N. 151
Nova seção no Alerta
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
A seção Diálogos se destina a fomentar a interação entre pesquisadores/autores, de distintas áreas do conhecimento, que disponibilizam o conteúdo de sua produção no Repositório Institucional da UFBA. Boa leitura!
Alerta é uma publicação do Núcleo de Disseminação do Conhecimento (NDC) e destina-se a divulgar a produção acadêmica da UFBA registrada no seu Repositório Institucional. O Núcleo foi criado e é mantido pelo Grupo Gestor do Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia (RI/UFBA). Para mais informações e para acessar todas as edições do Alerta, visite: www.ndc.ufba.br.
Em virtude das dificuldades de "diálogo" nesse período de paralisação das atividades na UFBA, faremos uma retrospectiva dos primeiros DIÁLOGOS
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Em busca do diálogo entre as Ciências
O professor Alberto Brum (AB) do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA) dialoga com a professora Maria Thereza Coelho (MT), do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos – IHAC/UFBA.
AB - Quando falamos de cidade nos vem à mente imediatamente a violência generalizada, particularmente de juventude e adolescentes, tendo certamente como pano de fundo a falta de instrução formal, justiça social e exclusão, fenômeno que nos afeta e permeia toda a sociedade brasileira. Percebe-se claramente o esgarçamento do tecido social e consequentemente os efeitos danosos que daí advém. Nossas prisões são verdadeiras escolas da degradação humana e fábrica de marginais mais violentos e cruéis. Qual a sua leitura de toda essa problemática à luz das Ciências Sociais? Há resposta adequada e solução para esse flagelo da modernidade? O que fazer?
MT - A transformação dessa realidade social que nos afeta requer um conjunto de ações integradas nos diversos setores da vida social. De um lado, é preciso repensar o modelo econômico e enfrentar os seus efeitos danosos, ou seja, combater a violência estrutural através da criação e implementação efetiva de políticas sociais que tenham a potência de minimizar as iniquidades, produzindo uma melhor distribuição de renda e condições de vida, com acesso à moradia, educação, saúde, emprego e transporte de qualidade. De outro, é preciso combater todas as demais violências através de políticas, programas e ações concretas, capazes de produzir transformações na violência física e/ou simbólica institucional, da mídia, familiar, doméstica, sexual, de gênero, étnico-racial, criminal, interpessoal enfim. As violências e, muitas vezes, a naturalização dessas violências, em determinadas situações, impossibilitam nosso desenvolvimento em um ambiente mais saudável e solidário.
AB - Na atualidade a população brasileira tem problemas sérios de saúde pública. Há sinais claros de ser uma população doente, nos seus vários aspectos individuais e coletivos, abarrotando os hospitais e postos de saúde em todo o Brasil. As Ciências Sociais certamente debruça sobre esse importante tema. Quais os aspectos estruturais, político, econômico e social para pelo menos equacionar e minorar essa vertente do nosso modelo político/econômico da contemporaneidade em que vive a população brasileira?
MT - Temos um bom projeto de sistema público de saúde e boas políticas de saúde, no Brasil, porém fatores diversos colaboram para a persistência de problemas sérios, apesar dos inegáveis avanços em alguns indicadores de saúde, como a diminuição da mortalidade infantil e materna, e da incidência de algumas doenças. Ao mesmo tempo, temos ainda alguns indicadores elevados de mortalidade e de adoecimento, se compararmos com os de outros países, e de agravos à saúde decorrentes da violência. Além disso, tais indicadores, quando estratificados por escolaridade, sexo, raça/cor, gênero e renda, por exemplo, mostram diferenças significativas de desigualdades na situação de saúde de nossa população, que refletem as desigualdades sociais, econômicas, culturais, políticas e de condições de vida em nosso país. Grande parte dessas iniquidades poderia ser evitada. Entre o que está escrito nas leis e nas políticas e o que está sendo praticado nos diversos âmbitos da saúde há, ainda, grande distância. Existem problemas diversos: subfinanciamento do sistema público de saúde, despreparo de alguns gestores e técnicos, precarização dos vínculos e das condições de trabalho, falta de uma política de pessoal e de um plano de carreira que atendam às expectativas e sejam justos socialmente, desintegração entre serviços e profissionais de diferentes unidades, dificuldades de acesso da população aos serviços de saúde, desequilíbrio na distribuição geográfica dos mesmos, distorção no fluxo de pessoas pelos serviços (produzindo sobrecarga nos hospitais), insuficiência da infraestrutura física, de trabalhadores e de materiais, enfim temos um conjunto de fatores que afeta a resolubilidade dos problemas de saúde de nossa população. Para além de tudo isso, temos um problema estrutural que é a existência de diferentes sistemas de saúde, com lógicas diferentes. Possuímos também modelos distintos de atenção à saúde, imersos em uma cultura hegemônica que opera a partir de uma conceitualização reduzida da saúde. Temos uma formação superior em saúde que não discute, de forma ampliada, estratégias para melhorar o nível de saúde da população. Faltam trabalhadores, gestores, educadores e atores políticos mais comprometidos com a transformação desse contexto socioeconômico e político, e que estejam implicados com a concepção ampliada da saúde, ou seja, com a perspectiva de que a saúde de uma população não depende apenas sequer do bom funcionamento do setor saúde, mas também de ações intersetoriais de promoção da saúde, que envolvam a educação, a segurança pública, o saneamento básico, a moradia, o lazer, o transporte, o emprego e a renda, o modo e a qualidade de vida da população. É preciso fazer, portanto, com que a lógica dominante do sistema caminhe na direção do bem-estar de todos.
AB - Qual a sua apreciação sobre a aparente contradição de termos um SUS com reconhecimento inclusive internacional e ao mesmo tempo ter esse quadro lamentável no que diz respeito ao atendimento cotidiano em nossos hospitais? O que há de errado e porque não funciona adequadamente?
TC - O SUS tem colaborado muito para a melhoria do nível de saúde de nossa população e é um dos poucos sistemas de saúde no mundo que atende de forma integral a toda a população, através não só de ações de cura, mas também de reabilitação, prevenção, promoção da saúde, vigilância sanitária, vigilância epidemiológica e ações de educação em saúde. O SUS merece o reconhecimento internacional que possui. Os seus problemas não decorrem do seu modelo proposto, mas do que está sendo executado. Temos serviços e ações de saúde prestadas pelo SUS em nível de excelência, que não encontramos inclusive no sistema privado, nem com a mesma cobertura e qualidade em muitos países, a exemplo de ações de imunização, transplantes de órgãos, prevenção e tratamento do HIV/AIDS, dentre outros. A despeito disso, temos um sistema público com subfinanciamento e insuficiência de serviços, recursos materiais e de pessoal, a necessidade de elevar a qualidade do cuidado humano prestado aos usuários, ao tempo em que temos a delegação de serviços ao setor privado, o financiamento de hospitais e sistemas privados com recursos públicos, e o fortalecimento da gestão privada de serviços públicos. Os problemas existentes em nível de atendimento hospitalar decorrem, assim, de todos esses fatores que, somados às dificuldades de acesso e resolubilidade dos problemas nos níveis da atenção básica e especializada, acarretam a elevada procura da população por serviços hospitalares, quando, muitas vezes, seus problemas poderiam ser resolvidos, a princípio, em serviços de menor complexidade. Como se não bastasse isso, temos um modelo de atenção à saúde dominante que privilegia a doença e as ações de cura, em detrimento das ações de prevenção e de promoção da saúde, que teriam o poder de diminuir a carga de doenças e agravos e, assim, colaborar para a elevação da qualidade do atendimento hospitalar e do nível de saúde da população.
AB - Nos seus competentes estudos sobre a violência juvenil em nossas cidades, certamente relacionados às drogas, o tráfico e a delinquência que corroem a nossa juventude em grande parte por essa mesma juventude estar fora da escola e talvez com a ausência do estado em muitas localidades. Qual o seu olhar para essa problemática?
MT - De um lado, temos uma falta de ações resolutivas do Estado em muitos locais de nosso país, que vão da ausência do planejamento familiar à falta de garantia da qualidade de vida da população, o que envolve diversos aspectos, como já falado. Em locais onde as ações do estado são mínimas, surgem mais facilmente a violência, o tráfico de drogas e os comandos paralelos. Grande parte de nossas crianças está fora da escola. Pode estar até matriculada, mas está fora da escola. Não cria vínculos nela, não a frequenta, não estuda, não se sociabiliza na escola, por diversos e complexos fatores. Entretanto, não podemos reduzir essa questão à ausência do Estado apenas, pois temos uma forte indústria internacional atuando mundialmente no lucrativo mercado das drogas e temos também uma ausência de ações efetivas da sociedade civil, desde o abandono dessas crianças e jovens pela família (considerando como família aquela formada não apenas por laços consanguíneos), que compromete o desenvolvimento dos sentimentos e laços afetivos com o outro, até o pouco acompanhamento e participação dos cidadãos nos assuntos de interesse público, capazes de impactar nas trajetórias de nossos jovens, como a participação no planejamento, na gestão e na realização de ações públicas, nas esferas da educação, da saúde e da iniciação ao trabalho, por exemplo.
AB - Thereza gostaria de sua opinião crítica sobre os Bacharelados Interdisciplinares. Atende à modernidade que a UFBA precisa alcançar? Realmente é uma solução inicial para as deficiências que vêm do segundo grau na formação de nosso alunado, ou tem um propósito muito mais amplo e abrangente e que requer um aperfeiçoamento dinâmico, constante e de grande envergadura para alcançar seus objetivos?
MT - Os bacharelados interdisciplinares integram um conjunto de proposições importantes para reformar a universidade e reestruturar a formação acadêmica superior em regime de ciclos, na direção da ampliação da democratização do ensino e de uma formação mais enriquecida. Mais do que buscar solucionar as deficiências oriundas do ensino médio, atuam junto às deficiências do ensino superior, através de uma formação intelectual pautada pela reflexão crítica e dialogada com os saberes da filosofia, das ciências, das tecnologias e das artes, perpassada por uma reflexão ética que possibilita uma atuação mais cidadã e sensível aos desafios de construção de uma sociedade mais justa. Atendem aos anseios da modernidade e buscam aprimorar a realidade educacional e social, sem a pretensão de ser solução única. Requerem um aperfeiçoamento contínuo, para se manterem sintonizados com as necessidades do mundo atual, em constante transformação. Ao mesmo tempo em que são um curso de graduação plena e possuem terminalidade própria, os bacharelados interdisciplinares fazem parte de uma proposta de educação superior segundo a qual eles constituem o primeiro ciclo de uma trajetória que pode prosseguir através do segundo ciclo (curso de graduação profissionalizante) e/ou do terceiro ciclo (curso de pós-graduação), de modo a formar bacharéis e futuros profissionais e/ou pesquisadores mais preparados para os novos problemas e desafios contemporâneos, cada vez mais complexos em nossa sociedade. Para tanto, é necessária ampla articulação com os cursos profissionalizantes e de pós já existentes, desde o momento em que os alunos dos bacharelados interdisciplinares transitam pelas diversas unidades da Universidade, para cursarem componentes curriculares originalmente de outras graduações ou pós-graduações, até o momento posterior à passagem para os cursos profissionalizantes ou programas de pós-graduação, em caso de continuidade dos estudos. A maioria dos alunos dos bacharelados interdisciplinares inicia, após o término do curso, um outro, profissionalizante. Durante o bacharelado interdisciplinar, fazem uma escolha profissional com mais elementos e experiências que subsidiam essa escolha, que pode ser nova, ou alterar, ou confirmar uma intenção prévia. Há também alunos nos bacharelados interdisciplinares que migram diretamente para cursos de pós-graduação e outros que são profissionais já formados e atuantes no mercado, que querem ou mudar de profissão ou ampliar a sua formação e continuar atuando em suas áreas de origem, com maior preparo, superando algumas limitações da formação prévia. No que diz respeito especificamente às deficiências do ensino médio, é preciso reestruturar e investir no ensino fundamental e médio, na formação de seus docentes, no plano de carreira, nos currículos, na infraestrutura e nas condições de acesso da população às escolas, para que sejam minorados os problemas existentes e realmente atingidos os resultados desejados, não só em termos de indicadores, mas de uma educação de qualidade, capaz de formar sujeitos críticos, reflexivos e atuantes diante da realidade que os constitui e que pode ser transformada.
AB - Thereza qual a sua opinião sobre a diminuição da maioridade penal e impunidade e sua suposta eficácia na diminuição dos índices da criminalidade na atualidade.
MT - O problema da criminalidade em nossa sociedade requer um olhar mais ampliado e um deslocamento do eixo da repressão e punição para o da prevenção. Não considero como eficaz qualquer proposta que pretenda diminuir a criminalidade através da ameaça da punição. Se tal ameaça tivesse esse alcance já teríamos atingido esse objetivo, sem cogitar a diminuição da maioridade penal. Não sou a favor da impunidade, mas isso não vai resolver o problema da criminalidade, ainda mais porque o nosso sistema prisional já há muito vem se mostrando incapaz de resolver esse problema, apresentando altos indicadores de reincidência criminal de pessoas que foram anteriormente privadas de liberdade. Se queremos diminuir a criminalidade, temos que investir em ações concretas e efetivas de transformação de nossa realidade social, com melhoria das condições de vida, ampliação do acesso da população à educação de qualidade, saúde, trabalho, moradia, transporte, emprego e renda, com igualdade de oportunidades e justiça social. Sem isso, qualquer proposta estará fadada ao fracasso.
ACERVO
Corais
Animais cnidários da classe Anthozoa que segregam um exoesqueleto calcário ou de matéria orgânica. Podem constituir colônias coloridas e formar recifes de grandes dimensões que abrigam um ecossistema com uma grande biodiversidade e produtividade. Os corais adultos são pólipos individuais ou coloniais e encontram-se em todos os oceanos. A maioria das espécies que constroem recifes desenvolve-se em águas tropicais e subtropicais, mas pode-se encontrar pequenas colônias de corais até em águas frias, como ao largo da Noruega. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Oliveira, Marília de Dirceu Machado de
Leão, Zelinda Margarida Andrade Nery
Oliveira, Marília de Dirceu Machado de
Leão, Zelinda Margarida de Andrade Nery
Capital humano
Sua noção surgiu na década de 1950, na área de Economia, nos Estados Unidos, atribuindo ao investimento da formação educacional e profissional de uma população o principal pressuposto do desenvolvimento econômico de um país. É o conjunto de capacidade, conhecimentos, competências e atributos de personalidade que favorecem a realização da força de trabalho de modo a garantir hegemonia e valor econômico de uma instituição. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Aproximação teórico-empírica: estoque de capital humano na Bahia - período 1990-2002.
Os retornos do capital humano na Região Metropolitana de Salvador
A relação capital-trabalho na economia do conhecimento
O Diálogo entre economia e educação como chave para entendimento da aquisição da qualificação
Censura
É uma forma de restrição da liberdade e do conhecimento, normalmente exercida por um regime ditatorial, usada pelo Estado ou grupo de poder no intuito de controlar e impedira circulação de informação. Seu propósito é a manutenção do status quo, evitando alterações de pensamento num determinado grupo e a consequente vontade de mudança. Com a censura, pode-se criminalizar certas ações de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação (através da música, televisão, cinema, etc.), como ocorreu no Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980, no período da Ditadura Militar, ou como ocorre atualmente, por exemplo, no sentido de impedir que conteúdos impróprios sejam disponíveis a crianças. No RI/UFBA você encontra diversos trabalhos acadêmicos sobre este tema, entre os quais:
Edição do texto e estudo de linguagem proibida em malandragem made in Bahia, de Antônio Cerqueira
Tempos de Vargas: o rádio e o controle da informação
Jambeiro, Othon
Mota, Amanda
Ribeiro, Andrea
Amaral, Clarissa
Simões, Cassiano
Costa, Eliane
Brito, Fabiano
Ferreira, Sandro
Santos, Suzy dos
Amaral, Clarissa Maria de Azevedo
Imprensa e informação no Brasil, século XIX
A dramaturgia de João Augusto: edição crítica de textos produzidos na época da ditadura militar