N.148 | 7 de Julho de 2015
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
Em virtude das dificuldades de "diálogo" nesse período de paralisação das atividades na UFBA, faremos uma retrospectiva dos primeiros DIÁLOGOS
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
O professor Marcos Palacios (MP), da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com o professor Olival Freire (OF), do Instituto de Física da UFBA.
MP - Você é um Físico, com Licenciatura e Bacharelado em Física pela UFBA, Mestrado em Ensino de Física e Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo, além de pós-doutorados e estágios sênior em várias das mais prestigiosas universidades do mundo em seu campo de estudo. Tem um Prêmio Jabuti por seu livro sobre Teoria Quântica e suas implicações culturais. O que o levou a abraçar essa vertente da História, Filosofia e Pedagogia da Física como sua área de trabalho, a partir de sua formação inicial? Que influências estiveram presentes em tal escolha?
OF - Marcos, eu lhe agradeço a questão porque ela me permite um acerto de contas comigo mesmo. A minha opção por esta área resultou de uma combinação de circunstâncias, como quase tudo em nossas vidas. Eu nasci em Jequié e vim para Salvador com 15 anos cursar o secundário no Colégio Maristas. Ali eu compreendi que eu gostava muito de ciências, matemática em particular, mas também física, biologia e um pouco de química. Por isto optei por Engenharia Elétrica, na UFBa, porque era a engenharia que me parecia com mais carga de matemática e de física. Na universidade eu me desencantei com a Engenharia, muito por influência da falta de contato com os professores da Engenharia no primeiro ano do curso, e fui seduzido para a Física pelas aulas do Professor Benedito Pepe, que incluíam noções de física moderna, relatividade e estrutura da matéria, além de atividades de iniciação à pesquisa em laboratório dirigido por este professor. Um dia, eu já estava no segundo ano de Engenharia, ele me perguntou por que eu não mudava para a Física. Em menos de 24 horas eu me decidi, para desalento da minha mãe que não compreendeu a minha decisão. Eu espero que hoje a Politécnica cuide mais de seus alunos no primeiro ano porque só na minha geração foram quatro que abandonaram Engenharia para a Física. Então aqui está o primeiro elemento, o gosto pela física e pela matemática. O segundo elemento é que eu fiz uma carreira acadêmica tardia, comecei a me encaminhar seriamente para um mestrado quando eu já tinha 33 anos. A razão para tal atraso é que desde a graduação e até pouco depois do final do regime militar eu me dediquei intensamente à militância política, a ponto de descuidar da minha formação posterior à graduação. Não me arrependo, fiz parte de uma geração que contribuiu para a democratização do país. Quando eu me decidi a fazer um mestrado, em 1987, percebi que a minha paixão pela física tinha sido temperada com outros interesses e que eu me inclinava muito por temas ligados à história e filosofia das ciências e aos fundamentos da física. Estas inclinações tinham relação com a minha experiência de militante político, algo que só compreendi mais tarde, porque a participação política abria estes caminhos da reflexão histórica e filosófica. Contudo, ao buscar uma melhor definição dos temas de interesse eu fui muito influenciado por um curso de Mecânica Quântica ministrado pelo Professor Aurino Ribeiro, colega do IF-UFBa. Ali eu compreendi de maneira sistemática algo que eu antes compreendia muito vagamente. Tratava-se da existência de uma controvérsia científica, ainda atual, nos fundamentos da teoria física mais fundamental, a teoria quântica. Uma controvérsia que envolvia física, teoria e experimento, filosofia, história, ideologia e política. Eu me apaixonei pelo tema. Foi a minha segunda paixão intelectual, já que a primeira havia sido com a física. O bom desta paixão tardia é que eu não precisei abandonar a anterior. Daí para a frente tudo dependeu de mais circunstâncias, relacionadas a onde e como fazer um mestrado com este tema. Eu fui muito feliz de ter sido acolhido pela Profa. Amélia Hamburger (1932-2011), no Instituto de Física da USP, uma sugestão que me veio da minha colega Cristina Penido. Feliz porque Amélia aceitou orientar uma dissertação que era basicamente em história e epistemologia dentro de um mestrado em ensino de física. Ainda sobre influências, na minha saída da UFBA para a USP eu contei com o apoio decisivo de dois colegas, Judite e Paulo Miranda.
“A pesquisa em ensino de física surgiu como decorrência do meu retorno à UFBa, motivado pela relevância social da melhoria do ensino de física”
Ao trabalhar com Amélia comecei uma segunda etapa na minha formação. Em São Paulo eu ainda me envolvi fortemente com a militância política, participando da campanha que elegeu Luiza Erundina Prefeita de São Paulo e da primeira campanha presidencial de Lula. No fim do mestrado eu compreendi que um doutorado bem feito ia requerer um redirecionamento na minha vida, reduzindo a militância política ainda que sem mudar as minhas convicções. Eu tive como um dos orientadores no doutorado o Professor Michel Paty, Pesquisador do CNRS francês e visitante na USP, o qual, junto com Amélia, foram os responsáveis pelos valores cognitivos e éticos que incorporei na minha vida de pesquisador. Com Amélia aprendi, por exemplo, a não misturar a atividade acadêmica com proselitismo político. Ela dizia que havia aprendido isto com Mario Schenberg. Com Michel aprendi que poderia combinar a sensibilidade para as questões conceituais e filosóficas com as questões históricas e sociais. Esta combinação não era trivial face às clivagens que tomavam conta da história da ciência como disciplina acadêmica. Michel Paty ainda me ajudou de outra maneira. Como Professor Visitante na UFBa, em 1995, ele nos ajudou a nuclear o grupo que depois criaria o Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências.
Uma última flexão na minha vida acadêmica ocorreu na última década, quando eu iniciei uma relação de interação mais forte com colegas norte-americanos, sem prejuízo das relações que mantenho com os colegas franceses. Aqui também teve um pouco de circunstância. O projeto de pesquisa ao qual eu me dediquei, entender as transformações ocorridas na controvérsia sobre os fundamentos da teoria quântica, dependia de consulta a arquivos que estavam nos EUA. Além disto, eu fui sensível a uma recomendação do João Reis, nosso colega da História da UFBa. Ele havia me dito que com os temas que eu havia trabalhado no doutorado, vida e obra do físico David Bohm, eu precisava publicar em inglês para ter uma audiência mais diversificada capaz de ler e criticar o que eu escrevia. Até aquele momento eu privilegiava publicações em português e francês. A experiência com os colegas norte-americanos tem sido muito frutífera. Aprendi muito com colegas como Paul Forman, David Kaiser, Sam Schweber, e Joan Bromberg, que veio ao Brasil duas vezes e é co-organizadora do livro que você fez referência. A propósito deste livro, ele foi co-organizado também por Osvaldo Pessoa Junior. Conheci Osvaldo em São Paulo, ele ensinou na Bahia por dois anos e depois fez concurso na USP. Tenho uma colaboração com ele em muitos projetos. Para a formação dos meus alunos esta relação com os europeus e norte-americanos tem sido decisiva. Em conferência dedicada a jovens acadêmicos em história da física este ano em Washington, no American Institute of Physics, cinco participantes tinham sido, ou ainda eram, meus alunos, isto em um total de uns 30 participantes.
Por fim, a pesquisa em ensino de física surgiu como decorrência do meu retorno à UFBa, motivado pela relevância social da melhoria do ensino de física. Esta pesquisa guarda relação com a anterior porque tenho trabalhado sobre o ensino de mecânica quântica e sobre os usos da história e da filosofia no ensino de ciências. Meus colaboradores neste tema têm sido Ileana Greca, hoje em Burgos, Marco Antonio Moreira e Elder Teixeira, que foi meu aluno de doutorado.
MP - Sua área de pesquisa e atuação colocam-no indiscutivelmente no que poderíamos denominar um “lugar transdisciplinar" da investigação acadêmica. A inter e a transdisciplinaridade tornaram-se palavras-chaves obrigatórias no vocabulário universitário, nas últimas décadas. Por outro lado, ocorreu também o que para mim parece ser uma vulgarização das aproximações trans-epistêmicas, com reiteradas (e superficiais) referências à Teoria do Caos e aos Quanta, no âmbito das Ciências Humanas. Você concorda que tem havido muita simplificação e até fraudes, nessas tentativas simplificadoras de aproximação de sistemas epistemológicos distintos? Até que ponto podemos falar de operacionalização conjunta ou paralela de sistemas epistêmicos distintos, em nossos esforços de compreensão do mundo que nos cerca?
OF - Certamente. Você tem toda razão. O caso Alan Sokal teve este ponto de partida, uma paródia e um embuste com o uso da terminologia das ciências físicas nos estudos culturais, embora depois tenha degenerado para uma guerra entre ciências da natureza e humanidades, sem saldos positivos. Particularmente, eu sou bastante cauteloso e acho que o que pode ser feito corretamente é a exploração de analogias e metáforas - inspiradas em conceitos de dada ciência – em um outro campo científico. Contudo, como toda analogia, ela só se revela eficácia se o seu uso no novo contexto aumenta o nosso entendimento dos fenômenos em questão. Caso contrário fica um palavreado vazio e que pode chegar a fraudes intelectuais. Um bom exemplo do uso adequado destas analogias e metáforas é o livro “Paisagens da História”, do historiador John Gaddis. Este tópico foi objeto de comentário mais estendido em um livro – “Ciências na transição do século” – que sairá pela EDUFBa ainda este ano. Por outro lado, muitos acadêmicos nas ciências da natureza e nas humanidades, têm hoje uma elevada expectativa sobre os estudos da complexidade. Eu sou, de novo, mais cauteloso. Os estudos da complexidade têm trazido resultados importantes em áreas específicas, particularmente em ciências da natureza e da informação, mas não podem ser apresentados como um novo paradigma da ciência. Não que a ciência tal qual existe hoje não possa sofrer uma mudança paradigmática, mas os estudos da complexidade ainda não mostraram muita força na compreensão de fenômenos sociais ou das humanidades, por exemplo.
“Os estudos da complexidade têm trazido resultados importantes em áreas específicas, (...) mas não podem ser apresentados como um novo paradigma da ciência.”
MP - O curso de Física registra um dos maiores índices de evasão dentre os cursos universitários. Costuma-se dizer que é muito fácil ingressar em um curso de Física, dada a baixa relação candidato/vaga, mas dificílimo sair dali com um diploma. A que você atribui esse alto índice de evasão e que conselhos você daria a um(a) jovem vestibulando(a) que se sentisse inclinado(a) a buscar o Instituto de Física, ao invés de um curso de Engenharia, dilema que parece ser recorrente dentre os que se defrontam com a escolha de um curso universitário e a perspectiva de uma carreira nas áreas das Ciências Físicas e Matemáticas?
OF - O problema essencial da evasão do curso de Física, e também das Licenciaturas em geral, é o baixo salário do professor da escola pública secundária e a inexistência de uma carreira que pelos salários e pela perspectiva de progressão, atraia jovens talentosos. O curso de Física é exigente, mas o estudante não percebe que este esforço vai lhe levar a uma colocação profissional, e por isto desiste. No Instituto de Física da UFBA nós conseguimos reduzir a evasão na última década, mas dos licenciados que saem poucos ficam na escola pública. Nós temos e devemos continuar lutando para melhorar a formação dos licenciados já formados. Eu integro, por exemplo, um esforço da Sociedade Brasileira de Física para a oferta de um Mestrado Profissional Nacional em Ensino de Física cuja primeira turma já está em funcionamento. Acho o programa PIBID da CAPES e suas bolsas um programa altamente meritório. Mas sem a mudança na carreira e nos salários isto deixará poucos resultados. Minhas esperanças hoje estão no novo Plano Nacional de Educação que tem como uma de suas metas assegurar ao licenciado salário inicial equivalente ao de profissional com o mesmo tempo de formação universitária. Mas, implantar o PNE é uma luta, que vai durar anos, e poderá ter retrocessos.
“O curso de Física é exigente, mas o estudante não percebe que este esforço vai lhe levar a uma colocação profissional, e por isto desiste.”
Quanto ao jovem que goste de Física, o meu conselho é mais simples e direto. Não pensem duas vezes, façam Física. Pode parecer contraditório com o que acabei de dizer mas não é. Primeiro porque profissão boa é aquela que você faz bem e com gosto, se possível com paixão. Segundo porque o número de físicos, bacharelado e licenciatura, formados no país é tão pequeno comparado com as necessidades e mesmo as oportunidades, que posso afirmar que um físico bem formado não ficará desempregado. Todos os meus colegas de graduação terminaram se colocando adequadamente em termos profissionais.
ACERVO
DISLIPIDEMIA
Aumento dos lipídios (gordura) no sangue, principalmente do colesterol e triglicerídeos. É considerado um fator de risco para doenças cardiovasculares devido à influência do colesterol. As causas primárias da dislipidemia são mutações genéticas únicas ou múltiplas e dentre as causas secundárias estão: ingestão excessiva de gordura saturada, sedentarismo, diabetes mellitus, dentre outros. São classificadas em: hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia isolada e dislipidemia mista. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Alcântara Neto, Osvaldo Dário de
Almeida Filho, Naomar Monteiro de
Fatores associados à dislipidemia em crianças e adolescentes de escolas públicas de Salvador, Bahia
Alcântara Neto, Osvaldo Dário de
Costa, Priscila Ribas de Farias
PINTURA
Arte e técnica de aplicar tintas sobre uma superfície, podendo esta ser tela, papel ou parede, com a finalidade de representar, esteticamente, seres, figuras, formas abstratas, etc. É uma das principais formas de representação da vida do ser humano desde o Renascimento e sua estrutura fundamental para constituir uma obra é composta pela relação entre as massas coloridas. Atualmente, além dos pintores convencionais, é valorizada também por designers, ilustradores, artistas gráficos, entre outros. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
A pintura baiana na transição do barroco ao neoclássico
A linguagem fotográfica e a pintura de artistas baianos no final do século XIX início do século XX
Fath, Telma Cristina Damasceno Silva
LINGUAGEM
Qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos ou gestuais. Dessa forma, pode ser classificada em linguagem verbal, que exige o uso da fala ou da escrita para se comunicar e compete apenas à espécie humana; e linguagem não verbal, que não utiliza de vocábulos para a comunicação, mas sim de imagens, figuras, desenhos, símbolos, mímicas, etc., a exemplo das placas de sinais de trânsito. O estudo científico da linguagem, em qualquer um de seus sentidos, é chamado linguística. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Transdiscursividades: linguagem, teorias e análises
A qualificação de surdos para o trabalho e o significativo papel da linguagem
Araújo, Maria Antonieta Nascimento
A oralidade e a identidade do educando: uma reflexão sobre a linguagem verbal e o seu uso pedagógico
Santos, Antônio Fernando Silva dos
Deixando o paraíso A emergência das representações e da linguagem: Comunicação preliminar
Muniz, Dinéa Maria Sobral
Souza, Eduardo Sande