N.155 | 25 de Agosto de 2015

Nova seção no Alerta

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!

 

Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.

 

Em virtude das dificuldades de "diálogo" nesse período de paralisação das atividades na UFBA, faremos uma retrospectiva dos primeiros DIÁLOGOS

 

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Em busca do diálogo entre as Ciências

 

A professora Vanessa Hatje (VH) do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Daniel Tourinho Peres  (DP)da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.

 

(VH) Seus estudos durante o mestrado, o doutorado e também como pesquisador consolidado na UFBA concentraram-se em diferentes aspectos sobre a filosofia, política e lógica desenvolvidos por Kant. Por que este filósofo foi o objeto de estudo escolhido por você? O que faz o trabalho de Kant ser tão especial? 

 

(DP) A decisão de começar a trabalhar a filosofia de Kant foi acidental, quer dizer, poderia ter sido um outro filósofo. A ideia era estudar um filósofo que fosse formador, ou seja, que transitasse em todos os domínios importantes da filosofia. Platão, Aristóteles, Tomás, Spinoza, Leibniz, e tantos outros, são todos filósofos formadores. Agora, o incrível é ter ficado tanto tempo em Kant, pois já se vão quase 20 anos. Aliás, quem me propôs ler Kant foi João Carlos, nosso atual reitor. Eu continuei; ele não foi nem ao segundo Seminário!Quando comecei a ler Kant, ocorreram mudanças importantes no mundo: final da Guerra Fria, queda do muro de Berlim. Esses eventos políticos tiveram um impacto importante do reordenamento do “mundo das ideias”, ao mesmo tempo em que sofre também o seu impacto. Com tais fenômenos e a concomitante saída de cena do marxismo, Kant se tornou um pensador “natural” para continuar refletindo sobre as questões políticas, como democracia, justiça, igualdade e liberdade. Pois ele representa uma reafirmação do projeto moderno, mas sem o peso do determinismo ou da objetividade hegeliano-marxista. Então, essa escolha, que foi acidental, acabou como que seguindo uma tendência geral.

Mas a verdade é que existem várias maneiras de ler um filósofo, Kant em particular. Meu interesse está em um Kant aporético, isto é, que avança uma série de questões e problemas, mas que guarda um certo ceticismo quanto a ter conseguido apresentar a última resposta para todos eles. Essa é uma maneira de ler que põe a política como central para uma compreensão da racionalidade humana, ou seja, é na política, no juízo política que melhor se expressaria a razão. Mas isso implica em reconhecer que a razão lida com o contingente, com o particular; implica em reconhecer que nossos juízos, mesmo que comportem uma pretensão de universalidade e necessidade, são provisórios, isto é, devem ser revistos. Muito kantiano ortodoxo torceria o nariz para isso. Mas e daí? Entre o conforto do absoluto e abertura do contingente, fico com a abertura do contingente.

 

 

(VH) O desenvolvimento da pesquisa em áreas de ciências dura, comparado com as ciências humanas, inclusive a filosofia, faz uso de premissas, métodos e ferramentas bastante diversos. Parece-me que os pesquisadores de ciências duras, muitas vezes carecem de uma formação adequada em filosofia da ciência. Esta teria sido desejável e, potencialmente, possibilitaria a partir de competências e habilidades dos pesquisadores o desenvolvimento de um processo de reflexão diferenciado. Como você vislumbraria a possibilidade de uma maior aproximação entre as ciências humanas e duras?

 

(DP) Se a gente prestar um pouco de atenção verá que essa distinção entre ciência “dura” e ciências humanas é bem recente. Data do século XIX, a partir da distinção entre ciências da natureza e ciências do espírito. Antes você já tem alguma coisa em termos de distinção, por exemplo, entre conhecimento histórico e conhecimento racional, mas é no XIX que as humanidades se afirmam como um domínio próprio. Assim, durante muito tempo o que prevaleceu foi uma ideia única de ciência, com procedimentos também únicos. Não atoa, durante muito tempo a matemática teve um lugar privilegiado entre as ciências, uma vez que nela se realizava da forma mas perfeita o método de um conhecimento rigoroso. A pretensão de Descartes, por exemplo, de resto compartilhada por toda racionalismo clássico, era fazer filosofia do modo geométrico, isto é, segundo uma ordem de razões. Com a crítica ao racionalismo, a experiência, o papel da experiência no conhecimento acaba por ter o seu lugar reconhecido, mas nunca da mesma forma e com o mesmo pelo que a matemática, a lógico-matemática o fora. Nesse particular, a biologia e a química talvez tenham sido dos últimos campos do conhecimento a adquirirem o estatuto de ciência, justamente pela dificuldade em aplicar a matemática aos seus objetos.

Acho que um diálogo maior entre filosofia e as ciências seria muito benéfico para todos. Veja que no Brasil, a filosofia fica de modo inequívoco no campo das humanidades. Mas não é assim em todos os lugares. Há toda uma tradição da filosofia que trabalha muito próximo das ciências “duras”, da física e da matemática, sobretudo. Agora, é preciso muito cuidado nessas aproximações, porque os objetos são muito distintos, especialmente no que diz respeito aos objetos das ciências duras e das ciências humanas. Não é a mesma coisa eu analisar movimentos dos astros e movimentos sociais, de modo que é bom sabermos o que cada um faz, como faz e porque faz, mas não devemos achar que há uma única forma de fazer ciência, que há um único modo de analisarmos a realidade. Até porque, do meu ponto de vista, um dos ganhos da modernidade está na distinção entre natureza e cultura, e não gostaria de ver isso perdido.

Particularmente, eu tenho um muito maior interesse numa aproximação da filosofia com a arte do que com as ciências. E isso por razões que não são apenas domésticas. Acho que a arte acaba por apresentar uma maneira de pensar a diferença muito mais aberta e muito mais rica de possibilidades do que as ciências. Atualmente há todo um esforço em aproximar filosofia e ciência, sobretudo no campo da psicologia e da neurociência que eu acho lamentável.

 

 

(VH) Existe uma ampla discussão sobre a implantação da filosofia no ensino médio e fundamental. Certamente os alunos iriam se beneficiar com a leitura, análise crítica e discussão de textos clássicos de filosofia. No entanto, os manuscritos e livros de filosofia não são exatamente textos didáticos. Como você enxerga o potencial sucesso da implantação da filosofia na rede pública e mesmo privada visto a dura realidade do ensino no Brasil. Temos condição de suceder e ter ganhos reais nesta tarefa?

 

(DP) Sou muito cético quanto a isso. Não apenas com relação ao ensino de filosofia, mas com o ensino em geral em nosso país. Acho que estamos perdendo um tempo enorme, e esse tempo não temos como recuperar, porque as gerações simplesmente sucedem umas às outras. Eu realmente não sei o que fazem as escolas de educação. Mas a culpa, claro, não é apenas delas. Pode dizer que é chavão, mas o professor tem de ser

valorizado, e isso passa por melhores salários. Não há bom professor, quando se tem de ficar mais de 40 horas em sala de aula para poder sobreviver com dignidade. Então, chega a ser absurdo cobrar do professor.

Mas o fato é que eu vejo uma dificuldade muito grande na formação dos professores, especialmente se levarmos em consideração o que está disponível para os alunos em termos de acesso à informação – e claro que reconheço que há enormes diferenças quanto a essa disponibilidade entre as diferentes camadas da sociedade. São poucos os professores que conhecem o que ensinam para além do livro didático. E se não conhecem, não podem tornar o objeto interessante. Acho que a escola carece enormemente de imaginação. Mas para a imaginação funcionar bem, é preciso ir além do livro didático. Eu disse ir além. Porque o que pode estar acontecendo é um ficar aquém.

Quanto à filosofia propriamente dita, acho que ela poderia justamente contribuir para tornar o ensino mais imaginativo e investigativo. Mas para isso ela deveria estar muito próxima das outras disciplinas. Seria legal, por exemplo, quando se apresentasse uma questão de matemática, se apresentasse, ao mesmo tempo, a sua variante filosófica. É preciso despertar a curiosidade, isso é o melhor que a escola pode fazer. A filosofia pode ajudar nisso? Pode. Vai? Não sei, no geral acho que não.

 

 

ACERVO 

 

CAMPOS RUPESTRES 

Ecossistemas encontrados sobre os topos de serras e chapadas de altitudes superiores a 900 metros, com afloramentos rochosos onde predominam ervas, gramíneas e arbustos. Apresentam topografia acidentada e grandes blocos de rochas com pouco solo, geralmente raso, ácido e pobre em nutrientes orgânicos. Estima-se que existem, no mínimo, 3 mil espécies compondo a vegetação dos campos rupestres; desse número, 30% são espécies endêmicas, ou seja, exclusivas desses campos. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais: 

 

Influência de fatores ambientais na distribuição espacial de uma comunidade de anuros em área de altitude no domínio das caatingas

Xavier, Ariane Lima

 

Orchidaceae no município de Jacobina, Bahia, Brasil

Silva, Tiago

 

Influência de fatores ambientais na distribuição espacial de uma comunidade de anuros em área de altitude no domínio das caatingas

Xavier, Ariane Lima

 

Genetic and morphological variability in Cattleya elongata Barb. Rodr. (Orchidaceae), endemic to the campo rupestre vegetation in northeastern Brazil

Schnadelbach, Alessandra Selbach

Lambert, Sabrina Mota

Borba, Eduardo Leite

Cruz, Daiane Trabuco da

Ribeiro, Patrícia Luz

 

Briófitas de campos rupestres da Chapada Diamantina, Estado da Bahia, Brasil

Bastos, Cid José Passos

Yano, Olga

Bôas- Bastos, Silvana B. Vilas

 

BAIRROS

São comunidades ou regiões dentro de uma cidade ou município. São habitados por todas as classes sociais. Os bairros situam-se em diversas áreas, como: centro da cidade, próximo ao mesmo, nas periferias ou em áreas longínquas, nos subúrbios, sendo até mesmo polos turísticos, centros financeiros, industriais ou de serviços. Podem ser abertos ao público ou privativos, apresentar arborização (bairro-jardim), planejamento urbano, associações de moradores, parques, praças, dentre outras características. São classificados em: residenciais, comerciais e industriais. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais: 

 

Um olhar sobre o bairro: Aspectos do Cabula e suas relações com a cidade de Salvador

Gouveia, Anneza Tourinho de Almeida

 

Sentidos e significados de práticas juvenis em um bairro da cidade de Salvador, Bahia, Brasil

Pimentel, Adriana Miranda

 

Território afrodescendente: leitura de cidade através do bairro da Liberdade, Salvador (Bahia)

Ramos, Maria Estela

 

Produção do espaço urbano e requalificação de áreas degradadas: o caso do Bairro Santa Cruz, entorno da Lagoa das Bateias, Vitória da Conquista, Bahia

Passos, Júlia Gabriela Fernandes Gonsalves

 

Visualização urbana digital: sistema de informações geográficas históricas para o bairro do Comércio

Rocha, Heliana Fonseca Mettig

 

 

AUTOCONHECIMENTO

Significa o conhecimento de um indivíduo sobre si mesmo, suas próprias características, sentimentos, inclinações, etc. Pode-se buscar o autoconhecimento a partir da detecção dos defeitos e qualidades, sendo esses externos (corporais) e internos (emocionais). A importância da prática de se conhecer melhor faz com que uma pessoa tenha controle sobre suas emoções, independente de serem positivas ou não, analisando seu comportamento obtido até então e as atitudes tomadas para que se consiga detectar maus atos e comportamentos a fim de que não mais ocorram. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:

 

O retorno do velado: radicalidade filosófica e autoconhecimento como fundamentos da educação libertadora

Souza, Eduardo Boaventura de

 

Sentir, Criar, Dançar: o autoconhecimento como fundamento para a Dança-Educação

Silva, Maria Aparecida Linhares dos Santos

 

Ludicidade e educadores: ludicidade, cidadania e autoconhecimento na história de vida de educadores

Oliveira, Washington Carlos Ferreira

 

Mente, mundo e autoconhecimento: uma apresentação do externalismo

Silva Filho, Waldomiro José da

 

Cognição em ambientes com mediação telemática: uma proposta metodológica para análise cognitiva e da difusão social do conhecimento

Sales, Kathia Marise Borges