N.146 | 16 de Junho de 2015
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
O professor Alessandro Faria (AF) da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Alberto Brum (AB) do Instituto de Física da UFBA
(AF) Ao longo os últimos anos, mais especificamente os últimos 40 anos, os pesquisadores e cientistas começaram a se preocupar sobre as questões climáticas do planeta. O aquecimento global é uma das mais citadas, apesar de haver controvérsias... Entre elas o colega Luis Carlos Molion da UFAL que sinaliza que é exatamente o contrário: estamos esfriando!
Gostaria de saber qual a sua opinião sobre essa controvérsia e se há uma relação direta entre o aquecimento global e o aumento da oferta de produtos e serviços crescentes nesse período?
(AB) Para contextualizar melhor a resposta esclareço que quando falamos dos processos atmosférico estamos nos referindo à TROPOSFERA, camada de ar com espessura de aproximadamente 10 km e onde ocorrem todos os fenômenos climáticos. Então, a atmosfera é uma importante reserva natural. Ela protege a terra da radiação cósmica e meteoritos. Transfere calor da região equatorial (quente) para os polos (frias) a água dos oceanos para os continentes e prover o ar para a vida na terra. Na realidade é uma máquina térmica transportando calor de uma fonte quente para uma parte fria.
A atmosfera fica raramente em repouso. O movimento é principalmente na direção horizontal, contudo, os elementos desse fluido apresentam uma forte tendência em mover-se em espiral. Esses rodopios ou redemoinhos podem ser tão grandes como um continente (macroescala), do tamanho de uma nuvem de tempestade (mesoescala), ou pequeno quanto uma cidade (microescala). Em um grande redemoinho existe uma grande quantidade de pequenos redemoinhos em tamanhos que podem atingir magnitude de milímetros a quilômetros.
A fonte primária de energia para o movimento atmosférico é o Sol. Em seguida essa energia sofre inúmeras transformações que ocorrem na superfície e na camada limite atmosférica mais inferior para produzir todos os fenômenos climáticos que tem lugar na troposfera.
A atmosfera que observamos hoje se acredita que veio a ter essa composição como resultado da expulsão das substâncias voláteis do interior da terra pelas atividades vulcânicas. A atmosfera é redutora. No presente, a atmosfera é constituída grosseiramente de 78% de nitrogênio, 20,9% de oxigênio, 0,9 de Argônio e 0,04 de dióxido de carbono de massa. Em contraste, os gases emitidos pelos vulcões formam uma mistura de aproximadamente 85% de vapor de água, 10% de dióxido carbono e uns pouco por cento de nitrogênio e enxofre ou componentes de enxofre (dióxido de enxofre e sulfetos de hidrogênio). O oxigênio livre é notavelmente ausente nas emissões vulcânicas.
A troposfera além de conter ar seco e limpo, conta também com vapor de água, que está na forma gasosa e não tem cor e é inodoro e, no entanto, se mistura perfeitamente com os outros gases atmosféricos. A concentração de vapor de água no ar é conhecida por umidade tendo importância primordial como um fator ambiental. Nessa camada, a troposfera, o vapor de água pode se condensar formando nuvens e neblina. Se a condensação for excessiva, chuva, neve, granizo ou chuva misturada com neve, coletivamente conhecida como precipitação.
A atmosfera é composta por um grupo quase “permanente” de gases, um grupo de gases de concentração variável, e várias partículas sólidas e líquidas, conhecidas como aerossóis. Se o vapor de água, o dióxido de carbono, por ser o quarto componente em abundância na atmosfera da terra, é considerado o vilão do aquecimento global, o ozônio e os gases que permanecem virtualmente com proporções constantes acima de uma altura de 90 km a despeito de praticamente todo o gás atmosférico está contido nos primeiros 30 km de altura.
Então veja a complexidade da pergunta. As mudanças climáticas são evidentes através de vários parâmetros e pesquisas desenvolvidas, principalmente, a partir dos últimos quarentas anos. Ocorre que a difusão de controles ambientais e climáticos através de inúmeros sensores, satélites e outros sistemas de aferição meteorológicos, têm evidenciados mudanças no clima global muito rápidas. Com o desenvolvimento industrial acelerado de várias nações como, principalmente, dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) resultado da implantação de novas plantas industrias, produção de automóveis e desmatamento (principalmente no Brasil, Congo e Indonésia onde estão as maiores florestas tropicais) produzem forte poluição em todo o planeta.
Certamente essas conclusões de que as mudanças climáticas são resultados dos efeitos de processos antropogênicos (produzido pelo homem) e não naturais tem controvérsias e a comunidade científica mundial não é unânime. Contudo, a maioria dessa comunidade segue o vetor de que a maior parte dessas mudanças sejam resultado das atividades humanas nas mudanças decisivas no meio ambiente, mesmo reconhecendo que a poluição ambiental provem 90% de fontes naturais. Ressalte-se que essa poluição é muito importante para o funcionamento adequado da atmosfera em sua formação de nuvens, precipitação e outros processos naturais. Os 10% provenientes das atividades do homem são mais concentradas emitindo metais pesador e outro gases deletérios para o meio ambiente.
O professor Luis Carlos Molion (que conheço bem) faz parte da comunidade que nega que as mudanças climáticas sejam provocadas pelo homem e sim apenas naturais. Ocorre que essas mudanças naturais são bastante lentas e as antropogênicas ocorrem em questões de décadas, conforme o IPCC (Intergovernamental Panel on Climatic Change em inglês ou Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas em português) onde congrega a maioria dos cientistas climáticos, meteorologistas, físicos da atmosfera e tantos outros. O professor Molion e outros cientistas não concordam com essas conclusões.
Nesses aspectos, a ciência precisa se debruçar muito na pesquisa para encontrarmos uma origem mais adequada dessas mudanças, principalmente no monitoramento de todo o planeta e no desenvolvimento de computadores mais eficientes do que os atuais como o futuro computador quântico, desde quando a matriz é extremamente complexa.
(AF) O Sr. estudou sobre o monitoramento do céu para uma possível colisão de asteroides no nosso planeta. Se eventualmente um corpo de massa e volume elevados entrar em rota de colisão com a Terra, como poderíamos nos proteger efetivamente? Há projetos de proteção desenvolvidos nessa linha?
(AB) O Sistema Solar tem milhões de asteroides e muitos podem colidir com a Terra e outros planetas, como aconteceu com Júpiter em 1994. A maioria dos asteroides tem órbitas entre Marte e Júpiter. Ocorre que mesmo assim, a Terra recebe aproximadamente 100 mil meteoros e micrometeoros por dia. Na sua grande maioria não consegue atingir o solo devido à proteção dada pela atmosfera. A maioria dos meteoros são da ordem da dimensão de grãos de areia e de arroz, menores e maiores que são queimados inteiramente na atmosfera (conhecidos popularmente como estrelas cadentes), outros tantos de dimensões de centímetros, metros e dezenas de metros, podem atingir o solo. Há aproximadamente 50 mil anos atrás a queda do meteoro que caiu no Arizona, Estados Unidos tinha mais ou menos 50 metros de diâmetro e produziu uma cratera (chamada a cratera do meteoro) de 1,6 km de diâmetro e 150 metros de profundidade. Então veja a que a Terra está sujeita no presente e no futuro. O meteoro que caiu na Terra há 65 milhões de anos atrás na Era Cretácea, extingui os dinossauros e 60 % da vida do planeta. Sua queda foi na península de Yucatán na região conhecida como Chicxulub, no México e formou uma cratera, ainda visível, de aproximadamente 180 km de diâmetro e 1,5 km de profundidade. O meteoro tinha aproximadamente 10 km de diâmetro, aproximadamente do tamanho do Monte Everest.
A ciência sabe que esse evento pode ocorrer novamente. Só não sabemos quando, mas que ocorrerá, ocorrerá. Pode ser daqui a alguns meses, anos, século, milhares de anos, quiçá em milhões de anos. Para um evento dessa magnitude não temos ainda nenhuma proteção adequada e se ocorrer em uma certa brevidade será a extinção da humanidade e de sua civilização. Já existe uma vigilância espacial tentando localizar os prováveis asteroide nas vizinhanças da Terra, com a possibilidade de nos atingir. Um dos candidatos que pode nos ameaçar é o asteroide Apophis, com 325 metros de largura, foi descoberto em junho de 2004 e ganhou má fama depois de um estudo preliminar sugerir que ele tinha 2,7% de chances de atingir a Terra em 2029. Observações subsequentes descartaram qualquer impacto nesse ano. Até 16 de abril de 2008, a probabilidade de impacto em 13 de abril de 2036 era calculada como sendo uma probabilidade de 1 para 45.000. Uma data de impacto adicional em 2037 também foi identificada. A probabilidade para esse encontro foi calculado como sendo 1 em 12,3 milhões. Observações adicionais melhoraram as predições e eliminaram a possibilidade de um impacto na Terra ou na Lua em 2029. Entretanto, uma possibilidade ainda existe de que na passagem de 2029 o Apophis venha a passar por uma fenda de ressonância gravitacional, uma região precisa não maior que 600 metros, causaria um impacto direto em 13 de abril de 2036.
Os projetos existentes são apenas de monitoramento do céu e daqueles asteroides na vizinhança de Terra. Note que quando falamos em vizinhança estamos nos referindo a milhões de quilômetros, pois são medidas astronômicas. Muitas pessoas falam de se lançar, eventualmente, bombas nucleares, que tudo indica que seria um desastre. Quem sabe, no futuro, em um horizonte de 30 a 50 anos possamos obter tecnologia para nos proteger, isso se tiver interesse político das grandes nações. Como os governos e os políticos são muito obtusos, só o futuro dirá.
(AF) O Sr. considera possível desenvolver uma metodologia para transformar a maioria dos descartes industriais em matéria-prima de novo sem apelarmos para a reciclagem? Algo como, lixo como alimento? Conhece algum estudo nessa direção?
(AB) Esse é um processo em pleno andamento. Contudo a reciclagem de inúmeros materiais é uma realidade em desenvolvimento acelerado, como metais, materiais orgânicos, alimentos e o lixo doméstico e industrial em geral. Precisamos fazer muito mais. Não há uma forma de transformar os dejetos industriais em matéria prima sem a utilização da reciclagem. Pode-se sim, utilizar materiais orgânicos em adubo e para outros fins, como a produção de energia. Desde a década de 1980, a produção de embalagens e produtos descartáveis cresceu significativamente, assim como a produção de lixo, principalmente nos países industrializados. Muitos governos e ONGs (Organizações Não Governamentais) estão cobrando das indústrias atitudes responsáveis. Nesse sentido, o desenvolvimento econômico deve estar aliado à preservação do meio ambiente. Atividades como campanhas de coleta seletiva de lixo e reciclagem de alumínio, plástico e papel, já são corriqueiras em várias cidades do mundo.
No processo de reciclagem, que além de preservar o meio ambiente também gera renda, os materiais mais reciclados são o vidro, o alumínio, o papel e o plástico. Esta reciclagem ajuda a diminuir significativamente a poluição da água, do ar e do solo. Muitas empresas estão reciclando materiais como uma maneira de diminuir os custos de produção de seus produtos.
Outro importante benefício gerado pela reciclagem é a quantidade de novos empregos que ela tem gerado nos grandes centros urbanos. Muitas pessoas sem emprego formal (com carteira registrada) estão buscando trabalho neste ramo e conseguindo renda para manterem suas famílias. Cooperativas de catadores de papel e alumínio, por exemplo, já são comuns nas grandes cidades do Brasil.
Diversos materiais como, por exemplo, o alumínio pode ser reciclado com um índice de reaproveitamento de aproximadamente 100%. Derretido, ele volta para as linhas de produção das indústrias de embalagens, reduzindo os custos para as empresas.
As universidades, industrias e órgãos governamentais têm desenvolvidos novas tecnologias de reciclagem. O planeta não pode prover toda a matéria prima para os processos econômico-industriais sem contar com os novos sistemas de reciclagem. Lembremos que muitas matérias primas são finitas, precisamos fortemente reciclá-los. O meio ambiente agradece, se preserva e se fortalece. Este é o século da água e o tratamento dos resíduos líquidos (esgoto) é fundamental para a sustentabilidade desse modelo econômico, muitas vezes destrutivo e agressivo, para o meio ambiente. Todo esse processo passa fortemente na conscientização das pessoas para a proteção do planeta.
ACERVO
CATALISADORES
Substâncias que acelera a velocidade de uma reação, sem ser consumido, durante o processo. Tem a capacidade de acelerar a reação química sem alterar a composição dos seus reagentes e produtos. No organismo humano existem diversos catalisadores, denominados de enzimas. São muito utilizados na indústria química, sobretudo na petroquímica. Cada reação química requer um tipo diferente de catalisador, sendo os mais comuns: metais (cobalto, níquel, platina e paládio) ácido sulfúrico, base (hidróxido de sódio) e enzimas ptialina, pepsina e tripsina. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Catalisadores para produção de hidrogênio por reforma a vapor do etanol e seu uso em SOFC
Obtenção de catalisadores de óxidos de ferro contendo magnésio para a síntese de estireno
Propriedades de catalisadores oriundos de Perovskitas baseadas em ferro e cobalto
Santos, Hilma Conceição Fonseca
CÁDMIO
Subproduto da mineração do zinco. Seu símbolo é Cd, número atómico 48. Foi descoberto em 1817 pelo químico alemão Friedrich Strohmeyer. É um metal raro, sendo mais facilmente encontrado em ambientes aquáticos (águas de superfícies subterrâneas). Possui propriedade de ser insolúvel, maleável e dúctil. Todos os compostos de cádmio são extremamente tóxicos e venenosos. É muito utilizado em agente de luminescência colorida em tubos de imagem de televisores, fabricação de ligas níquel/cádmio para baterias recarregáveis, dentre outros. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Desenvolvimento de estratégias analíticas visando avaliação nutricional e toxicológica de arroz
Efeitos de metais pesados sobre o controle central do equilíbrio hidroeletrolítico
Chumbo e cádmio no sangue e estado nutricional de crianças, Bahia, Brasil
Avaliação dos teores de cádmio e chumbo em pescado proveniente de São Francisco do Conde, Bahia
Santos, Luís Fernandes Pereira
ACESSIBILIDADE
Significa permitir e incluir a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida na participação de atividades como o uso de produtos, serviços e informações, visando sua adaptação e locomoção e eliminando as barreiras. Alguns exemplos são os prédios com rampas de acesso para cadeira de rodas e banheiros adaptados para deficientes. Consiste também em ter acesso a todo e qualquer material produzido, em áudio ou vídeo, para tanto adaptando todos os meios que a tecnologia permite. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Botelho, Maria de Fátima Cleômenis
Acessibilidade: análise conceitual e normativa no contexto das pessoas com deficiência
Acessibilidade na educação musical para educandos com deficiência visual no contexto da sala de aula