalmente para gerar energia, movimentar automóveis, máquinas industriais, dentre outros. Várias substâncias podem ser utilizadas na fabricação de combustível, sendo os de origem fóssil os mais populares (petróleo, carvão e gás natural). A célula de hidrogênio vem sendo testada como combustível majoritariamente pela indústria automobilística, pois sua queima não gera gases poluentes. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Analisando os mercados de etanol e gasolina: o cálculo das elasticidades de transmissão dos preços
O mercado de combustíveis no Brasil: intervenção e regulação estatal
Silveira Júnior, Osmani Prates
ESCRITA
Representação da linguagem falada por meio de signos gráficos. Com a escrita, o ser humano criou uma forma de registrar suas ideias e se comunicar, e sua importância para a história advém da necessidade de conservação de registros, visto que permite o armazenamento e a propagação de informações não só entre indivíduos, mas também entre gerações. As formas de escrita podem se enquadrar na categoria de escritas fonéticas, como o alfabeto das sociedades ocidentais, o qual busca uma aproximação entre um signo e um som; ou, também, de escritas ideográficas, que representam coisas ou ideias, como nas sociedades orientais; entre outras. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Psicogênese da língua escrita: gênese e estrutura de um marco na história da alfabetização no Brasil
Crítica às teorias construtivistas da fonoaudiologia sobre o processo de aquisição da escrita
Santos Sobrinho, José Amarante
Cultura escrita, oralidade e gênero em conventos portugueses (séculos XVII e XVIII)